A cleptocracia é um estado governado por ladrões, pessoas que tomam de
assalto o poder e que o usam para extrair renda da população em benefício
próprio e de seus interesses particulares. As cleptocracias existentes em
vários estados-nação buscam privilégios e vantagens para os parentes e amigos
daqueles que dominam o poder político. Os cleptocratas se apropriam do poder
para fins particularistas e servem-se dos recursos públicos. Especialmente
quando não há transparência e controle social externo, praticam-se malfeitos e
atos desonestos. Os sistemas de investigação e de comunicação têm trazido tais
desvios à luz do dia.
Em seu livro “Armas, Germes e Aço”, Jared Diamond escreve sobre as
cleptocracias modernas. Ele observa que “A centralização do poder
inevitavelmente abre a porta - para aqueles que detêm o poder, a informação,
tomam as decisões e redistribuem os bens - para explorar as oportunidades
resultantes de se premiarem e a seus parentes”. [1]
Em todo o mundo, em todos os níveis de governo, dos nacionais aos
locais, existe a corrupção. As relações corruptas priorizam os interesses e a
segurança particulares em detrimento do interesse público, coletivo, comum.
Relação ecológica desarmônica: o predador ataca e se nutre de sua presa |
A corrupção pode ser abordada a partir da ecologia.[2] As relações ecológicas podem ser harmônicas ou desarmônicas: simbiose e
comensalismo são tipos de relação harmônica; já a predação e o parasitismo são
tipos de relações desarmônicas. A corrupção é uma forma extrema de parasitismo
social, combinada com a predação. Administradores e governantes corruptos são
predadores que atacam suas presas e se nutrem delas. Com astúcia e esperteza
parasitam seu hospedeiro e extraem dele vantagens e benefícios pessoais. O
parasita social suga a sociedade na qual se hospeda, a explora e vive à sua
custa; se beneficia dela e a enfraquece quando extrai e se apropria de seus
recursos em proveito próprio. Atua como sanguessuga, ao causar sangria nos
cofres públicos. Em cleptocracias, os parasitas se incrustam em nichos do
estado, nos quais se locupletam e usufruem de vantagens pessoais. O corruptor e
o corrompido se apropriam de recursos coletivos. O sistema público é capturado
por interesses privados e particulares e a corrupção se dissemina.
Carrapatos praticam o parasitismo |
Se parasitismo e predação são relações naturais, também são naturais as
estratégias de defesa dos organismos contra predadores e parasitas. Se o
predador e o parasita desenvolvem formas astuciosas de agir, também as presas e
os hospedeiros concebem maneiras criativas de se livrar dos ataques e se
proteger. A possibilidade de se estruturar uma sociedade menos corrupta depende
de ações de fortalecimento social do hospedeiro/presa e de enfraquecimento dos
corruptores e corrompidos, os parasitas/predadores. Entre as condições que
dificultam a corrupção relacionam-se a punição e a existência de riscos; a
força das instituições, com o bom funcionamento dos poderes judiciário,
legislativo e executivo; a boa gestão pública, com probidade e competência
técnica; um sistema eleitoral que funcione adequadamente, uma sociedade atenta;
empresas honestas, o hábito do cumprimento de regras, normas e leis,
periodicamente aprimoradas. O inconformismo social inibe o aumento da atividade
de parasitas e predadores. A luz da transparência e da informação aberta também
podem ajudar numa política mais limpa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário