A gestão das águas pode dar-se em várias escalas, da global até a individual. Em cada uma dessas escalas há atitudes, comportamentos
e práticas de gestão das águas que podem contribuir para a saúde, a segurança e
o bem estar de indivíduos e coletividades.
Figura 1- Escalas da gestão das águas, do indivíduo ao planeta. Fonte: Pierre Dansereau. |
Cada profissional percebe o ambiente e a água a partir de seu
filtro de formação e educação, seus condicionamentos técnicos e culturais, crenças,
interesses e valores.
Figura 2 – Diferentes percepções de uma mesma paisagem por atores com diferentes formações e atividades. Fonte: Pierre Dansereau. |
A boa gestão das águas precisa se apoiar em profissionais
capacitados para atuar nos múltiplos aspectos técnicos, econômicos, de
administração, culturais e sociais.
Para tanto é necessária a formação de profissionais hidroconscientes,
com capacidades de percepção e de ação inter e transdisciplinar.
Quais as profissões que devem ser “hidratadas” ou seja, que
devem inserir o tema da água desde a formação acadêmica até a prática
profissional?
Várias profissões com formação universitária têm contribuições a
dar na gestão das águas. Essa breve relação a seguir, apresentada em ordem
alfabética não é exaustiva e traz alguns exemplos:
1. Advogado - versado em Direito das águas e capaz de atuar na
elaboração de leis e normas específicas, bem como no contencioso e nas questões
jurídicas que frequentemente envolvem a gestão das águas; atuar em suas
relações com a justiça e o Ministério Público. Atua em procuradorias
ambientais, em empresas, em organizações civis, considerado o caráter
específico do trabalho do advogado na gestão das águas.
2. Arquiteto - articula soluções arquitetônicas, urbanísticas e de
design a partir da confluência de conhecimentos das Ciências Exatas, Sociais e
das Artes. Projetos com soluções arquitetônicas hidroconscientes,
aproveitamento de água de chuva, equipamentos que conservem água, design de
equipamentos hidroeficientes; no paisagismo e
nos jardins, projetos com conhecimento de espécies que demandem pouca
água; no urbanismo hidroconsciente, produzir cidades amigáveis em relação à
água, parques lineares em fundos de
vale, parques em encostas sujeitas a erosão; integração de uso e ocupação do
solo , prevenir impermeabilização do solo, proteção de áreas de recarga de
aquíferos.
3. Artista- expressão sobre
a água por meio da música, teatro, pintura, artes plásticas, cinema,
fotografia, literatura, multimídia, humor, poesia com grande capacidade de
sensibilização e de formação da consciência.
4. Astrônomo – a presença da água no cosmos, origem cósmica da água
na Terra, influencias da gravitação sobre marés, seivas de árvores etc.
5. Biólogo – desenvolve estudos e interpreta dados da fauna e flora
aquática, a vida em áreas úmidas, as poluições das aguas e seus impactos sobre
a vida, cianobactérias, eutrofização, elementos para a educação para as águas.
6. Botânico – conhecimento sobre espécies de vegetação que demandam
menos agua, utilizáveis no paisagismo.
7.
Cientista político- conflitos
e disputas políticas pela água. Segurança hídrica e segurança social e pública.
8.
Climatologista - as mudanças
climáticas e como afetam o ciclo integral da água; segurança hídrica.
9. Comunicador ou jornalista - formação e educação para as águas a
partir da mídia.
1Economista - economia
ecológica e hídrica, a sustentabilidade hídrica, quantificação de desperdícios
e meios para conservação de água, concepção e o uso de instrumentos econômicos
tais como a cobrança pelo uso da agua e os pagamentos por serviços ambientais.
1Engenheiro agrônomo - proteção das aguas, das nascentes, da
qualidade do solo, da prevenção à poluição de águas subterrâneas; métodos e
práticas de irrigação mais hidroeficientes e conservativos de água.
1Engenheiros civil, mecânico, químico, metalurgista, de segurança
– compreensão de processos industriais e impactos das atividades industriais
sobre a demanda de água, conceber formas de controle da poluição das águas e orientar
os agentes poluidores das águas. Construções e edificações hidroconscientes.
1 Engenheiro florestal - gestão e ao planejamento das relações água-
solo-floresta.
1Engenheiro sanitarista - saneamento
básico e ambiental, abastecimento de agua, gestão do esgotamento sanitário,
limpeza urbana, coleta e disposição final de resíduos, reciclagem de materiais
e seus efeitos sobre as águas.
1Engenheiro de transporte hidroviário - interlocutor dos planejadores de transportes e
de obras de infraestrutura tais como barragens com eclusas. Minimizar os impactos
ambientais do transporte hidroviário.
1 Filósofo – as concepções filosóficas sobre as águas.
1 Físico- propriedades físicas da água.
1 Geólogo e hidro geólogo -
aguas subterrâneas, lençóis freáticos, áreas de recarga de aquíferos,
uso e ocupação do solo, riscos geológicos de deslizamentos de encostas e áreas
frágeis.
1 Geógrafo – articulação das questões do espaço urbano, rural e
aspectos demográficos com a segurança hídrica. Gestão territorial
hidroconsciente. Aplicação hidroconsciente dos instrumentos de planejamento
territorial. Gestão de bacias hidrográficas.
2 Hidrólogo – dar respostas aos complexos problemas da gestão das
águas, dominar os instrumentos de gestão legais.
Médico – identificação dos impactos sobre a saúde humana
causados pela má qualidade das águas, as doenças de veiculação hídrica e dos desequilíbrios
ambientais; a medicina social e comunitária. Saúde ambiental e saúde humana.
2 Meteorologista – a presença da água na atmosfera. Eventos
críticos e seus impactos.
2 Professor, pedagogo – introdução do tema da água nas disciplinas
que ministra, desenvolvimento de métodos criativos e motivadores de educação
para a água.
2 Psicólogo - psicologia ambiental e comunitária, percepção sobre
as águas, importante fator para o êxito de políticas de educação ambiental.
2 Químico – H2O, composição química do elemento água.
2 Sociólogo – compreensão da realidade social e comunitária e percepção
social sobre as águas. Mitos sociais sobre as águas.
2Teólogo – cosmovisões e a presença das águas nas tradições
espirituais. As águas sagradas.
Profissionais sem
formação universitária, com formação técnica, de nível médio ou com educação
básica também precisam ser hidroconscientes.
Quando cada cidadão em sua atividade e em sua vida cotidiana desalienar-se em sua relação
com a água, isso tornará mais amigáveis seus comportamentos e atitudes de modo a reduzir a demanda e os desperdícios de água.
Profissionais adequadamente formados podem atender as demandas
da gestão da agua em órgãos componentes do sistema de recursos hídricos ou em
outras entidades, empresas e organizações sociais na administração pública
federal, estadual e municipal, em comitês de bacias, prefeituras, associações
de municípios, consórcios. Conselhos de recursos hídricos e comitês de bacias
precisam ter sustentação em trabalho permanente e qualificado de pessoal
técnico, jurídico e administrativo.
A gestão das águas demanda ativismo e vontade política,
esclarecida e iluminada por conhecimento técnico e científico, bem como por
princípios e valores éticos.
As associações profissionais, os sindicatos e o sistema
educacional, do ensino básico até a universidade, têm importante papel nesse
trabalho de formação.
Ao se hidratarem as formações acadêmicas, reduz-se a
hidroalienação média da sociedade e expande-se a hidroconsciência dos cidadãos, essencial para que se evolua para
uma sociedade mais amigável em sua relação com a água.
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