Maurício Andrés Ribeiro
Várias sociedades
colapsaram ao não se relacionarem harmonicamente com a vegetação e com a água. Jared Diamond,
em seu livro Colapso, estuda várias
ilhas: o Japão, Dominica, a ilha onde se situam Haiti e Republica Dominicana, Tikopia,
a ilha de Páscoa. Esta última era um
ecossistema frágil coberto por palmeiras gigantes e habitado desde o século
VIII. Ele pergunta: como pôde aquela sociedade tomar uma decisão
desastrosamente tão óbvia, a de cortar todas as árvores das quais dependia?
Entre 1200 e 1500 d.C. os chefes tribais competiam para
construir a maior estátua de pedra (moai) para agradar aos deuses e para
seu próprio status. Disso resultou a
sobre-exploração dos recursos e o desflorestamento da ilha, pois as palmeiras
altas lá existentes eram usadas para produzir cordas grossas feitas de casca
fibrosa de árvores, alavancas e demais apetrechos necessários para esculpir,
transportar e erigir as estátuas. Resultaram disso a eliminação da fauna e dos
cursos d’água, a perda das condições de abastecimento alimentar e da capacidade
de suporte do ambiente, com a fome, a consequente eclosão de conflitos
violentos, instabilidade política e canibalização entre os grupos. A ilha de Páscoa
entrou em colapso por causa da associação entre fragilidade ambiental e
impossibilidade de emigrar, devido à localização distante, combinada com
fatores humanos: poder, competição entre clãs e chefes que sucumbiram a seus
interesses e percepções imediatos e levaram à construção de estátuas maiores,
requerendo mais madeira, cordas e alimentos. Houve falta de sensibilidade e
percepção sobre a importância das florestas. No século XVIII, quando ali
chegaram os navegadores espanhóis, a
ilha tinha poucas árvores, poucos habitantes e mais de 880 moais, as estátuas gigantescas de pedra.
Jared Diamond pergunta
por que algumas sociedades demonstram tal estupidez autodestrutiva. Ele ensaia
algumas respostas: quando a situação é nova e faltam experiências prévias, elas
não percebem e falham ao tentar resolver os problemas. Nas sociedades que
colapsam, aqueles que cometem atos destruidores são altamente motivados pela
perspectiva de ter prestígio e status; também são motivados pela ganância de
terem lucros imediatos, enquanto as perdas recaem sobre grande número de
indivíduos. Ao apontar a crença equivocada de que a elite pode manter-se imune
aos problemas da sociedade no entorno, ele adverte que os ricos não asseguram
seu próprio interesse e os de seus filhos se governam uma sociedade em colapso;
eles simplesmente compram, para si próprios, o privilégio de serem os últimos a
passar fome e morrer. Quando as elites tendem a defender o interesse próprio,
provocando o mal para os outros, atuam de modo racionalmente correto, mas
moralmente repreensível.
Ele aponta dois
principais caminhos para terem sucesso: de cima para baixo (o caminho dos
xoguns japoneses), com planejamento de longo prazo e vontade de reconsiderar
valores dominantes. O caminho de baixo para cima, a partir de ações locais,
superando as falhas de percepção que ocorrem quando os governantes estão
distantes; é relevante que as elites não se isolem das consequências de suas
ações, tal como fazem os holandeses, pois se um dique romper, todos podem se
afogar. É fundamental a audácia, a coragem para olhar os problemas no longo
prazo e agir de modo antecipatório, antes que haja a crise. Finalmente, quando
os tempos mudam, a sociedade deve saber a quais valores se apegar e quais deve
descartar e substituir por novos valores.
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