Maurício Andrés Ribeiro
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Figura – Múltiplas dimensões da segurança: a segurança hídrica é uma delas |
A segurança tem muitas dimensões: da militar à política,
da social à econômica, da cultural à psicológica e afetiva. A segurança comunitária, doméstica, na escola, do trabalho, de instalações,
a segurança da informação, a segurança pessoal ou a condominial são outros
aspectos. Há uma dimensão cósmica da segurança humana, já que a Terra está
sujeita a colisões de corpos celestes, com potencial para provocar
catástrofes.
No Brasil, a violência urbana e rural tornam relevantes as
questões de segurança coletiva e pública, que atemorizam a sociedade e dominam
o noticiário na tevê, rádios e jornais, além de demandarem ações em várias
esferas dos governos, do executivo ao legislativo ao judiciário e ao ministério
público.
Os aspectos da segurança nacional e da segurança pública envolvem
forças militares ou policiais. Guerras e conflitos violentos afetam a segurança
internacional.
No mundo contemporâneo eclodem novas ameaças à segurança
humana, contra as quais a força policial é inócua e são inúteis os sistemas de
defesa nacional, os orçamentos militares ou armamentos sofisticados. Cada vez
mais, os riscos à segurança das pessoas e das coletividades relacionam-se com
questões de ordem ambiental, climática e de eventos críticos relacionados com a
água. Processos climáticos de escala macro – como o fenômeno El Nino, com o
aquecimento das águas do oceano Pacífico – e em escala microclimática – como o
aumento de precipitações de chuva e do escoamento superficial de águas, devido
a mudanças na cobertura vegetal – fazem aumentar tais riscos.
A água não levanta questões de segurança enquanto existe em
boa qualidade e quantidade, seu fluxo é previsível e controlado. Emerge a dimensão da segurança quando começa a faltar, nas secas ( aumentando os riscos de incendios florestais) ou a sobrar nas enchentes e a causar riscos, como
por exemplo no rompimento de barragens.
Nos vários campos do conhecimento, há conceitos distintos que
relacionam a água à segurança. Alguns se referem à segurança no abastecimento
permanente de água para uma comunidade; outros se referem à segurança de quem
bebe a água, que precisa ser de boa qualidade para as pessoas não adoecerem;
outros se referem à segurança de suprimento de água para produzir alimentos. Segurança hídrica é diferente de segurança da água, que é diferente de segurança de barragens.
A agricultura é um dos usuários
que mais demanda água para suas atividades. Como a água é parte integrante de
todos os alimentos e é essencial durante todo o ciclo de sua produção, a
falta de água pode comprometer a segurança alimentar e a capacidade da sociedade
em garantir acesso em quantidade e qualidade suficiente aos alimentos.
A produção de alimentos e a segurança alimentar são
dependentes da disponibilidade de água para irrigar as lavouras e culturas.
A água afeta a segurança
energética, especialmente no Brasil, país com sua matriz baseada na
hidroeletricidade. A falta de água afeta
a operação de reservatórios e usinas hidrelétricas. Seu excesso pode significar
riscos para a segurança das pessoas que moram a jusante de barragens, que podem
se romper e causar prejuízos sociais e econômicos.
As empresas seguradoras são, na economia, o segmento que percebe de imediato os riscos associados ao clima. Muitas regiões sujeitas a enchentes ou a incêndios, passam a ser inseguráveis.
Eventos climáticos extremos
associados ao ciclo da água, tais como secas, furacões, temporais, tendem a
ocorrer com maior intensidade e frequência. Cada vez haverá mais áreas com
risco de enchentes, inundações, deslizamentos de encostas. Isso aumenta a
possibilidade de que, caso elas sejam ocupadas temerariamente, ocorram
prejuízos sociais, econômicos e de vidas humanas, especialmente para os mais
pobres e vulneráveis, que têm menores condições de acesso a áreas seguras. Com
as instabilidades do clima, a segurança hídrica torna-se cada vez mais uma dimensão
relevante da segurança humana.
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