sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Temas emergentes sobre a água no Brasil



Maurício Andrés Ribeiro
No Brasil, historicamente  houve abundância de água. Secas eram um fenômeno tipicamente nordestino.
 Desde 2012 a crise hídrica atingiu vastas regiões no sudeste e no centro oeste do país.  Secas e enchentes atingem parcela expressiva da população brasileira e têm ocupado crescentes espaço na imprensa.
A água tornou-se  assunto frequente  de manchetes na grande imprensa.
A situação de crise  hídrica se distribui  de modo desigual: no nordeste há muitos rios em situação crítica, pouca chuva e alta evapotranspiração; no sudeste, há alta demanda de agua e poluição, e insegurança hídrica no abastecimento nas regiões metropolitanas devido à alta demanda; no sul do país há estresse hídrico devido à alta  demanda para irrigação  de arroz.  No Distrito Federal, há combinação de falta de chuva com alta demanda.
Estima-se que mais de 16,5 mil quilometros de rios federais ( aqueles que cortam mais de um estado, que fazem  divisa entre estados e com os países vizinhos) encontram-se em situações de conflito.
No Brasil há 16,5mil km de rios federais com situações de conflitos.

O que levou à  atual crise hídrica no Brasil?
A crise da água resulta de uma combinação de causas locais, regionais e globais que provocam mudanças no ciclo da água, no regime de chuvas e na vazão dos rios.
Entre as causas locais que afetam a disponibilidade de água, estão o bombeamento intenso de água subterrânea para diversos fins e especialmente para a agricultura irrigada, que rebaixa os aquiferos, reduz o volume  das águas na superficie e torna intermitentes ou efêmeros rios que antes tinham um fluxo permanente. Outra causa é o desmatamento e a retirada da vegetação natural para o plantio extensivo ou para a pecuária, o que desprotege nascentes, afeta o ciclo da água e reduz a estocagem natural de água no solo, o que é importante para realimentar os cursos dágua. Outras causas são a ocupação ilegal do solo, a urbanização descontrolada, o uso do solo ganancioso, a grilagem de terras, a ocupação de áreas de recargas de aquíferos, o despejo de lixo e esgoto nos rios etc.
Desperdícios e perdas no uso e nos sistemas de abastecimento reduzem a oferta de água.
A crise pode ser agravada pela gestão temerária e a imprevidência de empresas de saneamento, que privilegiam alguns stakeholders (investidores/capitalistas/acionistas) e não priorizam investimentos em obras de infraestrutura para captação de água.
Há causas globais que influenciam na crise hidrica brasileira. Assim,  por exemplo, o El Nino, com o aquecimento das águas do Pacífico e suas consequências, tais como maiores secas no nordeste e inundações no sul do Brasil. As mudanças climáticas têm efeitos locais: séries estacionárias de dados que historicamente se mantinham e embasavam a tomada de decisão sobre investimentos em infraestrutura hídrica se tornam irregulares e médias de chuvas históricas não mais ocorrem. Novos normais se instalam.
Há causas de escala continental na América do Sul, bem explicadas por Antonio Donato Nobre, o principal cientista formulador e divulgador da conexão amazonia-seca no sudeste.  A floresta amazonica funciona como uma bomba hidrica, com a evapotranspiração e os ventos que sopram do Atlantico para o oeste. Formam-se os chamados rios voadores,  que  transporta a umidade pelos ventos e que ao atingir a cordilheira dos  Andes, se desvia para o sul e aumenta as chuvas no Brasil central e no sudeste .  O desmatamento na Amazônia para a pecuária e monocultura extensiva de soja enfraquece os rios voadores que trazem umidade para o centro oeste e o sudeste do Brasil e reduz o volume de chuvas.

A importância da floresta amazônica para as chuvas no Brasil central e no sudeste é crescentemente compreendida.
Aos poucos esses conhecimentos extravasam dos meios científicos para a consciência dos gestores de empresas de saneamento e gestores da água e para a sociedade. 
A crise da água que se vive no  Brasil gerou um subproduto positivo: a água se tornou um assunto relevante e passou a merecer atenção e estudos.  Isso contribui para a aprendizagem, a superação do déficit de consciência e conhecimento, a hidroalienação e o hidro analfabetismo.Os limites do conhecimento governamental e acadêmico se evidenciaram. Novos atores passaram a ser protagonistas no tema, a exemplo de várias organizações da sociedade civil, que fortaleceram suas agendas da agua. Várias ONGs se associaram, como por exemplo a Aliança pela água que propôs um conjunto de ações para lidar com a crise hídrica, várias delas voltadas para uso de instrumentos econômicos, tais como incentivos, multas e taxas de contingencia para desestimular o consumo. Do mesmo modo, no mundo, vários movimentos e ONGs têm trabalhado em ações para salvaguardar o ciclo integral da água. Lidar com a crise hídrica exige uma visao holística, integradora e ao mesmo tempo uma capacidade de ação operacional que responda a cada realidade local.

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