Maurício Andrés Ribeiro
A pandemia que acontece em 2020 produziu vários efeitos colaterais. Entre eles, destaca-se a redução do numero, frequência e intensidade de viagens.
O viajismo é uma forma de consumismo de serviços que acontece quando pessoas se deslocam de um local para outro. Viajar compulsivamente é uma normose social que pode tornar-se um vício pessoal.
A pandemia que acontece em 2020 produziu vários efeitos colaterais. Entre eles, destaca-se a redução do numero, frequência e intensidade de viagens.
O viajismo é uma forma de consumismo de serviços que acontece quando pessoas se deslocam de um local para outro. Viajar compulsivamente é uma normose social que pode tornar-se um vício pessoal.
Homo turisticus |
O homo
turisticus sai de seu lugar de origem e se desloca para onde haja situações
de seu interesse. Há o turismo de
convenções e de negócios, o cultural, o cívico, o de aventuras, o sexual, o
ecológico, o rural, etc.
Homo photographus |
Cada turista se tornou um homo photographus. Com uma câmera, um tablet
ou um telefone celular em mãos, fotografa o que lhe chama a atenção, capturando
múltiplas imagens dos lugares por onde passa.
Cidades como Nova Iorque, Paris, Roma,
Florença, Veneza e, Lisboa, o Porto, atraem multidões de turistas, que invadem
as ruas e espaços públicos. Andam pelas ruas e esperam em filas para
acessarem museus e outros locais atraentes. Organizados em grupos, seguem as
bandeiras de seus líderes para não se perderem.
Com o envelhecimento da população, um tipo cada vez mais frequente é o turista geriátrico, que usa sua aposentadoria, poupança ou patrimônio em viagens pelo mundo. Tal tipo de turismo movimenta milhões de pessoas e impulsiona a economia. É positivo para a saúde individual, pois os idosos caminham, se exercitam, conhecem pessoas, lugares e coisas diferentes, animam e alegram suas vidas.
Mas o viajismo excessivo tem altos custos.
Mas o viajismo excessivo tem altos custos.
Gentrificação ou sobrevalorização de imóveis,
expulsão de populações locais para ceder espaço a alojamentos para turistas são
problemas locais provocados pelo turismo excessivo, que estressa a capacidade
de suporte do ambiente local e pode matar a galinha dos ovos de ouro que traz
receitas e renda.
O excesso de turismo em algumas cidades
tem gerado a turismofobia. Em Lisboa, o termo terremoturismo compara o efeito
do grande terremoto de Lisboa aos impactos hoje provocados pelas ondas de
turistas.
O turismo traz consequências
negativas para a saúde ambiental. Uma viagem implica em deslocamentos no
espaço, provoca gastos de energia e impactos ambientais. O transporte de
pessoas e de cargas é uma atividade humana que impacta o clima, especialmente
quando utiliza combustíveis fósseis cuja produção, refino e queima liberam
gases de efeito estufa.
Cada modo de transporte provoca impactos específicos.
Um viajante que se desloca num trem pode emitir três vezes menos gás carbônico
do que aquele que viaja de avião num mesmo trajeto. A aviação é grande emissora de gases de efeito
estufa. O tráfego aéreo tem aumentado, à medida que se intensifica o turismo
regional e o internacional.
Os
impactos das viagens podem ser reduzidos, em parte, por meio de decisões
coletivas de investir em modos de transporte ecologicamente amigáveis e
energeticamente eficientes.
Cobrar o custo integral de um bilhete,
incluindo os custos ambientais, reduziria o viajismo. Durante a Rio+20,
ocorrida em 2012, participantes da conferência calcularam a emissão de CO2 e
compraram certificados para as neutralizarem. A emissão de 1 ton./CO2 custava
R$10,00, quantia que foi paga em máquina de cartão de crédito pelo então chanceler
brasileiro e por outros participantes. Seria
possível transformar esse tipo de contribuição voluntária em taxação
compulsória para todos? Seria viável aumentar os preços de todas as passagens
aéreas de forma a internalizar os custos de emissão de CO2? Seria aceitável encarecer
o tráfego aéreo global, internalizando nos preços de passagens o custo
ambiental integral? Houve resistências em generalizar essas práticas. Em 2013 a União Europeia tentou implementar um
acordo para que os aviões que circulam na região comprem créditos de carbono
para compensar suas emissões poluentes. A reação negativa dos Estados Unidos e
de nações em desenvolvimento interrompeu a aplicação desse acordo.
Aumentar os preços de viagens
está na contramão do esforço de empresas e de governos para reduzir custos e
impostos, aumentar o consumo e incrementar o turismo interno e externo. O
mercado também facilita o crédito, para que o cidadão se endivide e gaste em
viagens. Além disso, por meio de campanhas publicitárias, os cidadãos são
convencidos ou mesmo seduzidos a viajar. Aumentar o preço das viagens inviabiliza ou
dificulta que os mais pobres viajem, mas os ricos continuarão a fazê-lo ainda
com mais gosto, pois o viajar converter-se novamente em sinal de status,
tornando-se um bem posicional, um privilégio valioso.
Uma forma de reduzir as viagens de lazer e
turismo de longa distância é valorizar o ambiente local no qual se vive,
adotando o principio do “quanto mais perto, melhor”. O “turismo quilometro zero”
se faz no entorno de onde se mora. Reduz transportes, viagens, deslocamentos.
As modernas tecnologias da
informação e da comunicação, com as tele e videoconferências, facilitam a
realização de viagens virtuais que dispensam o deslocamento físico,
ao transportarem informações, textos e imagens. Parte das viagens de negócios
pode, e em certos meios, já é substituída por tais conferências à distância. Navegar
na internet também é uma forma de viagem virtual. A pandemia de 2020 sinaliza nessa direção ao reduzir drasticamente o numero de viagens aéreas, em cruzeiros marítimos, em trens e coletivos no quis é alto o risco de contágio.
Talvez um dia, quando se
fortalecer a era subjetiva, será reduzido o ciclo de intensas viagens pelo ambiente
exterior. A introspecção, a meditação, as viagens para o interior psicológico em
busca do autoconhecimento poderão se tornar mais valorizadas, em benefício da saúde pessoal
e ambiental.
(*) Autor de Ecologizar e de Meio Ambiente
& Evolução Humana ecologizar@gmail.com
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