Após o lançamento de A
Vida Divina no CREIA – Centro de Referência em Educação Integral e Ambiental,
houve uma sessão sobre Auroville e Brasília. Aryamani, a tradutora do livro, falou
sobre Auroville, onde vive, sua planta em espiral, aspectos da vida atual.
Monica Veríssimo falou sobre a história e o planejamento de Brasília.
Em minha intervenção,
lembrei que a aurora traz a luz do amanhecer, dissipa a escuridão e auxilia no despertar para
o conhecimento e a sabedoria, seja em Auroville e Aurobindo, seja no
discurso de Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 2 de outubro de 1956.: "Deste
Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das
altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu
país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável em seu grande
destino".
O amanhã, a evolução e o
futuro da humanidade inspiraram Sri Aurobindo e Lúcio Costa, ambos com uma visão
unificadora. Ambos apontam rumo ao futuro, numa visão evolucionista que
considera o espírito como o motor da evolução.
A espiral da evolução na planta de Auroville: da matéria para a vida, da vida para a consciência e desta para uma consciência superior, como formulou Sri Aurobindo |
Sir Aurobindo considera
de modo integral a evolução da matéria
para a vida, para a mente e para a superconsciência, que ainda está por
florescer nessa etapa de crise da evolução em que vivemos. Essa formulação tem
afinidade com a teoria das resultantes convergentes de Lúcio Costa quando
escreve que
“O desenvolvimento
científico e tecnológico e a ecologia, inteligentemente confrontados, são
sempre compatíveis. O desenvolvimento científico e tecnológico não se contrapõe
à natureza, de que é, na verdade, a face oculta – com todas as suas
potencialidades virtuais – revelada através do intelecto do homem, vale dizer,
através da própria natureza no seu
estado de lucidez e de consciência. O homem é, então, o elo racional entre dois
abismos, o micro e o macrocosmos, ambos fenômenos naturais, cujos produtos
“elaborados” são a contrapartida do fenômeno natural “palpável”. O intelecto e
a consciência do homem são a quintessência da natureza tomada como um todo.”
Lúcio Costa tinha
inspirações e insights, como aquele que escreveu no memorial do projeto de
Brasilia. Sri Aurobindo escreveu em 5 anos, entre 1914 e 1919, grande parte de sua vasta obra. Lúcio Costa e
Sri Aurobindo teriam recebido essas formulações diretamente de uma consciência
maior e as psicografado?
Reconhecida em 1966 pela
Assembleia Geral da UNESCO como cidade dedicada ao entendimento entre os povos
e à paz, Auroville foi inaugurada em 1968.(o ano de maio em Paris, o ano do
AI-5, o ano que não terminou, nas palavras de Zuenir Ventura.)
Brasília foi fundada em
1960 e tombada como patrimônio da humanidade em 1987.Brasília tem desde seu
projeto inicial a marca da beleza. O senso ESTÉTICO está presente. Falta evoluir em direção à verdade e à
bondade, com a evolução de seu padrão ÉTICO.
Brasília é um avião imenso que não voa - Abhay Kumar |
Terminei minha fala lendo
um poema de Abhay Kumar, diplomata e poeta indiano que cita o sonho do visionário
Dom Bosco “Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e
bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma
voz repetidamente: -Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio
destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel.
Será uma riqueza inconcebível.” Abhay
Kumar escreveu no livro Profecias de Brasília:
Brasilia é bastante
branca
Brasília é terra rubra em
manta
Brasília é o diáfano véu
sobre a luz que abrilhanta
Brasília é um colar de
pérolas que à noite encanta
Brasília é um manjar
turco exótico que me levanta
Brasília é uma cobra
prestes a devorar sua janta
Brasília é um vilarejo se
passando por cidade
Brasília é uma expressão
da gemotetria da felicidade
Brasília e a cidade
invisível de Ítalo Calvino em tenra idade
Brasília é uma profecia
de um certo Dom
Brasília é um poema
inscrito em pedra, e bom
Brasília é a canção de
Carlos Drummond
Brasília é o diamante na
coroa
Brasília é um avião imenso
que não voa
Brasília é uma vila de Amauri
submersa à toa
Brasília é a Clarice
Lispector sonâmbula sobre a água
Brasília é o açaí na
sobremesa negra, árdua
Brasilia é a perfeição do
tijolo e da argamassa na frágua
Brasilia é um pedaço de
torta espacial
Brasília é uma ilha de
fantasia num lago irreal
Brasília é uma noite
dominicana frugal
Brasília é a última
utopia
Brasília é para Sylvia
Plath uma distopia
Brasília é uma paisagem
de ectopia
Brasília é um oásis de pássaros
migratórios
Brasília é o oráculo de
vocábulos premonitórios
Brasília é uma página de
um livro obrigatório
Brasília é uma miragem
instável no deserto
Brasília é uma visão pálida
de um ponto incerto
Brasília é um portal que
ainda será aberto
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