Para quem defende e acredita em direitos humanos pode
ter sentido expandi-los para abranger uma nova geração ainda não contemplada.
Dos direitos
individuais - à liberdade, à vida, à expressão -, evoluiu-se para os direitos
sociais, econômicos e culturais – à educação e à saúde, ao trabalho e à greve.
Daí se evoluiu para a terceira geração, a dos direitos e interesses difusos,
que ultrapassam a perspectiva individual e que incluem a proteção da
coletividade, da paz e da segurança pública, do patrimônio histórico e cultural
e do meio ambiente.
Comporiam os
direitos humanos de 4a. geração: o direito de ser responsável; o direito de
agir corretamente; o direito de cumprir o dever; o direito de ser ético. Isso
significa evoluir para os Direitos Éticos, o direito à ética, o direito ao
dever.
Divulgada numa rede
social, essa proposta gerou comentários variados. Uma amiga acha que toquei num
ponto sensível e escreveu “Nós, ativistas de um modo geral, diante da desigualdade
e das injustiças nos batemos pela ampliação dos direitos, mas não dos deveres.
No Brasil, hoje, o indivíduo acha que ser cidadão é pagar impostos. E ter os
serviços que estes impostos pagariam. Os deveres, principalmente aqueles que
sedimentam o tecido ético são ignorados. Os éticos em uma sociedade enfurecida
são considerados babacas.” Ela expressa uma visão corrente na sociedade da qual
decorrem práticas , atitudes e comportamentos de fugir de responsabilidades.
Desastres ambientais acontecem e é difícil apontar responsáveis, pois “filho
feio não tem pai”.
Outro amigo virtual indagou se essa proposta trata
de direitos humanos ou de valores humanos. Concordo que se trata de valores humanos, entendidos como
direitos: o direito de exercitar valores éticos.
Um amigo português que desenvolve um trabalho em
Ecologia Espiritual, numa abordagem para além do antropocentrismo, comentou que
“Uma ética ecocêntrica, integral ou cósmica integra direitos universais, que
inclui direitos dos animais, da vida e da Natureza. Sem incluir esses agentes,
os direitos estarão sempre deficitários.” Essa seria uma última geração dos direitos, que engloba os da natureza.
Até aqui falamos de direitos, mas vale a pena ver a questão a
partir de outra concepção, de outro modelo mental e de outra cosmovisão. Sri
Aurobindo foi o pensador que formulou mais claramente essa questão, ao escrever
sobre democracia, direitos e deveres: “Tem-se
dito que a democracia se baseia nos direitos do homem; foi respondido que
deveria basear-se nos deveres do homem; mas ambos, direitos e deveres, são
ideias europeias. Dharma é a concepção indiana em que os direitos e deveres
perdem o antagonismo artificial criado por uma visão do mundo que faz do
egoísmo a raiz da ação, e recupera a sua unidade profunda e eterna. Dharma é a
base da democracia que a Ásia deve reconhecer, pois nisso reside a distinção
entre a alma da Ásia e da alma da Europa. Por meio do dharma a evolução
asiática se realiza; este é o seu segredo.”
(Sri Aurobindo, vol.1 pag.-759).
Como os dois lados da fita de Moebius, direitos e deveres são unificados no Dharma. |
Isso que Sri Aurobindo postula para a Ásia poderia ser
estendido a outras partes. Tomara que se torne
melhor conhecido no ocidente e melhor
aplicado no Brasil o conceito unificador do Dharma que,
como numa fita de Moebius, dissolve as diferenças entre direitos e deveres.
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