Lua cheia de Buda em Sobradinho. |
Se é assim, dissolver o ego pode dissipar o sofrimento. Cultivar o ego e o egoísmo pode ser um modo de ser
masoquista, de buscar o sofrimento.
Durante a lua cheia de Buda em
maio de 2019 postei isso no facebook, e uma amiga comentou
que esta é uma proposta pouco exequível.
Concordo, pois, se fosse muito exequível,
muita gente já teria conseguido dissolver seus egos, livrar-se dos sofrimentos próprios
ou de infligir sofrimento a outros. Essa também pode ser uma proposta exequível
por poucos, como o Buda por exemplo, que dizem ter alcançado a iluminação ou moksha, o estado mais elevado em que um ser se une a Deus. Se ele o alcançou, por que eu ou
cada um de nós não podemos fazer o mesmo?
Nós também somos filhos de Deus,
temos em nós o DNA de Deus, a centelha ou chispa divina que pode ser cultivada
e expandida. Essa consciência é explicitada no conhecido cumprimento hindu do
Namasté: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.” Nessa concepção, Deus não está apenas lá nas
alturas, acima de todos, mas está dentro de cada um.
Outra amiga perguntou: Quando conseguiremos?
Para a espécie humana, não há uma resposta geral para essa indagação. Para indivíduos pode variar, alguns podem alcançar essa dissolução do ego antes do que outros, em função de seu grau de consciência e de sua capacidade para colocar em prática esse trabalho de dissolução e de autoconhecimento. Quando muito indivíduos conseguirem colocar isso em prática, além de sua própria evolução eles contribuirão também para a evolução da espécie. Sri Aurobindo visualizou o advento de uma era subjetiva ou de uma era espiritual e ressaltou a importância dos indivíduos: ““A vinda da era espiritual deve ser precedida pelo aparecimento de um número crescente de indivíduos que não estão mais satisfeitos com a existência intelectual, vital e física do homem, mas percebem que uma evolução maior é a verdadeira meta da humanidade e tentam efetuá-la em si mesmos, guiar outros para ela e fazer dela o objetivo reconhecido da espécie.” Ele realça que o humano é um ser em transição na evolução e que pode aspirar a se tornar algo mais. Ele propõe que se renuncie ao egoísmo que está
na raiz da ação individual ou coletiva, ao ego que só pode pensar colocando-se como
centro. Ele realça que no campo do ego coletivo, a visão egoística nacional na Alemanha levou ao
erro da guerra e que o egoísmo internacional também pode ser um erro.
Sri Aurobindo observa que a renúncia aos desejos pessoais de natureza
vital pode ser um caminho para abandonar o ego. “O último nó de
nossa servidão se encontra naquele ponto onde o exterior se torna um com o
interior, onde o mecanismo do próprio ego se sutiliza ao ponto de desaparecimento
e onde a lei de nossa ação é enfim a unidade que abraça e possui a
multiplicidade, e não mais, como agora, a multiplicidade esforçando-se para
reproduzir alguma imagem de unidade.”
Continua
ele: “Quando retiramos nosso olhar de sua preocupação egoísta com interesses
limitados e fugazes e consideramos o mundo com olhos desapaixonados e curiosos
que buscam apenas a Verdade, o primeiro resultado é a percepção de uma energia
ilimitada de existência infinita, movimento infinito, atividade infinita, que se
derrama no Espaço sem limites, no Tempo eterno, uma existência que ultrapassa
infinitamente nosso ego ou qualquer ego ou qualquer coletividade de egos, em
cuja balança as grandiosas criações de eras são apenas a poeira de um momento,
e em cuja soma incalculável inumeráveis miríades contam apenas como um enxame
insignificante.”(Sri Aurobindo, A Vida Divina, Livro I,
capítulo 9 -
O Puro Existente).
Dissolver o ego é uma utopia possível?
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