terça-feira, 28 de maio de 2019

Sri Aurobindo e o significado global da Libertação da Índia


Maurício Andrés Ribeiro
Sri Aurobindo pavimentou o caminho dos indianos, incluindo Gandhi,  para lutarem pela independência da Índia em relação ao domínio dos colonizadores ingleses. Em 1907, durante 10 dias, ele publicou no Bande Mataram, o jornal que então editava, sete artigos, com menos de 40 páginas, nos quais deu as bases conceituais e teóricas para a doutrina da resistência passiva, que ele também denominava resistência defensiva. Os artigos que inspiraram nas décadas seguintes os lutadores pela liberdade da Índia, continham uma introdução, o objeto, a necessidade, os métodos, as obrigações, os limites, as conclusões. Gandhi foi o mais conhecido aplicador da resistência passiva ou defensiva.
A Índia tornou-se independente quatro décadas depois, em 1947.
Sri Aurobindo não almejava simplesmente a independência política ou econômica da Índia, ele visualizava algo muito maior: um papel importante para a  Índia no futuro da evolução humana e situava a luta pela independência e liberdade nesse contexto evolucionário maior. Ele explicitou assim o objetivo da libertação da Índia: “Aqueles que seguiram o exposição do ideal nacionalista em Bande Mataram sabem bem que defendemos a luta por Swaraj, ( auto-governo) primeiro, porque a liberdade é em si uma necessidade da vida nacional e, portanto, vale a pena lutar por sua própria causa; em segundo lugar, porque a liberdade é a  condição primeira indispensável do desenvolvimento nacional intelectual, moral, industrial, político (não dizemos que é a única condição) e portanto, vale a pena lutar por causa da Índia; em terceiro lugar, porque na próxima grande fase do progresso humano não é um progresso material, mas espiritual, moral e psíquico que tem de ser alcançado e para isso uma Ásia livre e na Ásia uma Índia livre deve assumir a liderança, e vale a pena lutar pela Liberdade, portanto, por causa do mundo.”
Em 1907 Sri Aurobindo  via a liberdade como uma necessidade para a vida nacional, para o desenvolvimento nacional e ainda para a próxima grande fase na evolução humana. 
“Para nós, na Índia, que somos entusiastas da liberdade, lutar não por uma atração egoísta, não por mera liberdade material, não por mera predominância econômica, mas por nosso direito nacional a essa grande liberdade e vida nobre sem a qual nenhuma emancipação espiritual é possível; pois não é  entre um povo escravizado, degradado e perecendo que os Rishis (sábios- N.T.) e grandes espíritos podem continuar a nascer. E desde que a vida espiritual da Índia é a primeira necessidade do futuro do mundo, nós lutamos não pela nossa própria liberdade política e espiritual, mas para a emancipação espiritual da raça humana. Com uma tal  causa gloriosa para  a batalha, não deve haver fraqueza  entre nós, nenhum vacilo, nenhuma evasão covarde das conseqüências de nossa ação.” ( escrito em 25 de julho de 1907).
Ele tinha uma visão abrangente sobre o papel da Índia e sobre o que chamava de o renascimento indiano:
“Sua missão ( da Índia)  é apontar à humanidade a verdadeira fonte da liberdade humana, da igualdade humana, da fraternidade humana. Quando o homem é livre no espírito, toda  outra liberdade está sob seu comando.”
“ ... as idéias que os sustentam, as idéias de renascimento indiano, da espiritualização do mundo através da Índia, do grande despertar do Oriente e seus ideais são de infinita aplicação como as idéias de fraternidade, liberdade, igualdade que foram pregadas na Revolução francesa até que cada homem as tenha em seus lábios e em seu coração. O profeta do movimento deve repetir essas idéias e popularizá-las até que estejam nos lábios e no coração de cada homem, para que eles possam agir com a mesma força dinâmica como as ideias do século XVIII agiram na França. Dizer que tais ensinamentos são muito visionários para a mente indiana média é esquecer que este é o país de Vedanta, onde mesmo os mais ignorantes têm alguma ideia de verdades abstratas com as quais a mente europeia é demasiado fraca para lidar.” (3 April 1908 1001) 

Sobre o quanto a Índia preza a liberdade, escreveu Lia Diskin, da Editora Palas Athena:
“A Índia é o maior exemplo de liberdade de pensamento que a humanidade produziu – na Índia ninguém foi obrigado a tomar cicuta por causa de suas idéias, nem foi crucificado pelas suas pregações.”


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