Maurício Andrés Ribeiro
Sri
Aurobindo pavimentou o caminho dos indianos, incluindo Gandhi, para lutarem pela independência da Índia em
relação ao domínio dos colonizadores ingleses. Em 1907, durante 10 dias, ele
publicou no Bande Mataram, o jornal
que então editava, sete artigos, com menos de 40 páginas, nos quais deu as
bases conceituais e teóricas para a doutrina da resistência passiva, que ele
também denominava resistência defensiva. Os artigos que inspiraram nas décadas
seguintes os lutadores pela liberdade da Índia, continham uma introdução, o
objeto, a necessidade, os métodos, as obrigações, os limites, as conclusões. Gandhi
foi o mais conhecido aplicador da resistência passiva ou defensiva.
A
Índia tornou-se independente quatro décadas depois, em 1947.
Sri Aurobindo não
almejava simplesmente a independência política ou econômica da Índia, ele
visualizava algo muito maior: um papel importante para
a Índia no futuro da evolução humana e
situava a luta pela independência e liberdade nesse contexto evolucionário
maior. Ele explicitou assim o objetivo da libertação da Índia: “Aqueles que seguiram o
exposição do ideal
nacionalista em Bande Mataram sabem bem
que defendemos
a luta
por Swaraj,
( auto-governo) primeiro, porque
a liberdade
é em
si uma
necessidade da vida
nacional e, portanto,
vale a
pena lutar
por sua
própria causa; em segundo
lugar, porque a
liberdade é a condição
primeira indispensável do desenvolvimento
nacional intelectual, moral, industrial,
político (não dizemos
que é
a única
condição) e portanto,
vale a pena lutar
por causa da Índia; em
terceiro lugar, porque
na próxima
grande fase do
progresso humano não
é um
progresso material, mas
espiritual, moral e
psíquico que tem
de ser
alcançado e para
isso uma
Ásia livre
e na
Ásia uma
Índia livre
deve assumir
a liderança,
e vale
a pena
lutar pela Liberdade,
portanto, por causa do
mundo.”
Em 1907 Sri Aurobindo
via a liberdade como uma necessidade para a vida nacional, para o desenvolvimento
nacional e ainda para a próxima grande fase na evolução humana.
“Para nós, na Índia,
que somos entusiastas da
liberdade, lutar não por
uma atração
egoísta, não por mera
liberdade material, não por mera
predominância econômica, mas
por nosso
direito nacional a
essa grande
liberdade e vida
nobre sem
a qual nenhuma emancipação espiritual
é possível;
pois não
é entre
um povo
escravizado, degradado e
perecendo que os
Rishis (sábios- N.T.) e grandes
espíritos podem continuar
a nascer.
E desde
que a vida
espiritual da Índia
é a
primeira necessidade do
futuro do mundo, nós
lutamos não só
pela nossa
própria liberdade política
e espiritual,
mas para
a emancipação
espiritual da raça
humana. Com uma tal causa gloriosa para a batalha, não
deve haver
fraqueza entre
nós, nenhum
vacilo, nenhuma evasão covarde
das conseqüências
de nossa
ação.” ( escrito em 25 de julho
de 1907).
Ele tinha uma
visão abrangente sobre o papel da Índia e sobre o que chamava de o renascimento
indiano:
“Sua missão ( da Índia) é apontar à humanidade
a verdadeira
fonte da
liberdade humana, da
igualdade humana, da
fraternidade humana. Quando o homem é
livre no
espírito, toda outra liberdade
está sob
seu comando.”
“ ... as idéias que os sustentam,
as idéias
de renascimento
indiano, da espiritualização do mundo
através da Índia, do
grande despertar do
Oriente e seus
ideais são de
infinita aplicação como
as idéias
de fraternidade,
liberdade, igualdade que
foram pregadas
na Revolução
francesa até que
cada homem
as tenha em seus
lábios e em seu coração.
O profeta
do movimento
deve repetir
essas idéias
e popularizá-las
até que
estejam nos lábios e
no coração
de cada
homem, para que
eles possam
agir com
a mesma
força dinâmica
como as
ideias do século
XVIII agiram
na França. Dizer que tais ensinamentos são muito visionários para a mente indiana
média é esquecer que este é o país de Vedanta, onde mesmo os mais ignorantes
têm alguma ideia de verdades abstratas com as quais a mente europeia é
demasiado fraca para lidar.” (3 April 1908 1001)
Sobre o quanto a Índia preza a liberdade, escreveu Lia Diskin, da Editora Palas Athena:
“A
Índia é o maior exemplo de liberdade de pensamento que a humanidade produziu –
na Índia ninguém foi obrigado a tomar cicuta por causa de suas idéias,
nem foi crucificado pelas suas pregações.”
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