Ilustração: Maria Helena Andrés |
Maurício Andrés Ribeiro
Atualmente a Ásia reassume
protagonismo no mundo por sua relevância em termos demográficos, políticos, econômicos,
geográficos.
Sri Aurobindo visualizava um
importante papel da Índia na construção de uma arquitetura política global. Diante do menosprezo e das críticas que a
cultura indiana sofria, no início do
século XX, Sri Aurobindo escreveu em
defesa de sua importância. Discorreu
sobre a civilização indiana e sobre sua espiritualidade na vida diária. Desde o movimento pioneiro pela
independência da Índia, de que Sri Aurobindo foi um dos protagonistas, ele
atribuía grande importância a essa civilização e à cosmovisão ali desenvolvida,
como contribuição para o futuro da humanidade. Uma das motivações da luta pelo
autogoverno na Índia era segundo ele, “porque na próxima grande fase
do progresso humano não é um progresso material, mas espiritual, moral e
psíquico que tem de ser alcançado e para isso uma Ásia livre e na Ásia uma
Índia livre deve assumir a liderança, e vale a pena lutar pela Liberdade,
portanto, por causa do mundo.” Sri Aurobindo reconheceu o papel dos
teosofistas em revalorizar a filosofia e a cosmovisão indiana menosprezadas
pelos colonizadores. No livro Os
fundamentos da cultura indiana ele observa que dois eventos, o
movimento teosófico e a atuação de Swami Vivekananda em Chicago, no Congresso
Mundial de Religiões, foram fundamentais para selar a importância da renascença
indiana e afirmar a importância de sua cultura.Sri Aurobindo visualizava um importante
papel da Índia na construção de uma arquitetura política global. Ele tinha uma visão abrangente sobre o papel da Índia e sobre o que chamava
de renascimento: “ ... as idéias
que os sustentam, as
idéias de renascimento
indiano, da espiritualização do mundo
através da Índia, do
grande despertar do
Oriente e seus
ideais são de
infinita aplicação como
as idéias
de fraternidade,
liberdade, igualdade que
foram pregadas
na Revolução
francesa até que
cada homem
as tenha em seus
lábios e em seu coração.
O profeta
do movimento
deve repetir
essas idéias
e popularizá-las
até que
estejam nos lábios e
no coração
de cada
homem, para que
eles possam
agir com
a mesma
força dinamica
como as
idéias do século
XVIII agiram
na França. Dizer que tais ensinamentos são muito visionários para a mente indiana
média é esquecer que este é o país de Vedanta, onde mesmo os mais ignorantes
têm alguma idéia de verdades abstratas com as quais a mente européia é
demasiado fraca para lidar.” (3 April 1908 1001)
Meu interesse pela visão de Sri
Aurobindo nasceu em 1977, quando eu
estava na Índia numa bolsa como pesquisador visitante do Instituto Indiano de Administração
em Bangalore e assisti a uma palestra de A.B. Patel no India International
Centre em Délhi. Patel era colaborador de
Sri Aurobindo, escrevera o livro Towards
a new world order ( Para uma nova ordem global) e presidia a ONG World Union ( União Planetária), em Pondicherry. Foi então que tomei contato com a vasta obra e as ideias
mundialistas de Sri Aurobindo. A.B. Patel escreveu que ”A Índia está
destinada a ter um grande papel na reconstituição global. Sri
Aurobindo atribui à Índia um papel crucial - um destino poderoso e uma pesada
responsabilidade - porque ele considera que a Índia é o repositório da
consciência espiritual, o guardião da Verdade, e ele enxerga que, na nova era
da unificação global, o ser nacional da Índia vai atuar como uma lança,
rompendo as formações mundiais atuais e dando nova forma à história. De seu
ponto de vista, a herança espiritual da Índia e sua renascença tornam-se
significativas não somente para seu próprio crescimento e realização, mas
também para o destino da unidade da humanidade.”
O vídeo The Genius of India,
com texto de Sri Aurobindo, resume sua visão sobre os fundamentos dessa cultura
e civilização.
A
renascença indiana vislumbrada por Sri Aurobindo pode estar em
curso e sua contribuição para a história humana vem sendo dada por meio do soft power indiano, o poder suave de sua
cultura e a riqueza intangível e imaterial de sua cosmovisão lúcida e generosa.
Ilustração: Maria Helena Andrés no livro Pepedro nos Caminhos da Índia |
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