terça-feira, 11 de junho de 2019

Sri Aurobindo e a renascença indiana

Ilustração: Maria Helena Andrés



Maurício Andrés Ribeiro

Atualmente a Ásia reassume protagonismo no mundo por sua relevância em termos demográficos, políticos, econômicos, geográficos.
Sri Aurobindo visualizava um importante papel da Índia na construção de uma arquitetura política global. Diante do menosprezo e das críticas que a cultura indiana  sofria, no início do século XX, Sri Aurobindo  escreveu em defesa de sua importância.  Discorreu sobre a civilização indiana e sobre sua espiritualidade na vida diária. Desde o movimento pioneiro pela independência da Índia, de que Sri Aurobindo foi um dos protagonistas, ele atribuía grande importância a essa civilização e à cosmovisão ali desenvolvida, como contribuição para o futuro da humanidade. Uma das motivações da luta pelo autogoverno na Índia era  segundo ele, “porque na próxima grande fase do progresso humano não é um progresso material, mas espiritual, moral e psíquico que tem de ser alcançado e para isso uma Ásia livre e na Ásia uma Índia livre deve assumir a liderança, e vale a pena lutar pela Liberdade, portanto, por causa do mundo.” Sri Aurobindo reconheceu o papel dos teosofistas em revalorizar a filosofia e a cosmovisão indiana menosprezadas pelos colonizadores. No livro Os fundamentos da cultura indiana ele observa que dois eventos, o movimento teosófico e a atuação de Swami Vivekananda em Chicago, no Congresso Mundial de Religiões, foram fundamentais para selar a importância da renascença indiana e afirmar a importância de sua cultura.Sri Aurobindo visualizava um importante papel da Índia na construção de uma arquitetura política global. Ele tinha uma visão abrangente sobre o papel da Índia e sobre o que chamava de renascimento: “ ... as idéias que os sustentam, as idéias de renascimento indiano, da espiritualização do mundo através da Índia, do grande despertar do Oriente e seus ideais são de infinita aplicação como as idéias de fraternidade, liberdade, igualdade que foram pregadas na Revolução francesa até que cada homem as tenha em seus lábios e em seu coração. O profeta do movimento deve repetir essas idéias e popularizá-las até que estejam nos lábios e no coração de cada homem, para que eles possam agir com a mesma força dinamica como as idéias do século XVIII agiram na França. Dizer que tais ensinamentos são muito visionários para a mente indiana média é esquecer que este é o país de Vedanta, onde mesmo os mais ignorantes têm alguma idéia de verdades abstratas com as quais a mente européia é demasiado fraca para lidar.” (3 April 1908 1001)





Meu interesse pela visão de Sri Aurobindo nasceu em 1977, quando  eu estava na Índia numa bolsa como pesquisador visitante do Instituto Indiano de Administração em Bangalore e assisti a uma palestra de A.B. Patel no India International Centre em Délhi.  Patel era colaborador de Sri Aurobindo, escrevera o livro Towards a new world order ( Para uma nova ordem global) e presidia a ONG  World Union ( União Planetária), em  Pondicherry. Foi então que  tomei contato com a vasta obra e as ideias mundialistas de Sri Aurobindo. A.B. Patel escreveu que ”A Índia está destinada a ter um grande papel na reconstituição global. Sri Aurobindo atribui à Índia um papel crucial - um destino poderoso e uma pesada responsabilidade - porque ele considera que a Índia é o repositório da consciência espiritual, o guardião da Verdade, e ele enxerga que, na nova era da unificação global, o ser nacional da Índia vai atuar como uma lança, rompendo as formações mundiais atuais e dando nova forma à história. De seu ponto de vista, a herança espiritual da Índia e sua renascença tornam-se significativas não somente para seu próprio crescimento e realização, mas também para o destino da unidade da humanidade.
O vídeo  The Genius of India, com texto de Sri Aurobindo, resume sua visão sobre os fundamentos dessa cultura e civilização.
A renascença indiana vislumbrada por Sri Aurobindo pode estar em curso e sua contribuição para a história humana vem sendo dada por meio do soft power indiano, o poder suave de sua cultura e a riqueza intangível e imaterial de sua cosmovisão  lúcida e generosa.


Ilustração: Maria Helena Andrés no livro Pepedro nos Caminhos da Índia



[1] TAGORE, Rabindranath. On Nationalism, p.59-60.

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