Na
pandemia as superquadras de Brasília, concebidas há mais de 60 anos por Lucio
Costa, mostraram qualidades valiosas. Tornaram-se um padrão urbanístico
desejável. As superquadras são uma
concepção brasileira pioneira do que já foi chamado de unidades de
vizinhança. Nelas se anda a pé entre as moradias – casas, prédios baixos, prédios
com pilotis para circulação livre de pedestres e sem muros ou cercas; há área
verde, lazer, playground para crianças, serviços - banca de jornal, sapataria,
costureira - escola, posto policial, local de culto, correios, comércio local,
metrô e transporte coletivo próximos, ciclovia, circulação local de veículos,
estacionamento, passeios para pedestres, horta urbana etc. Oferecem ambientes saudáveis e já testados pela prática e
vivencia de mais de 60 anos, que podem servir como referência para o
planejamento urbanístico.
Nesta
pandemia em vários países recuperou-se a antiga proposta, agora rebatizada como
as cidades
de 15 minutos, nas quais muitos serviços e
infraestruturas se encontram próximas das moradias. A cidade
desejada se mede em tempo e não mais em espaço:
a meta é que todas as atividades se encontrem a curta distância e possam
ser alcançadas pelo caminhante ou pelo ciclista. Nelas circula-se a pé junto a moradias, acessando o
comércio, equipamentos públicos, áreas
verdes, escolas locais, nas chamadas superilhas e superblocos. Os urbanistas
propuseram mudar os ritmos da cidade e aproximar
casa-trabalho-comércio-cultura-lazer.
Em Brasília, em poucas décadas criou-se uma cidade-parque
aprazível, propícia para se viver numa pandemia. Antes de
existir fisicamente, Brasília esteve num pedaço de papel com desenhos e letras, que foi escolhido por um júri internacional
de urbanistas, entre 26 projetos urbanísticos. Antes de estar nesse pedaço de
papel, esteve na mente de Lucio Costa. Antes desse projeto estar na mente de
Lucio Costa, a ideia de mudança da capital para o planalto central brasileiro
esteve nas mentes de muitos brasileiros desde o século
18.
Mais
de um século foi necessário para que um
governante (JK) se dispusesse a transformar numa realidade física uma ideia
abstrata que existia na mente das pessoas e na constituição brasileira como uma
vontade de mudança. Quando se tomou a decisão política de mudar a capital para
o planalto central a ação foi realizada pouco tempo: a ideia saiu da mente para
o desenho no papel e dali para a realidade física. Em poucas décadas a paisagem
poeirenta se transformou numa cidade verde, atestando a capacidade dos brasileiros de transformar lugares
de restaurar ambientes. Uma ideia, combinada com a energia do
capital, tem força transformadora da
realidade. Ao se redirecionar investimentos para esse propósito,
a realidade se transforma. A força do
capital é transformadora. Atualmente, restaurar
ecossistemas em grande escala é uma meta desejável e alcançável.
O
conceito das superquadras merece ser revalorizado quando os governos voltarem a
priorizar a integração e a inclusão social. Muitos recursos que hoje são
direcionados para a destruição poderão ser redirecionados para finalidades
construtivas e gerar novas cidades
saudáveis, capazes de oferecer boa qualidade de vida mesmo durante uma
pandemia.
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