quarta-feira, 24 de abril de 2024

A energia na arte de Maria Helena Andrés


A energia está presente em todo o universo. O Sol é a estrela que nos aquece e ilumina.  Os vegetais crescem a partir da energia solar e servem de alimento para os animais e para os seres humanos. A ecologia energética  trata das cadeias alimentares, que são fontes de energia para o corpo humano e os corpos dos animais. Estuda como circulam os nutrientes, quais são as demandas de energia dos organismos e populações e os fluxos de energia entre os diversos componentes de um ecossistema. 

 A energia solar movimenta o ciclo da água. A energia é capturada, armazenada e colocada a serviço dos seres humanos e  produz força e luz. Cachoeiras e quedas d’água permitem o seu aproveitamento para a geração de energia elétrica. 

As diversas fontes de energia foram pintadas e desenhadas por artistas. Pintores holandeses retrataram os moinhos de vento; artistas chineses pintaram grandes usinas hidrelétricas; o quadro A grande onda, do japonês Kanagawa, mostra a energia nos oceanos. Os mobiles de Alexander Calder se movem com energia da brisa; artistas visuais na arte cinética, no vídeo , no cinema e na TV dependem de energia elétrica para movimentar suas obras.

Maria Helena Andrés  expressou vários dos aspectos em que a energia se manifesta. Nos anos de 1940, pintou em aquarelas cenas de trabalho braçal que usa energia humana e carros de bois que aproveitam a energia animal. 


Nos anos 70, na Índia, ilustrou livros com os vegetais que se nutrem da energia solar; desenhou triciclos movimentados pela energia humana e o uso da energia animal de bois, cavalos, camelos e elefantes.



Aproveitamento de energia animal - ilustrações para o livro Pepedro nos Caminhos da Índia.

O sol, principal fonte de energia para o planeta, foi retratado em ilustrações, em pinturas e em tapeçarias. Ela escreveu que “O fogo, usado desde os primórdios de nossa civilização, tem uma profunda conotação espiritual em várias tradições. Fogo é luz, é aquecimento, é mudança. Ele, ao mesmo tempo que consome o que é velho, faz despertar o novo com todo o seu potencial energético.”


Tapeçarias para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, Rio de Janeiro, 1976.

O Sol e a energia das marés - ilustração para o livro Ondas à procura do mar, de Pierre Weil.

A energia solar e dos ventos nas velas  - ilustração para o álbum Oriente-Ocidente, integração de culturas, 1986.


Durante viagens pelo interior de Minas nos anos 1950, ela relata que “meu tema constante eram os postes de luz, receptores que transmitiam energia, verdadeiras esculturas colocadas na beira das estradas.”  “Eu levava um bloquinho e ia desenhando os postes de luz cortando a paisagem com suas estruturas metálicas.” Em sua fase construtivista, nos anos 1950, pintou em óleo  sobre tela a série de cidades iluminadas que “tiveram suas origens naqueles desenhos rabiscados em blocos de rascunho, onde a estrutura dos postes era uma constante. “

 Um grande painel  na sede da Cemig em Belo Horizonte retrata a energia em movimento. Ela recorda que “Sobre o fundo abstrato do painel, coloquei as “esculturas transmissoras” como forma de equilibrar a composição.” 

Painel energia em movimento - acrílica sobre tela -  sede da CEMIG em Belo Horizonte, 1984.



 Como ilustradora do livro A água fala, desenhou moinhos de vento, que aproveitam a energia eólica e as usinas hidrelétricas e rodas d’água.

Atenta ao que se passa no mundo ela escreveu que “Um país pequenino como a Dinamarca está nos mostrando sugestões para o século XXI: usar bicicletas para evitar a aglomeração de carros, e moinhos de vento para captar energia. “


Ilustrações sobre usos da energia no livro A Água fala, 2020.



Sobre sua obra, Maria Helena escreveu que “A partir dos anos 1960, toda a minha pintura foi energia em movimento: nos barcos, nos astronautas, na conquista do espaço, nos cosmos, sempre houve energia em movimento.

“A energia

 está associada 

a tudo que existe.

 Aos ventos,

 aos mares,

 às tempestades, 

aos vulcões,

 aos terremotos, 

aos rios,

 às chuvas.” 

A própria criatividade é uma forma de energia: “Existe uma força interior que une as pessoas através da arte: cantores, pesquisadores, seresteiros, pagodeiros, todos movidos por uma só energia.“ Sobre a energia interior e o autoconhecimento ela escreveu: ”É preciso rever esse desequilíbrio interno, tampar esses vazamentos de energia e atenção. E é aí que entra o que chamamos de “trabalho sobre si”. Se o ser humano quer, de fato, atingir todo o seu potencial, se quer sair desse estado vegetativo, despertar do sono que o escraviza, precisa buscar o conhecimento de si mesmo. “ Observou que “as artes têm como objetivo principal a transmutação de energias neste planeta tão cheio de violência.” “Essa captação de energias semelhantes é a essência do desconhecido que existe dentro de nós, nos subterrâneos luminosos de nosso inconsciente.“  

Como escritora, desenhista, ilustradora e pintora versátil,  Maria Helena sentiu as diversas formas pelas quais se manifesta a ecologia energética e as expressou como num caleidoscópio com muitas faces. “Corpo e alma têm de estar afinados para o chamado dessa força estranha que conduz o ser humano a uma longevidade sadia e produtiva.“


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