terça-feira, 23 de junho de 2015

Ecologia integral e cultura de paz

“Se quisermos lidar com a origem das crises com que agora nos defrontamos, precisamos despertar de nosso transe e recuperar um contato mais consciente com nossa própria sabedoria interior. Precisamos do equivalente cultural à desipnose”. Peter Russell A ecologia se originou na área biológica e tratou do ambiente natural, dos bichos e plantas e sua relação com o ambiente. Depois, se expandiu para a análise das relações entre os seres humanos e destes com o mundo natural. Formou-se o campo das ciências socioambientais. Um movimento correspondente de ampliação de perspectiva ocorreu em instituições: organizações não governamentais dedicadas ao meio ambiente se tornaram socioambientais. Esse enfoque constituiu um avanço. Mas é ainda um avanço parcial, ao excluir um terceiro campo, o da ecologia interior. No Brasil, ainda engatinha a abordagem integral da ecologia, que precisa estender-se a esse terceiro aspecto, complementando o socioambientalismo. O psicólogo Pierre Weil e eu publicamos artigo com a figura abaixo, que visualiza três grandes campos da ecologia integral. (Revista Thot, no. 53, 1990) Ao constatar que estamos em relação agressiva e destrutiva com o ambiente, Pierre propunha desenvolver a paz consigo mesmo, a paz social e a paz na natureza. James Lovelock, o criador da teoria de Gaia também denuncia esse tipo de relação belicosa: “Apossando-se maciçamente de terras para alimentar as pessoas e empesteando o ar e a água, estamos tolhendo a capacidade de Gaia de regular o clima e a química da Terra, e se continuarmos assim, corremos o risco de extinção. Em certo sentido, entramos em guerra contra Gaia, guerra que não temos esperanças de vencer. Tudo o que podemos fazer são as pazes enquanto ainda somos fortes e não uma ralé debilitada”. Na visão de Peter Russel, físico e psicólogo, as crises que a humanidade enfrenta são sintomas de uma crise psicológica muito mais profunda. Ele visualiza a oportunidade de desenvolver, como adaptação evolutiva, um novo modo de consciência: “A crise está nos empurrando para a mudança interior, para uma transformação em seres humanos verdadeiramente sábios, não mais aguilhoados pelo egoísmo.” (para quem se interessa pelo tema, ver Acordando em Tempo, 2006) A ecologia interior, que cuida da saúde física, emocional, mental e espiritual do ser humano, é fundamento para se desenvolver uma economia ecológica, pois demandas e desejos formados no campo da subjetividade humana, do mundo psíquico, emocional e da consciência condicionam comportamentos e atitudes; moldam e economia e impactam no ambiente. Mudanças de consciência, traduzidas em ações, provocam mudanças – para o bem ou para o mal - no ambiente natural e construído. Pessoas melhores talvez possam construir um mundo melhor. No livro Ecologizar, relacionamos cerca de 40 campos em que se desdobram as ciências ecológicas: a Ecologia ambiental, a Ecologia cósmica, a energética, a Ecologia humana, a mental e da consciência, a cultural e informacional, a Ecologia do ser, a Ecologia profunda e a Ecologia transpessoal, a Ecologia política, a social, a econômica, Ecologia urbana, a industrial, a Ecologia agrária e da paisagem, a Ecologia do cotidiano. A ecologia integral vai além do socioambientalismo. Compreende de forma abrangente a consciência ecológica e o modo como nos relacionamos com a natureza, que podem ser valiosos para a nossa sobrevivência e transformação nessa etapa de crise da evolução.

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