terça-feira, 23 de junho de 2015

PIERRE DANSEREAU, PIONEIRO DA ECOLOGIA INTEGRAL

Meu encontro com as ideias de Pierre Dansereau se deu a partir do diagrama sobre os estágios de impacto crescente da espécie humana no ambiente. Ali, ele nos transporta numa viagem no tempo da jornada humana, desde a pré história até a atualidade: houve a fase da coleta de frutos e depois a caça e a pesca; em seguida, o pastoreio, com a domesticação de espécies animais; a domesticação dos vegetais, na revolução agrícola. No século XVIII a revolução industrial amplificou os impactos da ação humana sobre a natureza. Na segunda metade do século XX veio a urbanização acelerada. Vivemos atualmente a transição entre a urbanização e o controle climático. Muitos anos antes do tema das mudanças climáticas se disseminar, Dansereau o colocava como uma etapa relevante no relacionamento do ser humano com a natureza. Ele intuía o futuro e colocava nossa espécie no cosmos. Na época em que o diagrama foi concebido, as viagens interplanetárias estavam em seu início e esse era um cenário futurista, antecipado na ficção científica e nas obras de artes. Na etapa da fuga exobiológica ou transmigração, indivíduos isolados escapam à gravidade do planeta e lançam-se ao espaço cósmico. Ele chamava a atenção para essa escala da ecologia pouco valorizada numa época em que se falava em pensar globalmente, mas não em pensar cósmicamente. Durante sua temporada como diretor adjunto do Jardim Botânico de Nova York, ele se interessou pela ecologia humana e as questões urbanas. Antes da análise do ciclo de vida dos produtos disseminar-se como instrumento para a gestão e o planejamento, ele já analisava as paisagens urbanas e os ambientes construídos e tomava consciência dos sistemas de abastecimento pelos quais transitavam os materiais, a energia, os alimentos usados nos ecossistemas urbanos. Sua bola de flechas identifica os vários níveis tróficos e os processos de ciclagem de recursos por meio dos quais eles se transformam: do mineral, ao vegetal, ao animal herbívoro, ao animal carnívoro, ao investimento e ao controle. Matéria, vida e consciência estão ali incluídas. No campo da ética ambiental, constatou que a compaixão era “a única chave para liberar o fluxo para o compartilhado equitativo dos recursos.” Ele propôs a austeridade feliz como atitude de vida capaz de harmonizar o ser humano com o ambiente. Na linha do não consumismo, da simplicidade voluntária e da sobriedade, a austeridade feliz leva a um modo de vida que reduz o consumo material, como ato de compaixão e de compartilhamento de recursos. Ele foi pioneiro e intuiu essa necessidade de reduzir o peso da pegada ecológica; o indicador da pegada ecológica somente foi concebido décadas depois. Ele também antecipou a importância das ciências da cognição, ao incluir em seus diagramas a noosfera e a diversidade de estágios de consciência humanos. Esse reconhecimento da noodiversidade induz à prática da paciência e da tolerância, para que a convivência humana seja vivida em harmonia e paz.

Um comentário:

Unknown disse...

Grande legado deixou-nos Dansereau. Obrigado por compartilhar este importante conteúdo. A visão de que as cidades são complexos ecossistemas, com múltiplas interconexões, ajuda a compreender o porquê do caos que vivemos hoje no ambiente urbano. Fraternal abraço