A perspectiva humanista, uma característica da
modernidade, coloca no centro a espécie humana, seus direitos, suas demandas e
desejos. A visão humanista reflete uma perspectiva do ser humano como o ápice da
evolução e os considera centrais para o drama cósmico. Algumas tradições religiosas
colocaram o ser humano como o coroamento da criação, com mandato para dominá-la.
O enfoque antropocêntrico coloca a natureza e o planeta como pano de fundo para
atender às demandas humanas e como fonte de recursos para serem usados pelos
seres humanos.
A perspectiva humanista tem sido crescentemente
questionada, diante da constatação de que nossa espécie se tornou grande fator
de pressão sobre a natureza e da devastação que produz ao dizimar habitats,
mudar o clima e provocar a extinção de espécies.
O historiador da cultura Thomas Berry
apontou as deficiências das tradições humanistas alienantes: “Tanto nossas
tradições religiosas como humanistas são primordialmente comprometidas com uma
exaltação antropocêntrica do humano. ” [1] Ele
considera que, na história da Terra, o momento atual é equivalente, em termos
de profundidade de transformações, às que ocorreram há 67 milhões de anos,
quando o planeta passou por uma grande extinção e por mudanças climáticas que
dizimaram os dinossauros. Uma diferença é que, na situação atual, a espécie
humana é quem agrava as catástrofes e a tragédia ambiental.
James Lovelock, autor da teoria de
Gaia, é outro crítico da visão humanista e social, que levou a sobre explorar o
planeta e a precipitar a atual crise ecológica e climática. Considera que “A
humanidade, totalmente despreparada por suas tradições humanistas, enfrenta seu
maior teste”. [2] Lovelock
propõe que se desloque o foco para o bem-estar e a saúde do planeta, Gaia,
tendo em vista que sua existência saudável é precondição para a vida humana e
de todas as outras espécies. Outros propõem uma visão ecocêntrica, biocêntrica.
A ecologia profunda rejeita o
humanismo. Atribui os problemas ambientais ao antropocentrismo, que procura
preservar recursos para o uso do homem e não pelo valor intrínseco da natureza.
Nesse sentido coloca-se o MAUSS - o movimento antiutilitarista nas ciências
sociais – que questiona a abordagem de colocar a natureza a serviço do ser
humano, subestimando o valor dos serviços ambientais, tais como a regulação do
clima, a produção de água e outros processos fundamentais para sustentar a
vida.
As respostas para a crise
ecológica atual devem estar à altura das dimensões épicas das transformações.
Isso inclui uma mudança de perspectiva semelhante àquela adotada por Copérnico,
que demonstrou que o sol, e não a terra era o centro do sistema. Galileu sofreu
por demonstrar essa realidade. (Posteriormente constatou-se que somos ainda
mais periféricos do que eles imaginavam, pois o sol é apenas uma es
trela de 5ª
grandeza situada na periferia de uma das milhões de galáxias no universo).
Migrar de um ângulo de visão
antropocêntrico e humanista para uma perspectiva Gaiacêntrica demanda
semelhante humildade e desprendimento. O homo sapiens não é o fim da evolução,
mas é um ser em transição, como propõe Sri Aurobindo. Esse ser poderá ser
sucedido na evolução por um ser trans-humano, póshumano ou, numa perspectiva
ecológica, ecohumano.
Para superar a crise ecológica e
da evolução, cabe uma perspectiva pós-antropocêntrica. Nessa era, o ser humano
deixa de ser uma presença disruptiva e devastadora, vindo a ser uma presença
benigna diante do mundo natural, como propõe Thomas Berry. Esse ser humano
ecologizado pode tornar-se gestor da evolução de forma menos destrutiva do que
a que vivenciamos.
Nesse contexto, cabe desaprender
conceitos e visões de mundo. Cabe à educação transcender a perspectiva
humanista e adotar princípios e conteúdos que facilitem a transição para a era
noológica da evolução do planeta.
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