Examinamos como a
dimensão da paz interior estava sendo esquecida nos programas de pesquisa e
formação. Ali foram pioneiramente apresentadas as rodas da transmissão da arte
de viver em paz, do processo global de destruição e do despertar da paz no
espírito dos homens, posteriormente desenvolvidas por Pierre no seu livro sobre
A Arte de viver em paz.
Revista Thot -página inicial do artigo “A Paz no Espírito dos Homens: o princípio básico da UNESCO está sendo esquecido.”
Figura: A transmissão da
arte de viver em paz. Fonte: Weil e
Ribeiro, Thoth, 1990.
O diagrama da arte de
viver em paz distingue três grandes campos da ecologia: a da natureza, a
ecologia social e a ecologia interior. A ecologia teve origem no campo das
ciências biológicas e durante o século XX se expandiu para o campo das ciências
sociais e para o campo das ciências da subjetividade. A ecologia integral
inclui esses três grandes campos, sintetizados na roda da transmissão da arte
de viver em paz e as três dimensões da ecologia e da consciência.
Observados em maior
detalhe esses três grandes campos incluem inúmeros outros, cada qual com o corpo
de conhecimentos a ele associado. O campo da ecologia da natureza se desdobra nas áreas da ecologia vegetal,
animal, de comunidades, da paisagem, cósmica, magnética, planetária,
energética. O campo da ecologia social
se ramifica nas ecologias humana, cultural, política, urbana, industrial,
econômica, jurídica, do trabalho. Por sua vez, o campo da ecologia interior se desdobra nas áreas da ecologia do ser,
evolutiva humana, da consciência, dos saberes, informacional, da criatividade,
mental, corporal, das emoções, sensorial, médica, profunda, transpessoal,
espiritual e enfatiza o autoconhecimento (“Conhece-te
a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”, dizia o oraculo de Delfos). [1]
Pierre Weil desvendou
mecanismos subjetivos e psicológicos e elaborou um método para se alcançar a
paz com a natureza, social e consigo mesmo. Esse método é baseado no conhecimento das
emoções, do corpo e da mente e no suposto de que a paz interior é fundamental
para se alcançar a paz social e com a natureza. A partir da
compreensão da unidade com o todo e da consciência ecológica, ele acreditava ser possível reverter os
desequilíbrios e a destruição da paz.
Pierre Weil, com sua
formação em psicologia e no retiro com os ensinamentos tibetanos, fortalecia a
visão dos aspectos subjetivos e pessoais, psicológicos e da consciência. Ele
contribuiu com a ecologia integral ao aprofundar-se na ecologia interior e na
paz consigo mesmo, na forma de conceitos e de disseminação prática. Na teoria
fundamental da UNIPAZ, ele expôs de forma didática os conhecimentos sobre a
ecologia integral que aqui sintetizamos em meia página. Ali ele afirmava que
“Todas as galáxias do universo são sistemas energéticos e que essa energia
assume três formas inseparáveis: informática (mente), biologia (vida) e física
(matéria); que o homem é parte integrante deste sistema energético, sendo feito
de matéria (corpo), vida (emoções) e informática (mente) inseparáveis do todo.
Em seguida ele se aprofunda nos aspectos subjetivos e da ecologia
interior. Constata que, na sua mente, o
homem se separa do universo e cria a fantasia da separatividade
(Homem-universo; Eu-mundo; Sujeito-objeto); que sua mente o separa da sociedade
e da natureza e se esquece de que a natureza, sociedade e homem são
inseparáveis. Mais ainda, a mente se considera separada da informática
(consciência) do todo; a mente individual se considera separada da mente do
universo (mentes que os hindus chamam de Atman e Brahman). O homem cria em sua
mente a fantasia da separatividade, a fragmentação, o reducionismo; em sua
vida, desenvolve emoções de apego, raiva, ciúme, orgulho, medo, depressão e em
seu corpo sente fome, carências alimentares, tensões, respiração inadequada,
doenças. Então, começa o processo da destruição da ecologia do ser quando se
gera um paradigma de fragmentação; e porque se considera separado, gera emoções
destrutivas no plano da vida, mais particularmente o apego e a possessividade
de coisas, pessoas e ideias que lhe dão prazer; e por causa das emoções
destrutivas surge o stress que
destrói o equilíbrio do corpo. ”
Ele explicava como o apego a algo gera o medo da perda e o medo da perda produz
estresses e doenças de origem psicossomática.
Pierre e eu tivemos uma
troca intelectual valiosa no campo das ecologias e da paz, e especialmente no
terceiro grande campo que compõe a ecologia
integral, o da ecologia interior,
com seus aspectos subjetivos, psicológicos. Eu me interessava por esse campo
desde que estudei na Índia. A cosmovisão indiana e sua concepção do ser humano
como um ser em transição e da criança como uma alma em formação se abrem para a
ecologia interior e da cultura de paz consigo mesmo.
[1] Para uma
descrição mais detalhada de cerca de 30 campos das ciências ecológicas, ver o
livro Ecologizar – volume 1, princípios para a ação, Editora Universa, 2009.
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