quinta-feira, 28 de abril de 2016

Unidade na diversidade



O mundo é diverso, mas é uno. O astronauta ao longe percebe essa unidade, para além de todas as diversidades internas. Pierre Weil enfatizou essa unidade ao apontar para a fantasia da separatividade, pela qual temos a impressão de sermos partes separadas desse todo.


A visão do astronauta e a visão supranacional: a percepção da Unidade
Ter um projeto comum pode ser essencial para trabalhar numa direção convergente. Hoje, com a crise climática, há esforços para se evitar que o planeta se aqueça mais do que 2 graus centigrados, o que poderia levar a situações catastróficas e caóticas.  Grandes obras comuns são necessárias, envolvendo toda a espécie humana, no seu próprio auto interesse de sobrevivência.  Um projeto unificador pode ser a construção de uma unidade política planetária. Edgar Morin, em texto intitulado “O grande projeto”, observa que “A fecundidade histórica do Estado-Nação hoje se esgotou. Os Estados-Nação são por si mesmos monstros paranoides incontroláveis, ainda mais sob ameaças mútuas. Uma primeira superação dos Estados-Nação não pode ser obtida, senão por uma confederação que respeite as autonomias, suprimindo a onipotência. ” “Mas nós ainda estamos na "idade do ferro planetário": ainda que solidários, continuamos inimigos uns dos outros e a explosão dos ódios de raça, de religião, de ideologia, provoca sempre guerras, massacres, torturas, ódio e desprezo. ” (MORIN, 1988). A ação em cada uma de suas partes – nações, estados, sociedades, cidades, empresas, indivíduos – se insere em um objetivo comum maior: a saúde do Planeta, da qual depende a saúde dos sistemas vivos e a própria vida humana. Sri Aurobindo enfatizou a importância de se alcançar a unidade. No seu pensamento político e social, Sri Aurobindo postulou que os Estados-Nação não constituem a última etapa do desenvolvimento político humano e que a unidade econômica e administrativa do planeta seria necessária. Em O ideal da unidade humana, estudou os impérios e as nações, com sua formação e estágios de desenvolvimento; antecipou a unificação da Europa; abordou as possibilidades de um Império Mundial e as enormes dificuldades no caminho em direção à unidade internacional; tratou também dos princípios para uma confederação livre de nações e as condições necessárias para que ocorresse tal união mundial livre. A unidade humana que está no centro do pensamento de Sri Aurobindo, estende-se aos domínios militar, econômico e administrativo. Ela respeita e valoriza a diversidade. A visão mundialista insere as propostas para a política numa visão cosmopolita da unidade humana, que vai para além do patriotismo, dos interesses de clãs e tribos, étnicos ou nacionais.  Ela expressa a necessidade de unidade política humana e de uma cosmovisão adequada para compreender os tempos em que vivemos. (AUROBINDO, 1970).
Promover a Consiliência, proposta por E.O Wilson, é uma forma de resgatar a unidade.  Duane Elgin propõe que se construam grandes narrativas inspiradoras capazes de comunicar com clareza o sentido e o rumo da evolução, de forma a produzir convergências de pensamentos e de ações. ((ELGIN, 1993). Cosmovisões compartilhadas por milhões ou bilhões magnetizam e atraem a adesão e a motivação de muitos cérebros individuais num mesmo rumo e direção. Imaginar um projeto unificador, ter a determinação e mobilizar os recursos para colocá-lo em prática numa obra coletiva é um pré-requisito para lidar com a crise ecológica e climática planetária. Diante da perspectiva de colapso planetário e da percepção dos limites da capacidade de suporte do planeta, a busca da segurança motiva uma construção coletiva de respostas.
Hoje o contexto mundial é bastante diferente daquele que existia no momento da criação da Unipaz, três décadas atrás. As mudanças se aceleraram, o mundo se conectou em redes sociais, ilusões românticas se desfizeram, amadurecemos, os jovens têm perspectivas de vida muito diferentes das que tínhamos naquela época. A crise climática expandiu o limite temporal de anos ou décadas para séculos, inserindo a história humana na história natural.
Estamos hoje no período antropoceno da história, um período caracterizado pela predominância da ação humana e seus impactos, que afetam a evolução no planeta, ao causarem mudanças climáticas, perda de biodiversidade e vários outros impactos.
Na Rio + 20 se constatou que   continuaram a se intensificar aspectos negativos tais como a desertificação, destruição do ozônio, desequilíbrios climáticos, desmatamento, poluição hídrica e dos oceanos. Entre os aspectos positivos ressalta-se a expansão da consciência ecológica. Houve uma mudança de consciência e de percepção. Exemplo: a fumaça já foi símbolo de progresso industrial, mas hoje denuncia o aquecimento global e os desequilíbrios climáticos.

Estamos no estágio terminal da era cenozoica, a era dos mamíferos, que sucedeu a era mesozoica, a dos dinossauros.
A espécie humana surgiu bem recentemente na era cenozoica.
Estamos num período de transição chamado de antropoceno devido à importância das ações humanas e de seus impactos. Diz o historiador das culturas Thomas Berry em seu livro sobre A grande obra:
"Todos nós temos nosso trabalho particular. Temos uma variedade de ocupações. Mas além do trabalho que desempenhamos e da vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos envolvidos e ninguém está isento: é a obra de deixar uma era cenozoica terminal e ingressar na nova 

Era Ecozoica na história do Planeta Terra". [1]
Eras na evolução
A depender da consciência e suas consequências sobre as ações, o futuro pode ser promissor e brilhante; dependendo do rumo que sua consciência lhe aponte para suas ações, pode haver um colapso da civilização humana, assim como já aconteceu na história com várias sociedades que não souberam se relacionar de modo harmônico com o ambiente. O planeta seguirá sua história, com ou sem nós. Recordo aqui uma fábula: Dois planetas se encontram e começam a conversar. Uma pergunta ao outro como vai e ele responde que está sofrendo com uma coceira que o incomoda. Foi ao médico e esse diagnosticou que ela se chamava Homo Sapiens. O outro então conclui a conversa: Não se preocupe, isso passa logo!



[1] Além da era ecozoica, há outras designações para a próxima era na história: era psicozoica, eremozoica, tecnozoica, ecológica etc. Trato desses cenários no livro Meio Ambiente& Evolução Humana.

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