sexta-feira, 1 de julho de 2016

Vozes ecológicas pela federação planetária



O que pensam que sou e o que realmente sou


Durante a Conferência de Estocolmo sobre o meio ambiente humano, em 1972, Josué de Castro, autor de Geografia da Fome, sugeriu que os delegados nacionais ali presentes deveriam trabalhar pela criação de instituições globais, que se originariam da delegação parcial de soberania dos estados-nação. Sua proposta baseava-se na ideia de que a biosfera só pode ser protegida por algum tipo de lei mundial. 
Josué de Castro
Várias décadas se passaram desde então e nesse período as questões ambientais e climáticas deixaram de ser periféricas. No século XXI, a crise ecológica é uma realidade evidente, que agrega um forte motivo para se caminhar na direção de unidade política capaz de dar respostas a desafios ambientais que ultrapassam fronteiras nacionais.
Fritjof Capra, em O Ponto de Mutação (p.389) escreveu que: “Durante a segunda metade do século XX, tornou-se cada vez mais evidente que a Nação-Estado já não é viável como unidade eficaz de governo. É grande demais para os problemas de suas populações locais e, ao mesmo tempo, confinada por conceitos excessivamente estreitos para os problemas de interdependência global. Os governos nacionais altamente centralizados de hoje não são capazes de atuar localmente nem de pensar globalmente.[1]                                                
Edgar Morin
Edgar Morin nos lembra, em O grande projeto: “É necessário abandonar o humanismo que faz do homem o único sujeito num universo de objetos e lhe propõe como ideal a conquista do mundo. Esse humanismo pode fazer do homem um Gengis Khan do sistema solar e conduzi-lo à autodestruição pelos próprios poderes que engendrou. É também necessário abandonar o naturalismo que asfixia e dissolve o homem na natureza. Entretanto, devemos fazer regenerar a ideia de homem e a de natureza. O homem não é uma invenção arbitrária desmascarada pelo estruturalismo, mas um produto singular da evolução biológica que se autoproduz na sua própria história. A natureza não é uma imagem de poeta, é a realidade ecológica mesmo, a realidade de nosso planeta Terra.” ... “Uma consciência nova apareceu depois dos anos 60. Antes de tudo, a ecologia nos mostrou que a biosfera constituía uma espécie de eco-organização natural, e que sua degradação teria consequências irremediáveis não apenas para a vida em geral, mas para o próprio homem. ”...."Lá onde cresce o perigo, cresce também o que salva," disse Holderlin. O perigo nos aconselha uma alta autoridade planetária, superior às nações e aos impérios, que teria poder sobre os problemas eco biológicos vitais da Terra”.[2] 
 Outras vozes, como a de James Lovelock, formulador da teoria de Gaia, também faz a crítica ao humanismo e ao antropocentrismo e afirma que “nossa tarefa como indivíduos é pensar em Gaia primeiro. Isso não nos torna desumanos ou indiferentes. Nossa sobrevivência como espécie depende totalmente de Gaia e de aceitarmos sua disciplina.” (Gaia, Pg. 137)
 À medida que os recursos naturais se esgotam ou escasseiam, tendem a se acirrar disputas e conflitos de interesses, violência e guerras. Tais conflitos também se acirram em períodos de crise econômica, nos quais o estrangeiro, o migrante, o refugiado é visto como um competidor pelo emprego, um adversário ou um inimigo a ser derrotado.
A consciência ecológica ajuda a avançar de um egoísmo míope e ignorante para uma forma mais ilustrada e esclarecida de egoísmo; ou, até mesmo, para o altruísmo. A eco ação focaliza o interesse da vida em que a missão de zelar pelos bens comuns e de cuidar do patrimônio coletivo cabe a todos e a cada um, de acordo com suas competências e atribuições, no seu próprio auto interesse.
Isso pode parecer utópico ou irrealizável num mundo cuja consciência dominante é regida pela competição e pela busca de interesses gananciosos particularistas.
Diante de iminente colapso climático, a união numa federação planetária é uma estratégia de fortalecimento mútuo. A diplomacia solidária, a cooperação sem imposição de condicionalidades e sem fins lucrativos, a não ingerência em assuntos internos de outros povos e sociedades, proporcionam mais segurança coletiva e distensionam o ambiente social e político. 





[2] Edgar Morin, em O Grande Projeto, (Anal. & Conj., Belo Horizonte, v. 3, n. 2, maio/ago.1988)

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