O que pensam que sou e o que realmente sou |
Durante a Conferência de Estocolmo sobre o meio
ambiente humano, em 1972, Josué de Castro, autor de Geografia da Fome, sugeriu
que os delegados nacionais ali presentes deveriam trabalhar pela criação
de instituições globais, que se originariam da delegação parcial de soberania
dos estados-nação. Sua proposta baseava-se
na ideia de que a biosfera só pode ser protegida por algum
tipo de lei mundial.
Josué de Castro |
Várias décadas se passaram
desde então e nesse período as questões ambientais e climáticas deixaram de ser
periféricas. No século XXI, a crise
ecológica é uma realidade evidente, que agrega um forte motivo para se caminhar
na direção de unidade política capaz de dar respostas a desafios ambientais que
ultrapassam fronteiras nacionais.
Fritjof Capra, em O Ponto de Mutação (p.389) escreveu que: “Durante
a segunda metade do século XX, tornou-se cada vez mais evidente que a
Nação-Estado já não é viável como unidade eficaz de governo. É grande demais
para os problemas de suas populações locais e, ao mesmo tempo, confinada por
conceitos excessivamente estreitos para os problemas de interdependência
global. Os governos nacionais altamente centralizados de hoje não são capazes de
atuar localmente nem de pensar globalmente.[1]
Edgar Morin |
Edgar Morin nos lembra, em O grande projeto: “É necessário abandonar o humanismo que faz do
homem o único sujeito num universo de objetos e lhe propõe como ideal a
conquista do mundo. Esse humanismo pode fazer do homem um Gengis Khan do
sistema solar e conduzi-lo à autodestruição pelos próprios poderes que
engendrou. É também necessário abandonar o naturalismo que asfixia e dissolve o
homem na natureza. Entretanto, devemos fazer regenerar a ideia de homem e a de
natureza. O homem não é uma invenção arbitrária desmascarada pelo
estruturalismo, mas um produto singular da evolução biológica que se autoproduz
na sua própria história. A natureza não é uma imagem de poeta, é a realidade
ecológica mesmo, a realidade de nosso planeta Terra.” ... “Uma consciência nova
apareceu depois dos anos 60. Antes de tudo, a ecologia nos mostrou que a
biosfera constituía uma espécie de eco-organização natural, e que sua
degradação teria consequências irremediáveis não apenas para a vida em geral,
mas para o próprio homem. ”...."Lá onde cresce o perigo, cresce também o
que salva," disse Holderlin. O perigo nos aconselha uma alta autoridade
planetária, superior às nações e aos impérios, que teria poder sobre os
problemas eco biológicos vitais da Terra”.[2]
Outras vozes,
como a de James Lovelock, formulador da teoria de Gaia, também faz a crítica ao
humanismo e ao antropocentrismo e afirma que “nossa tarefa
como indivíduos é pensar em Gaia primeiro. Isso não nos torna desumanos ou
indiferentes. Nossa sobrevivência como espécie depende totalmente de Gaia e de
aceitarmos sua disciplina.” (Gaia, Pg. 137)
À medida que os recursos naturais se
esgotam ou escasseiam, tendem a se acirrar disputas e conflitos de interesses,
violência e guerras. Tais conflitos também se acirram em períodos de crise
econômica, nos quais o estrangeiro, o migrante, o refugiado é visto como um
competidor pelo emprego, um adversário ou um inimigo a ser derrotado.
A consciência ecológica
ajuda a avançar de um egoísmo míope e ignorante para uma forma mais ilustrada e
esclarecida de egoísmo; ou, até mesmo, para o altruísmo. A eco ação focaliza o interesse
da vida em que a missão de zelar pelos bens comuns e de cuidar do patrimônio
coletivo cabe a todos e a cada um, de acordo com suas competências e
atribuições, no seu próprio auto interesse.
Isso pode parecer
utópico ou irrealizável num mundo cuja consciência dominante é regida pela
competição e pela busca de interesses gananciosos particularistas.
Diante de iminente colapso
climático, a união numa federação planetária é uma estratégia de fortalecimento
mútuo. A diplomacia solidária, a cooperação sem imposição de condicionalidades
e sem fins lucrativos, a não ingerência em assuntos internos de outros povos e
sociedades, proporcionam mais segurança coletiva e distensionam o ambiente
social e político.
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