terça-feira, 13 de setembro de 2016

ECOLOGIA NO COTIDIANO



No dia a dia, desde o despertar até o adormecer, cada ação individual tem efeitos sobre o ambiente.
Somos seres humanos multidimensionais e desempenhamos vários papéis. Cada um dos papéis que exercemos na vida diária – como educadores, trabalhadores, contribuintes, lideres etc- oferece oportunidades para a ação ecológica.

A vida cotidiana é pródiga em oportunidades de ação consciente. Cada um pode, a cada momento, dar sua contribuição pessoal para reduzir a pressão sobre a natureza: na vida pessoal, por meio dos hábitos alimentares, da educação dos filhos, dos hábitos de consumo, das práticas frugais, vivendo conforme os princípios da simplicidade voluntária, da austeridade feliz, do conforto essencial.
Em casa, podem-se evitar desperdícios de água, de energia, de alimentos. Pode-se alimentar de forma ecologicamente adequada, reduzindo o consumo de proteínas animais que são, do ponto de vista da ecologia energética, mais pressionadoras do ambiente do que os produtos de origem vegetal.
A redução do consumismo e do acúmulo de bens materiais protege o ambiente ao reduzir as pressões sobre os recursos naturais. O consumidor responsável pode adotar padrões sustentáveis de consumo e atitudes frugais; reduzir o volume e peso dos produtos consumidos; reduzir desperdícios de água, alimentos e produtos que provoquem pressões sobre o ambiente; pode adotar valores pós-materialistas, que desassociem a noção de qualidade de vida da posse material. Como consumidores, podemos boicotar os produtos que tenham produzido impactos ambientais negativos durante sua produção, e preferir aqueles que tenham o selo verde; evitar o consumo supérfluo, que pressiona a natureza e, especialmente, os recursos naturais não renováveis. Podemos selecionar os produtos que compramos a partir de critérios ecológicos; adotar estilo de vida de baixo impacto e baixa demanda de carbono. Podemos tornar mais leve o peso da pegada ecológica sobre o Planeta. Numa perspectiva mais radical, o voto de pobreza é uma opção ecológica, que reduz os riscos da ganância, da voracidade e da ambição pelo acumulo de patrimônio e de riqueza material. Nessa perspectiva, ter à disposição menor quantidade de bens materiais não significa desfrutar de pior qualidade de vida. Tudo isso implica em mudar desejos, paixões, necessidades, vontades; em suma, transformar as consciências e as energias que movem a ação humana.

Na mobilidade para o trabalho, compartilhar o mesmo veículo com outras pessoas ou usar a bicicleta ou o transporte coletivo ajudam a economizar energia e, portanto, a reduzir a poluição do ar, com ganhos para a saúde. Em nossa sociedade, voraz no consumo de energia produzida por várias fontes – da nuclear àquela extraída do subsolo e que se transforma nos diversos produtos derivados do petróleo – a produção e o uso de energia são uma das principais fontes de problemas ambientais, a exemplo do efeito estufa, causado pela emissão de gases para a atmosfera.
Como trabalhadores, podemos criar e adotar tecnologias e processos de produção limpos e sustentáveis: gastar o mínimo possível o papel para salvar árvores e florestas; reduzir a geração de resíduos; colaborar para a harmonização e a sinergia que aproveitem a energia individual e a direcione para objetivos coletivos.
Varias listas e manuais de “faça elas mesmo” dão dicas sobre o que fazer para reduzir sua pegada ecológica, sua pegada hídrica, como reduzir as emissões individuais de gases que provocam o efeito estufa, como adotar um estilo de vida de baixo impacto.
Os alimentos passam por um ciclo da produção antes de chegarem à mesa. Estarão eles contaminados com agrotóxicos, cujas embalagens poluem os rios, bem como a saúde dos trabalhadores rurais? Terão sido produzidos adotando os princípios e práticas da agroecologia? Os rejeitos e desperdícios da refeição vão para o lixo. Ele é tratado e disposto em locais adequados? Será reciclado ou reaproveitado? Ou será despejado em lixões nos quais crianças pobres vão retirar seu sustento, como ocorre com mais de 50.000 crianças brasileiras?
Escovar os dentes e tomar banho gastam água encanada, que jorra da torneira. De onde ela vem? Para onde vai depois de usada? Qual o tratamento pelo qual passou? Qual o estado dos mananciais onde ela foi captada? Para onde vão os esgotos que recebem a urina e fezes: são lançados ao natural, poluindo os rios, ou passam por tratamento?
Ao final de cada dia podemos nos perguntar: quais foram as minhas boas eco-ações, pelas quais fiz a minha parte para melhorar a qualidade de vida, reduzindo o sofrimento das pessoas e do ambiente?
Como produtores e empresários, podemos transcender as preocupações com o lucro financeiro e adotar praticas de responsabilidade socioambiental. Os fundos de investimentos éticos – que aplicam recursos em empreendimentos sustentáveis – são uma opção de investidores conscientes e responsáveis. Como correntistas, podemos optar por bancos que demonstrem ter compromisso com a sustentabilidade e não façam apenas um marketing enganoso. Os bancos podem assumir a responsabilidade ecológica pelo destino que dão a seus empréstimos e considerar os impactos por eles causados.
Como eleitores, podemos votar em políticos que tenham compromisso ecológico e eleger candidatos que tomem decisões, nas políticas públicas e na administração, conscientes dos desafios climáticos e ecológicos. Os governantes precisam ter visão de futuro, para além de seus objetivos eleitorais. Os governos precisam ser proativos e proporem normas e regulamentos que estimulem o avanço tecnológico e as tecnologias limpas. A ação de governo convida à participação de todos ou pode ser ditatorial e autoritária.
Como contribuintes, podemos influir ativamente, por meio de escolhas nos orçamentos participativos, ou de doações e deduções fiscais, no destino dado aos tributos que recolhido do nosso trabalho e da riqueza que ajudamos a gerar.
Como cidadãos, podemos exercer direitos e sermos corresponsáveis pela qualidade do meio ambiente; evitar sujá-lo; associar-nos a movimentos coletivos pelo ambiente e depurar nosso próprio ambiente interior do corpo, da mente e das emoções. Cada um de nós é um ser em evolução que na vida cotidiana pratica atos de respirar, alimentar-se, exercitar o corpo. A respiração consciente, a alimentação consciente, as posturas conscientes podem parecer pequenas, mas são essenciais. Podemos aplicar aos relacionamentos interpessoais os princípios da tolerância, ética, honestidade, não violência.
No âmbito coletivo, ação relevante é participar de associações locais, de vizinhança, regionais ou globais, que lutem por melhorias e pela saúde do ambiente; organizar redes e associações para pressionar as empresas e os governos a despertar para a gravidade dos problemas ambientais e climáticos. As práticas da democracia direta e da participação encontram novas opções com o uso da internet, que permite pressionar os tomadores de decisão com mensagens por causas ecológicas. A partir dos teclados de computadores, compartilham-se ideias, constrói-se cultura e faz-se ação política sem sair de casa.
Mulheres, agricultores, autoridades locais e cada um dos grupos da sociedade podem ser sujeitos ativos de mudanças em seu campo de ação.
Os jovens podem informar-se, estar conscientes, não se deixar manipular por propaganda ou por apelos de consumo fácil. Indignar-se com injustiças e lutar por ideais para além dos interesses materiais básicos.
Essas são algumas das formas de se exercer a ação ecológica no cotidiano. A somatória de pequenas ações individuais pode melhorar o todo, mas não é suficiente para fazê-lo. A magnitude dos problemas atuais nesse estágio terminal da era cenozóica exige que tomemos consciência de que cada um de nossos atos cotidianos tem consequências diretas e imediatas e também repercutem na direção que tomará a evolução da vida na Terra.

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