Há vários anos tenho dado seminários na Unipaz do Rio de Janeiro, no
curso de desenvolvimento humano integral na abordagem transdisciplinar. Na edição de 2016, o tema foi
ecossustentabilidade. A turma tinha perfil profissional variado: havia
assistente social, administrador, psicólogo, médico, gestor, marqueteiro,
terapeuta, educador e advogado.
A espinha dorsal do seminário é a relação entre cultura ambiental e
cultura de paz, a gestão ambiental e a gestão de conflitos. Trata-se de tema
estratégico no mundo contemporâneo, em que cresce a população humana e suas
demandas materiais e crescem também os conflitos e disputas relacionados com ao
acesso e uso aos recursos naturais. Serviu como suporte ao tratamento do tema
dos vínculos entre gestão da água e cultura da paz uma apostila com os textos
O tema da água e sua gestão tornou-se de grande interesse nos últimos anos,
devido à crise hídrica. Abordei a importância da alocação
negociada de água e da gestão participativa em comitês
de bacias, projetando filmes de animação produzidos pela ANA, filmes sobre os movimentos de marés dos
oceanos com a temática
da conservação e não
desperdício da agua. Ressaltei a importância da
hidroalfabetização.
Realcei a importância cada vez maior de dispormos de conhecimento e de informações
que apoiem a compreensão sobre o ambiente interior e exterior e que auxiliem
nas tomadas de decisão diante dos desafios das mudanças climáticas e das transformações
aceleradas pelas quais passa o planeta. Nessa sintonia, trabalhamos com as questões da educação, da consciência
e do consumismo, da ecologia aplicada ao cotidiano, tendo nos apoiado nos
textos sobre Dez
caminhos para expandir a consciência ecológica
, Ecologia
no cotidiano, Consumismo infantil e descondicionamento da
consciência
Trabalhamos em leitura silenciosa, em discussão em grupo e com apresentações
pelos grupos.
A pegada ecológica como indicador de sustentabilidade foi estudada a
partir do texto Caminhando
com leveza e calculamos nossa
pegada ecológica. A média
da pegada ecológica da turma é o dobro da pegada ecológica brasileira. Alimentação,
mobilidade em automóveis, geração de resíduos foram fatores que fizeram pesar
mais essa pegada.
Temos
alguns caminhos a trilhar: o primeiro é reduzir
o peso de nossa pegada ecológica, alterando hábitos cotidianos de alimentar-se
deslocar-se, de consumir, optando pela simplicidade voluntária, a frugalidade,
o conforto essencial. Outro caminho relevante é preparar-nos para lidar com o
agravamento da situação climática e ambiental, por meio da mediação e prevenção
de conflitos, das disputas por recursos naturais e por agua, e evitando que
tais conflitos sejam resolvidos por meio da violência. Isso implica em cada vez
mais investir o autoconhecimento, na ecologia interior, conhecendo melhor as
motivações, interesses, crenças, desejos dessa nossa espécie que já influi no
rumo da evolução no planeta, nessa época antropocena da história.
Para
desenvolver uma abordagem holística e integral, é relevante abordar o tema da
ecologia em sua escala cósmica, como o faz Carl Sagan no filme sobre o pálido ponto azul. Percorremos
várias escalas, do
macro ao micro, por meio de filme Zoom cósmico. Mudanças de escalas são eficazes para dissolver a
fantasia da separatividade e para mostrar nossa total integração com o micro e
o macro cosmos. Belas imagens do
Telescópio Hubble mostram aspectos da ecologia cósmica.
O papel
da arte e sua importância para a sensibilização e a comunicação sobre os temas climáticos
e ambientais foi também realçada. O exemplo da abertura das Olimpíadas e da
mensagem ecológica que transmitiu ainda estava na memória de todos.
Ressaltei o papel que o Rio de
Janeiro tem tido na expansão da consciência ecológica no Brasil, ao sediar a
Eco-92, a Rio+20, a abertura das Olimpíadas e o Museu do Amanhã. Já
visitado por milhares de crianças, adultos e idosos. Seria ótimo que em cada
grande cidade brasileira fosse montado um museu similar, para ajudar na
formação da consciência ecológica numa perspectiva evolutiva. Ainda falta muito
para traduzir em ações práticas as ideias e propostas ecológicas, mas a clara
formulação das ideias é um primeiro passo importante. O maior adversário da
sustentabilidade é a ignorância.
Atuei como um curador ao selecionar filmes e montar apresentações muito
maiores do que o que cabia nas 12 horas do seminário. Como o tema é muito
amplo, durante o workshop os temas fluíram em função do interesse manifestado
pelos aprendizes. Assim, o seminário tornou-se interativo, participativo,
aderente com as motivações de cada um. Isso exigiu atenção para as sugestões
dadas pelos aprendizes, e adaptação da dinâmica e do conteúdo do seminário, ao
sabor do interesse manifestado pelos aprendizes.
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