quarta-feira, 22 de maio de 2019

Dissolvendo o ego

 Lua cheia de Buda em Sobradinho.
O Buda e os Brahma Kumaris dizem que  o ego está na origem de todo sofrimento.
Se é assim,  dissolver o ego pode  dissipar o sofrimento. Cultivar o ego  e o egoísmo pode ser um modo de ser  masoquista, de buscar o sofrimento.
Durante a lua cheia de Buda em maio  de 2019  postei isso no facebook, e uma amiga comentou que esta é  uma proposta pouco exequível.
Concordo, pois, se fosse muito exequível, muita gente já teria conseguido dissolver seus egos, livrar-se dos sofrimentos próprios ou de infligir sofrimento a outros. Essa também pode ser uma proposta exequível por poucos, como o Buda por exemplo, que dizem ter alcançado a iluminação ou moksha, o estado mais elevado em que  um ser se une a Deus. Se ele o alcançou, por que eu ou cada um de nós não podemos fazer o mesmo?
Nós também somos filhos de Deus, temos em nós o DNA de Deus, a centelha ou chispa divina que pode ser cultivada e expandida. Essa consciência é explicitada no conhecido cumprimento hindu do Namasté: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.”  Nessa concepção, Deus não está apenas lá nas alturas, acima de todos, mas está dentro de cada um.
Outra amiga perguntou: Quando conseguiremos?
Para a espécie humana,  não há uma resposta geral para essa indagação. Para indivíduos pode variar, alguns podem alcançar essa dissolução do ego antes do que outros, em função de seu grau de consciência e de sua capacidade para colocar em prática esse trabalho de dissolução e  de autoconhecimento. Quando muito indivíduos conseguirem colocar isso em prática, além de sua própria evolução eles contribuirão também para a evolução da  espécie. Sri Aurobindo visualizou o advento de uma era subjetiva ou de uma era espiritual e ressaltou a importância dos indivíduos: ““A vinda da era espiritual deve ser precedida pelo aparecimento de um número crescente de indivíduos que não estão mais satisfeitos com a existência intelectual, vital e física do homem, mas percebem que uma evolução maior é a verdadeira meta da humanidade e tentam efetuá-la em si mesmos, guiar outros para ela e fazer dela o objetivo reconhecido da espécie.”  Ele realça que o humano é um ser em transição na evolução e que pode aspirar a se tornar algo mais.  Ele propõe que se renuncie ao egoísmo que  está na raiz da ação individual ou coletiva,  ao ego que só pode pensar colocando-se como centro. Ele realça que no campo do ego coletivo, a  visão egoística nacional na Alemanha levou ao erro da guerra e que o egoísmo internacional também pode ser um erro.

Sri Aurobindo observa que  a renúncia aos desejos pessoais de natureza vital pode ser um caminho para abandonar o ego. “O último nó de nossa servidão se encontra naquele ponto onde o exterior se torna um com o interior, onde o mecanismo do próprio ego se sutiliza ao ponto de desaparecimento e onde a lei de nossa ação é enfim a unidade que abraça e possui a multiplicidade, e não mais, como agora, a multiplicidade esforçando-se para reproduzir alguma imagem de unidade.”
Continua ele: “Quando retiramos nosso olhar de sua preocupação egoísta com interesses limitados e fugazes e consideramos o mundo com olhos desapaixonados e curiosos que buscam apenas a Verdade, o primeiro resultado é a percepção de uma energia ilimitada de existência infinita, movimento infinito, atividade infinita, que se derrama no Espaço sem limites, no Tempo eterno, uma existência que ultrapassa infinitamente nosso ego ou qualquer ego ou qualquer coletividade de egos, em cuja balança as grandiosas criações de eras são apenas a poeira de um momento, e em cuja soma incalculável inumeráveis miríades contam apenas como um enxame insignificante.”(Sri Aurobindo, A Vida Divina, Livro I, capítulo 9 - O Puro Existente).
 
Dissolver o ego é uma utopia possível?

 

 

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