sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A cosmovisão indiana e sua contribuição para o futuro da humanidade

Maurício Andrés
Os povos que se estabeleceram no subcontinente indiano, ao invés de se ocuparem  com conquistas externas, voltaram-se para conquistas internas, para o autoconhecimento, a psicologia, a busca da conexão com o cosmos. Para tanto, precisaram conhecer a fundo o corpo e desenvolveram práticas de respiração, posturas corporais, alimentação, cuidados com a saúde física. Compreenderam a energia que existe no corpo vivo, compreendendo as funções dos chacras ou centros energéticos.
A energia no corpo humano, nos chakras concebidos pelos indianos.
Asanas ou posturas corporais no ioga  resultam de profundo conhecimento sobre o corpo e sua relação com a mente e as emoções.
Precisaram conhecer a fundo a mente, por meio de práticas e exercícios de meditação que expandem os limites humanos, desenvolvem a atenção e presença no agora, a concentração, a criatividade nas artes e ciências.  Desenvolveram práticas mentais por meio do ioga e das alterações de estados de consciência na meditação. Desenvolveram uma sofisticada psicologia e conhecimentos sobre as emoções. Coomaraswamy observa que para cada termo de psicologia em inglês há quatro em grego e quarenta e sânscrito. A psicologia yogue faz experimentações em faixas da consciência que não são aceitas pela maior parte dos campos da psicologia ocidental, exceto a transpessoal.
Os indianos desenvolveram uma elaborada filosofia e cosmovisão, permeada por conhecimentos espirituais. Na narrativa sobre a criação do universo, desenvolveram uma concepção cíclica do tempo, não linear. Conceberam  a narrativa de que os universos são criados conforme o ritmo da respiração de Brahman, o deus absoluto. A narrativa hindu da criação e da extinção do mundo tem grande similaridade com as concepções mais atuais da ciência, do big bang ao big bounce. Pode ser que um dia a ciência adote a narrativa da grande respiração.
A unidade humana é valorizada por seus grandes pensadores, tais como Gandhi, Sri Aurobindo e Tagore, para além das micro unidades nacionais ou regionais e das micro identidades que separam.  A arte indiana expressa a espiritualidade e a toma como motivo prioritário. A Vedanta, a sabedoria das escrituras sagradas, os Vedas, desenvolveu a concepção de que Deus está dentro de cada um e não apenas em cima e no alto. O Namasté é o cumprimento tradicional que reflete isso : O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti.” Sacralizaram bichos e arvores, rios e montanhas. Experimentaram de tudo e valorizaram a experimentação e não apenas o acreditar numa verdade externa dogmatizada.
Na Vedanta, Deus está dentro e práticas de meditação permitem acessá-lo.
Na relação com o tempo desenvolveram a paciência e a capacidade de evoluir sem sacrificar valores fundamentais como o das liberdades individuais, especialmente a liberdade espiritual, de pensamento e de expressão. Sempre atuaram com a força de seu soft power, o poder suave de sua cultura e cosmovisão: “A Índia, fiel ao seu motivo espiritual, nunca participou dos ataques físicos da Ásia contra a Europa; seu método sempre foi uma infiltração do mundo com suas ideias, como hoje vemos novamente em andamento.“ (Sri Aurobindo –  IS INDIA CIVILISED? “The Renaissance in India”, pp. 53-66)
A espiritualidade é um dos principais motivos da arte indiana.
Por  suas características únicas a Índia oferece contribuições fundamentais nessa fase da história em que o mundo encolheu, em que se evidenciam os seus limites físicos e ecológicos e de sua capacidade de suporte. O soft power indiano amadurecido em milênios de história torna-se valioso pois ali se experimentaram formas de convivência, de tolerância, de paciência, de não violência, de frugalidade, de convivência com a diversidade, cada vez mais necessárias no mundo contemporâneo.
 
 
 

Um comentário:

FÁBIO LEHMAN disse...

Maurício, seu texto é muito bom e consegue trazer bastante informações sobre esse distante interessante e pioneiro povo!