Maurício
Andrés
Os povos que se
estabeleceram no subcontinente indiano, ao invés de se ocuparem com conquistas externas, voltaram-se para
conquistas internas, para o autoconhecimento, a psicologia, a busca da conexão
com o cosmos. Para tanto, precisaram conhecer a fundo o corpo e desenvolveram práticas
de respiração, posturas corporais, alimentação, cuidados com a saúde física. Compreenderam
a energia que existe no corpo vivo, compreendendo as funções dos chacras ou
centros energéticos.
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A energia no corpo humano, nos chakras concebidos pelos indianos. |
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Asanas ou posturas corporais no ioga resultam de profundo conhecimento sobre o corpo e sua relação com a mente e as emoções. |
Precisaram
conhecer a fundo a mente, por meio de práticas e exercícios de meditação que expandem
os limites humanos, desenvolvem a atenção e presença no agora, a concentração,
a criatividade nas artes e ciências. Desenvolveram
práticas mentais por meio do ioga e das alterações de estados de consciência na
meditação. Desenvolveram uma sofisticada psicologia e conhecimentos sobre as
emoções. Coomaraswamy observa que para cada termo de psicologia em inglês há quatro
em grego e quarenta e sânscrito. A psicologia yogue faz experimentações em
faixas da consciência que não são aceitas pela maior parte dos campos da psicologia
ocidental, exceto a transpessoal.
Os indianos desenvolveram
uma elaborada filosofia e cosmovisão, permeada por conhecimentos espirituais. Na
narrativa sobre a criação do universo, desenvolveram uma concepção cíclica do
tempo, não linear. Conceberam a
narrativa de que os universos são criados conforme o ritmo da respiração de Brahman,
o deus absoluto. A narrativa hindu da criação e da extinção do mundo tem grande
similaridade com as concepções mais atuais da ciência, do big bang ao big
bounce. Pode ser que um dia a ciência adote a narrativa da grande respiração.
A unidade humana
é valorizada por seus grandes pensadores, tais como Gandhi, Sri Aurobindo e
Tagore, para além das micro unidades nacionais ou regionais e das micro
identidades que separam. A arte indiana
expressa a espiritualidade e a toma como motivo prioritário. A Vedanta, a
sabedoria das escrituras sagradas, os Vedas, desenvolveu a concepção de que
Deus está dentro de cada um e não apenas em cima e no alto. O Namasté é o
cumprimento tradicional que reflete isso : O Deus que habita em mim saúda o Deus
que habita em ti.” Sacralizaram bichos e arvores, rios e montanhas.
Experimentaram de tudo e valorizaram a experimentação e não apenas o acreditar
numa verdade externa dogmatizada.
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Na Vedanta, Deus está dentro e práticas de meditação permitem acessá-lo. |
Na relação com o
tempo desenvolveram a paciência e a capacidade de evoluir sem sacrificar
valores fundamentais como o das liberdades individuais, especialmente a
liberdade espiritual, de pensamento e de expressão. Sempre atuaram com a força
de seu soft power, o poder suave de sua cultura e cosmovisão: “A Índia,
fiel ao seu motivo espiritual, nunca participou dos ataques físicos da Ásia
contra a Europa; seu método sempre foi uma infiltração do mundo com suas
ideias, como hoje vemos novamente em andamento.“ (Sri Aurobindo – IS INDIA CIVILISED? “The Renaissance in
India”, pp. 53-66)
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A espiritualidade é um dos principais motivos da arte indiana. |
Por suas características únicas a Índia oferece
contribuições fundamentais nessa fase da história em que o mundo encolheu, em
que se evidenciam os seus limites físicos e ecológicos e de sua capacidade de
suporte. O soft power indiano amadurecido em milênios de história
torna-se valioso pois ali se experimentaram formas de convivência, de
tolerância, de paciência, de não violência, de frugalidade, de convivência com
a diversidade, cada vez mais necessárias no mundo contemporâneo.
Um comentário:
Maurício, seu texto é muito bom e consegue trazer bastante informações sobre esse distante interessante e pioneiro povo!
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