quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O valor da renascença indiana para lidar com a atual crise na evolução




A frugalidade nos hábitos cotidianos economiza os recursos da natureza. Lodi Park, Delhi.
Maurício Andrés Ribeiro

Gandhi, Sri Aurobindo e Rabindranath Tagore buscaram no conhecimento indiano ancestral inspiração e força espiritual para potencializar a luta política. Eles atuaram num período em que havia a luta pela independência da Índia contra a colonização europeia. Essa etapa passou e foi alcançado o resultado pelo qual lutaram.
O renascimento indiano se iniciou no século XIX quando Vivekananda e os teosofistas reconheceram o valor da cultura indiana menosprezada pelos colonizadores.  Um resultado expressivo dessa valorização foi a independência da Índia em 1947 aplicando-se conhecimentos da cultura védica.
Nos anos 60 a contracultura e os Beatles ajudaram a divulgar no ocidente os benefícios da meditação e do yoga.  O poder suave da cultura indiana se disseminou no mundo.
Hoje o mundo vive em outro contexto, o dos limites físicos e ecológicos do planeta diante de uma população crescente que consome e exaure os recursos da terra. A renascença indiana se fortalece e recebe um novo impulso mais de cem anos depois que  Tagore e  Sri Aurobindo escreveram sobre ela. A motivação que impulsiona o renascimento  indiano e sua influência no mundo atual está no reconhecimento dessas riquezas da Índia para a evolução humana.

No momento atual da história,  tornam-se  relevantes valores como o da frugalidade, que mantém uma pegada ecológica leve, a sacralização da natureza,  encontrar formas de se organizar de modo econômico  e ecológico. A Índia dispõe de conhecimentos e práticas  nesses campos, valiosos para o contexto atual.

Olhar para a Índia,  para seus problemas e as formas como lida e lidou  com eles constitui uma valiosa aprendizagem. Aquela civilização, entre todas as que existiram, soube ser sustentável em sua relação com o ambiente natural, forjando estilos de vida e padrões de consumo com baixa pressão sobre o meio ambiente e sacralizando bichos, plantas, elementos do ambiente natural.
Macacos em templo. A sacralização dos animais na cultura indiana.
 

Soube, ainda, desenvolver uma tecnologia das emoções para lidar com o equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual dos seres humanos e codificar de modo claro seus conhecimentos para transmiti-los para outras gerações. Outras civilizações antigas na África ou nas Américas também desenvolveram uma cosmovisão abrangente, mas talvez por não terem uma cultura escrita tão sofisticada, muito dessa sabedoria se perdeu no tempo.

Por sua diversidade cultural e política e por sua formação histórica, a Índia é uma nação multinacional, que mantém unidade na diversidade e que foi celeiro e campo fértil para ideias e propostas globalistas, mundialistas e voltadas para o federalismo mundial.

Soube ser resiliente em sua relação com outras culturas, por meio da capacidade de suportar invasões e de não se deixar destruir ou oprimir por outros povos; a civilização  indiana resistiu à colonização ocidental, absorveu influências e agora por sua vez influencia o mundo ocidental que a colonizou.

Especialmente no Brasil, fortemente influenciado pela cultura europeia e norte americana, há um déficit de conhecimento sobre tais riquezas da Índia, que poderiam ser valiosas para aprimorar a civilização brasileira, tropical como a da Índia. Além desse déficit, há preconceitos e visões negativas alimentadas por informações superficiais das atualidades e que não valorizam a sabedoria ancestral ali formulada e guardada.  O  menosprezo e desprezo pela cultura védica  demonstrados pelos colonizadores europeus há um século ainda persiste na mídia e influencia as percepções sobre aquele país. Entretanto essa percepção vem sendo dissolvida à medida que se buscam novos caminhos para superar os impasses e as encrencas em que se meteu a humanidade.

 Quando confrontada com possível colapso, com inseguranças e insustentabilidade, a consciência humana busca socorro em cosmovisões que valorizam a sustentabilidade e a frugalidade como antídotos para esses descaminhos.

Atualmente a Ásia reassume protagonismo no mundo por sua relevância em termos demográficos, políticos, econômicos, culturais. Na Ásia, a civilização  indiana se destaca pelo modo como se organizou, como desenvolveu práticas de autoconhecimento, nunca agrediu ou invadiu outros povos e territórios, valorizou a inteligência espiritual,  registrou e codificou os conhecimentos sobre sustentabilidade que experimentou na prática. A renascença indiana está em curso e sua contribuição para a história humana nesse momento de crise na evolução vem sendo dada por meio do poder de sua espiritualidade e da sua riqueza intangível e imaterial.

 

 

 

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