Maurício Andrés Ribeiro
O Covid-19
se espalhou a partir de um mercado de animais silvestres na China. Outras
pandemias também aconteceram a partir de vírus que saltaram de animais para
humanos. Pandemias
colocam a nu a relação dos seres humanos com os animais. Quando se
destroem os habitats de animais silvestres, eles migram para as cidades e seu
contato com humanos passa a ser mais
frequente e perigoso.
A COVID-19 acelerou reflexões sobre a
importância da proteção das florestas para prevenir futuras
pandemias,
da biodiversidade e da redução do desmatamento para reduzir as zoonoses, doenças transmitidas por animais.
A pandemia ajuda a tornar mais
respeitosa a relação humana com os animais, reduzindo
a caça, a matança, o uso na alimentação, bem como o tráfico de animais silvestres, que traz risco ecológico, sanitário e
humanitário.
Um efeito colateral da pandemia em 2020
é o de aumentar a consciência sobre a necessidade de redesenhar o relacionamento humano com os
animais de modo mais compassivo e solidário, deixando de considerá-los como
coisas e objetos, inclusive na moda. Os animais passam a ser reconhecidos
como pessoas não humanas, seres sencientes que merecem cuidado e compaixão como
fez a Nova
Zelândia.
A abolição dos animais silvestres do menu dos
chineses
deve ser saudada, evoluindo na linha do que já fez a vizinha civilização
indiana, há milênios, ao valorizar o vegetarianismo oferecendo lições
importantes para banir o carnivorismo . Na civilização indiana são
sacralizados como deuses: Nandi, o boi sagrado; Subramanian, a serpente,
Ganesh, o elefante, Hanumam, o macaco, entre muitos outros. Tornam-se evidentes
os benefícios do vegetarianismo e os custos do carnivorismo que impulsiona a devastação florestal.
Macaco no ashram de Dayananda em Rishikesh |
As fábricas de animais (frangos, porcos,
bovinos) e a pecuária
industrializada com animais confinados com
sistemas imunológicos deprimidos foi identificada como facilitadora de pandemias como aponta Sr David Attenborough. O vírus se
espalha em frigoríficos cujas linhas de desmontagem de animais são espaços de
risco.
Como outro efeito colateral da quarentena os animais voltaram a espaços deixados
vazios de ocupação humana. Golfinhos passaram a sentir saudade dos
humanos
e a presenteá-los. Tartarugas
e peixes voltaram a rios e baias; os pavões repovoaram Délhi; cervos descansaram debaixo de cerejeiras no
Japão.
A pauta da
fauna já aparecera com força nos últimos tempos nas sociedades de defesa dos
animais, em conselhos de meio ambiente e nos parlamentos, cuidando de animais
silvestres, termos de guarda, uso de
animais em entretenimento. Festivais de
filmes sobre animais combateram o especismo e o antropocentrismo. O
Partido dos animais holandês foi criado ao se constatar que outros partidos
e mesmo o partido verde, não conferiam prioridade em seus programas à defesa
dos animais.
A pandemia do coronavirus
em 2020 acelerou a consciência sobre os custos de um relacionamento
antropocentrado dos humanos com os não humanos. Jogou luz sobre a importância de evoluir para modos de relacionamento mais amigáveis, mais sensíveis, nos quais os
animais deixem de ser vistos apenas como coisas ou objetos e nos quais seus
habitats naturais e a saúde ambiental sejam protegidas para reduzir riscos à
saúde humana por futuras pandemias.
Três modos de relacionamento dos humanos com a vida animal |
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