O
principal efeito colateral da pandemia foi uma aceleração na consciência. Explicitou-se
a percepção da fragilidade e vulnerabilidade humana. A pedagogia do susto
atuou como um freio de arrumação para uma eventual mudança de rumo que adie o
fim do mundo humano. Ela freou a imprudência, a arrogância e induziu a uma
atitude de maior humildade e de cooperação em esforços conjuntos para alcançar uma
vacina ou um remédio. Foi um sinal amarelo que despertou para necessidade de se
viver em maior harmonia com a natureza. Talvez ela tenha promovido alguma
unidade humana e algum sentido de fraternidade e solidariedade diante da
constatação de que o maior perigo é o ódio, a ganância e a
ignorância, como diz Yuval Harari.
A pandemia é um evento integrante da crise da evolução em que vivemos. |
A pandemia
não é um evento extraordinário isolado. Ela é um sinal precursor de outros
eventos que estão por vir nessa mega crise da evolução em que estamos, no final da era cenozoica – a
era dos mamíferos - caracterizada por perdas aceleradas de biodiversidade,
mudanças do clima e outros problemas. É nesse contexto de final de uma era na
evolução que se situam as várias crises que vivemos. Entre elas acontece agora a
pandemia, que resulta de uma relação estressada do ser humano com os animais e
com a natureza.
Estamos no final da era cenozoica em transição para uma era em que será crucial a evolução da consciência humana. |
Para atravessar esse tempo instável
até chegar - quem sabe? – a um futuro menos turbulento, o melhor caminho não é tentar
voltar a um passado nostálgico, romântico, lírico, como se fosse possível
retornar à proteção no útero da mãe: não há volta. Negar a crise é agir como um avestruz que
enfia a cara na terra, não quer enxergar e retarda as respostas corajosas e
inovadoras que precisam ser dadas às situações emergentes.
Uma postura afirmativa e que
encara de frente a realidade emergente, exige capacidade de adaptação, cabeça
fria diante de situações extremas, disposição
e espírito para aventurar-se em mares nunca dantes navegados. Essa
postura demanda preparação e
investimento. Será preciso apertar os cintos, estar em alerta permanente, com
atenção redobrada, com acuidade no
controle e na gestão de cada um, para não afundar na piscina da miséria; redobrar
os cuidados sanitários, para reduzir o risco de vida. Repensar e inventar novas
práticas na relação dos humanos com o mundo natural e especialmente com os
animais. Será preciso ter conhecimento técnico e científico e perícia na gestão. Esse tempo é digital.
O
modo de vida básico depois da pandemia necessita, primeiramente, viver com menos
consumismo, com menos viajismo, e viagens supérfluas, com menos turismo, com menos carnivorismo, com menos agressão
aos animais silvestres, com menos pressões sobre a capacidade de suporte da
natureza. Em suma, é preciso reduzir as
normoses existentes no período anterior à pandemia.
Ao
mesmo tempo, trata-se de viver com maior sentido de unidade humana, para além
das diferenças, e com mais fraternidade
e responsabilidade. Isso se traduz em atitudes como a austeridade feliz, a
simplicidade voluntária, o conforto essencial e a frugalidade.
Será preciso preparo mental, emocional e espiritual para lidar com imaginação
e criatividade com o estresse e as tensões nessa época turbulenta.
O aprendizado e as lições da
atual pandemia poderão ser valiosos para se lidar com as próximas e com outros
eventos extremos e críticos que se anunciam.
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