Maurício Andrés Ribeiro
João Diniz me convidou para uma aula-conversa com ele e seus alunos na disciplina de TransArquitetura que ele criou e leciona em uma faculdade em Belo Horizonte. Conhecendo seu espírito aberto e criativo preparei uma apresentação com muita liberdade.
Iniciei por definir a palavra Trans. A primeira definição significa além de – beyond, como nas palavras Transdisciplinar, Transpessoal, Transformação, Transmutação, Transcendência, Transgênero. A segunda significa através de – through: Transparência, Transpantaneira, Transatlântico, Transiberiana. A terceira sugere transição, passagem de um estado para outro: Terra em transe. Terra em transição. Perguntei-lhe o que tinha em mente quando criou essa disciplina. Ele disse que procurava ir além do sentido da visão e buscar algo que envolvesse todos os sentidos: a audição, o olfato, o tato, o paladar etc. Uma arquitetura que fosse sensorial, envolvente, percebida integralmente.
Nessa videoaula-conversa durante a quarentena da pandemia há participantes em vários lugares. Cada um está em sua própria casa, que se tornou transfuncional. Os espaços da casa na quarentena precisam ser adaptados para essas múltiplas funções. Ela é lugar de morar, trabalhar, estudar, se exercitar, se divertir, meditar, viver. Os sobrados coloniais foram uma versão pioneira de home office: morava-se no andar de cima, com o comércio no andar térreo. As tecnologias da comunicação desterritorializaram o modo de se estudar. As tecnologias reduziram o diferencial urbano-suburbano-rural. Reduziram-se os custos com mobilidade – viagens, deslocamentos, pois o transporte mais limpo é o que se deixa de usar. Transportar informação é mais rápido, barato e limpo do que transportar pessoas, coisas, objetos. Há economia de energia e reduziram-se os custos ambientais, pois a energia mais limpa é a que se deixa de usar. Falei sobre os vários significados e efeitos colaterais da pandemia.
Em seguida, abordei o tema da ação: como agir diante dessa situação e nesse ponto recorri aos conceitos de karma – a ioga da ação- e de dharma – a missão ou tarefa que dá sentido e propósito à vida de cada um.(em outros textos abordarei essas partes da apresentação).
Antes de uma realidade se transformar, muitas vezes a semente da transformação está na cabeça e nos pensamentos, que depois se traduzem em projetos desenhados e em seguida tomam forma no mundo físico. Antes de existir, Brasília esteve num pedaço de papel desenhado e escrito, e antes disso esteve na cabeça de Lucio costa. Somos todos arquitetos, não somente de projetos que se tornarão espaços de casas e cidades, mas também de projetos de novas realidades sociais e ambientais.
Conclui a apresentação inspirado pela TransArquitetura integral do João. Precisamos sair desse transe hipnótico em que parecemos estar; ir além, enxergar através da neblina e realizar várias transições em direção a uma vida mais integral, menos compartimentada e com uma visão maior de unidade para além das especializações. Precisamos partir para o futuro rumo ao Transcapitalismo; Transsocialismo; Transcomunismo; Transconsumismo; Transviajismo; Transcarnivorismo; Transmaterialismo; Transnacionalismo; Transcorporativismo, Transespiritualismo; Transhumanismo.
Sri Aurobindo dizia que somos seres em transição, na evolução. Nossa espécie foi uma das últimas a chegar ao planeta. Se algum dia ela for extinta por causas naturais ou por seu próprio suicídio como espécie, não será a última forma de vida a habitar neste planeta.
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