segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A descarnivorização avança no Brasil

 

Maurício Andrés Ribeiro

O carnivorismo e os incêndios na Amazonia

Hamburguer vegetal em anúncios de página inteira na  mídia: um nicho de mercado disputado


No dia 26 de dezembro  de 2020 o jornal the New  York Times publicou  extensa matéria  sobre como o vegetarianismo tem crescido no Brasil nos últimos anos. A busca da saúde, por razões ecológicas e de compaixão para os animais são motivações que têm levado os brasileiros a fazerem essa opção alimentar. Num país em que a feijoada e o churrasco fazem  parte da cultura alimentar tradicional, é positiva essa disposição a mudar hábitos alimentares dos brasileiros e uma atitude responsável e consciente.

Nos últimos anos as redes sociais têm divulgado intensamente mensagens a favor de uma nova relação com os animais e denúncias sobre os impactos ambientais negativos do hábito alimentar carnivorista.  As redes sociais preenchem um vazio de informação  pois os grandes meios de comunicação  estão comprometidos com grandes anunciantes que são as indústrias alimentícias e da carne.

Muitas pessoas têm ligado os pontos e feito as conexões sobre como seus hábitos de vida contribuem para a devastação da Amazônia e o desmatamento.O consumo de carne em grande escala é prejudicial ao clima e à natureza. Quanto mais de descarnivorizar a sociedade, menor o impacto e a pressão sobre o ambiente. Cada quilo de carne exige muitos litros de água e vários hectares de terras seja para pastagens seja para produzir soja para alimentar os animais.A pegada de carbono, a pegada hídrica e a pegada ecológica tornam-se mais pesadas devido aos hábitos carnivoristas.

Há benefícios à  saúde ambiental e à economia de energia no vegetarianismo, que é muito menos impactante sobre o ambiente e o clima do que outros hábitos alimentares: as quantidades de água,  de insumos agrícolas e de área de terra necessária para alimentar vegetarianos são menores que as necessárias para alimentar carnívoros. Empresas de alta tecnologia, como Impossible foods pesquisam e colocam no mercado proteínas vegetais com baixo impacto climático e ambiental que viabilizam inclusive churrascos e feijoadas vegetarianas. Isso é relevante pois o vício de consumir carne está associado  ao prazer do paladar.

Mais recentemente grandes empresas passaram a produzir alimentos vegetarianos para atender à crescente demanda desse mercado, que aumenta à medida que a população toma consciência dos impactos ambientais negativos de seus hábitos alimentares.  A descarnivorização da sociedade é uma das formas mais efetivas de reduzir a pressão pelo desmatamento, os incêndios florestais, a caça e criação de animais silvestres para alimentos, a criação de animais em fazendas-fábricas e o frigoríficos, a pressão pela terra e pela água para produzir soja e carne e as mudanças no clima.   A pecuária industrializada em fazendas-fábricas com animais confinados  e tratados com crueldade e desrespeito com sistemas imunológicos deprimidos  (vacas, porcos, frangos)  produz as condições para que proliferem zoonoses ou doenças de origem animal.O vírus se espalha em frigoríficos cujas linhas de desmontagem de animais são locais úmidos e fechados, refrigerados e com congelamento. Elas se  tornaram locais de risco para a conservação dos vírus.

A pandemia se origina de relações estressadas com os animais e da devastação de seus habitats.

Sociedades carnivoristas produzem pandemias, a exemplo do coronavirus que se originou de destruição de habitats de animais silvestres e comercio de animais em mercados molhados sem higiene e favoráveis a contaminações e contágios.

Mercados em que se vendem animais silvestres, com precárias condições sanitárias são ambientes em que os vírus se  multiplicam e transmitem as zoonoses pelo contato próximo com os compradores. Em Pequim, um novo surto na China se originou num mercado que vende carne bovina e de cordeiros.   

A abolição dos animais silvestres do menu dos chineses deve ser saudada, evoluindo na linha do que fez a vizinha civilização indiana, há milênios, onde o vegetarianismo oferece lições para banir o carnivorismo que impulsiona a devastação florestal. Sociedades menos carnivoristas, como a indiana, reduzem  tais riscos. A difusão de receitas e ingredientes vegetarianos que produzem refeições saborosas facilita a mudança de hábitos alimentares e a renuncia ao carnivorismo. O vegetarianismo indiano mostra o caminho para uma dieta alimentar ecologizada no futuro.

Descarnivorizar a sociedade é um caminho para a prevenção de próximas pandemias.

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