“A responsabilidade de todos é o único caminho
para a sobrevivência humana.” Dalai Lama
Maurício Andrés Ribeiro
Não se nasce responsável,
aprende-se a ser responsável. Há vários estágios de desenvolvimento humano. Uma
criança pequena não sabe avaliar com clareza as consequências de seus atos. Não
tem a noção do risco que corre. Em situações de perigo, seus pais ou responsáveis têm
deveres de cuidar para que ela não se machuque ao agir de modo imprudente.
Um adolescente impetuoso age temerariamente
e se arrisca a sofrer danos. Um delinquente juvenil pratica conscientemente
crimes com consequências graves, mas não pode ser legalmente responsabilizado
por seus atos. Pessoas adultas são legalmente responsáveis e podem pagar por
seus erros.
Na pandemia de 2020 houve uma
aprendizagem relativamente rápida e intensa. O grau de conhecimento sobre a
doença aumentou ao longo dos meses, o que trouxe novas responsabilidades. Muita
coisa era desconhecida sobre o vírus. Houve insegurança, perplexidade e
desorientação. Alguns governos decretaram lockdowns gerais, outros deixaram
livres as opções para os cidadãos. Alguns informaram bem a população, outros negaram os fatos. Descobertas e novos
conhecimentos surgiram a cada dia. Consciência e conhecimento trazem
responsabilidade. Inconsciência e ignorância se associam a ações irresponsáveis. Assumir a responsabilidade por pensamentos, palavras e ações é sinal de
maturidade pessoal e coletiva.
A ciência trabalha com
experimentação, num processo de aproximações sucessivas à verdade. Na
inexistência de um conhecimento abrangente, a ciência foi negada. Quem tinha
insegurança se socorreu nas supostas verdades imutáveis das religiões. A
vontade divina foi invocada como a causa da pandemia. Umberto Eco observou que
“Justificar tragédias como "vontade divina" tira da gente a
responsabilidade por nossas escolhas.” Umberto Eco tem razão caso Deus seja colocado acima
de todos, no alto. Entretanto há outras maneiras de definir onde colocá-lo. Na tradição dos vedas, escrituras
sagradas hindus, Deus não está apenas acima, fora dos seres vivos, mas está
dentro de cada um. A saudação indiana do “Namasté” significa que “o Deus que
habita em mim saúda o Deus que habita em você”. Para além das aparências do
corpo, da mente, das emoções e sentimentos, haveria uma alma ou espírito, essência
divina nos seres vivos humanos.
No mundo atual, grande parte da
espécie humana, movida pela ignorância ou
por desejos do ego, age como um delinquente juvenil, praticando atos
danosos sem assumir as consequências e o
sofrimento que causa a si mesmo, a
terceiros e ao ambiente. Isso se aplica às pessoas físicas e especialmente às
pessoas jurídicas, empresas que
se comportam como sociopatas e não assumem suas responsabilidades
sociais e ambientais.
Ao evoluir, nossa
espécie pode superar a fase da busca
pelos interesses vitais e de satisfação dos desejos do ego. Pode entender seus
propósitos. Cada um pode descobrir o sentido de sua vida e se mover por uma relação amadurecida com os demais e
com o meio ambiente. Pode assumir a missão de cogerir conscientemente a evolução. Nossa espécie tem capacidade de restaurar
paisagens, de facilitar a regeneração do ambiente e de criar novos ambientes. Restaurar
ecossistemas em grande escala é uma meta favorável à saúde ambiental.
Quando evoluir,
cada indivíduo e sociedade pode lidar de modo responsável com as doenças
existentes e aprender a se comportar em simbiose
com a natureza e com os animais. Desse modo, pode prevenir a ocorrência de
outras pandemias e de outros tipos de eventos críticos que se anunciam no
horizonte.
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