quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

As superquadras de Brasília - um padrão urbanístico valioso na pandemia

 

 Maurício Andrés Ribeiro















Na pandemia as superquadras de Brasília, concebidas há mais de 60 anos por Lucio Costa, mostraram qualidades valiosas. Tornaram-se um padrão urbanístico desejável. As superquadras são uma concepção brasileira pioneira do que já foi chamado de  unidades de vizinhança. Nelas se anda a pé entre  as moradias – casas, prédios baixos, prédios com pilotis para circulação livre de pedestres e sem muros ou cercas; há área verde, lazer, playground para crianças, serviços - banca de jornal, sapataria, costureira - escola, posto policial, local de culto, correios, comércio local, metrô e transporte coletivo próximos, ciclovia, circulação local de veículos, estacionamento, passeios para pedestres, horta urbana etc. Oferecem ambientes  saudáveis e já testados pela prática e vivencia de mais de 60 anos, que podem servir como referência para o planejamento urbanístico.

Nesta pandemia em vários países recuperou-se a antiga proposta, agora rebatizada como as cidades de 15 minutos, nas quais muitos serviços e infraestruturas se encontram próximas das moradias. A cidade desejada se mede em tempo e não mais em espaço:  a meta é que todas as atividades se encontrem a curta distância e possam ser alcançadas pelo caminhante ou pelo ciclista. Nelas  circula-se a pé junto a moradias, acessando o comércio, equipamentos públicos,  áreas verdes, escolas locais, nas chamadas superilhas e  superblocos. Os urbanistas propuseram mudar os ritmos da cidade e aproximar casa-trabalho-comércio-cultura-lazer.

Em Brasília, em  poucas décadas criou-se uma cidade-parque aprazível, propícia para se viver numa pandemia. Antes de existir fisicamente, Brasília esteve num pedaço de papel com desenhos e letras,  que foi escolhido por um júri internacional de urbanistas, entre 26 projetos urbanísticos. Antes de estar nesse pedaço de papel, esteve na mente de Lucio Costa. Antes desse projeto estar na mente de Lucio Costa, a ideia de mudança da capital para o planalto central brasileiro esteve nas mentes de muitos brasileiros desde o século 18.

Mais de um século foi necessário para  que um governante (JK) se dispusesse a transformar numa realidade física uma ideia abstrata que existia na mente das pessoas e na constituição brasileira como uma vontade de mudança. Quando se tomou a decisão política de mudar a capital para o planalto central a ação foi realizada pouco tempo: a ideia saiu da mente para o desenho no papel e dali para a realidade física. Em poucas décadas a paisagem poeirenta se transformou numa cidade verde, atestando  a capacidade dos brasileiros de transformar lugares de restaurar ambientes. Uma ideia, combinada com a energia do capital,  tem força transformadora da realidade. Ao se redirecionar investimentos para esse propósito,  a realidade se transforma. A força do capital é transformadora.  Atualmente, restaurar ecossistemas em grande escala é uma meta  desejável e alcançável.

O conceito das superquadras merece ser revalorizado quando os governos voltarem a priorizar a integração e a inclusão social. Muitos recursos que hoje são direcionados para a destruição poderão ser redirecionados para finalidades construtivas e gerar novas cidades  saudáveis, capazes de oferecer boa qualidade de vida mesmo durante uma pandemia.

 

 

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