Maurício Andrés Ribeiro
Antes de existir fisicamente, Brasília foi desenhada num
pedaço de papel submetido a um júri internacional e escolhido entre 26 projetos
urbanísticos. Antes de estar nesse pedaço de papel desenhado e escrito por Lúcio Costa, esteve na cabeça do urbanista.
Antes de Brasília estar naquela mente, esteve na
decisão tomada por JK em 1956 de mudar para o planalto central a capital, inaugurada
em 1960.
Antes de JK tomar essa decisão, instigada por uma pergunta
de um popular num comício politico, ela esteve na primeira constituição brasileira
de 1891 que fixou legalmente a região em que deveria ser instalada.
Entre o momento em que foi escrita na constituição de 1891
e a decisão de mudar a capital, ela esteve nas ações da missão Cruls, que fez duas expedições em 1892 para delimitar o
retângulo onde seria o futuro Distrito Federal. Ela foi construída pelo estado,
em terras públicas. Não sofreu as limitações impostas pelo mercado imobiliário ao construir em terras de
propriedade privada, quando a busca pelo lucro e pela redução de custos reduz as
áreas públicas e áreas verdes, sacrificando
então a qualidade ambiental, como aconteceu nas cidades satélites e nos
assentamentos na periferia do Distrito Federal e em praticamente todas as
cidades brasileiras.
Depois de inaugurada, em 75-76 uma praga destruiu a arborização e tudo precisou ser replantado. Não havia conhecimento sobre paisagismo e arborização urbana no cerrado. As árvores já têm mais de 40 anos na cidade sessentona.
Em 1987 ela tornou-se a única cidade moderna inscrita na
lista do patrimônio mundial da UNESCO, o
que a protegeu das investidas das empresas imobiliárias para adensá-la e verticalizá-la
Essa somatória de ideias, pensamentos e decisões ao longo de mais de um século resultaram nessa cidade. Há 20 anos vivo em Brasília. Suas superquadras tornaram-se superparques. Caminho pelas vias públicas arborizadas, frequento comércio e serviços locais e desde 2020 trabalho em casa devido à pandemia.
Sou grato a todos os brasileiros e estrangeiros (o belga Cruls, e o francês-brasileiro Lúcio Costa, por exemplo) que trabalharam para tornar realidade essa cidade que em 2020 tem amplos espaços verdes, generosas áreas públicas, árvores frondosas, unidades de vizinhança que funcionam e respondem melhor do que todos os demais padrões urbanísticos aos desafios
trazidos pela pandemia do coronavirus.
2 comentários:
Excelente, Maurício!! Nós brasileiros deveríamos ter aproveitado o exemplo de Brasília e criado diversas outras cidades, pais afora, com base no projeto desta linda capital, melhorando ainda mais os pontos positivos e minimizando os negativos!! Ao contrário, a expansão urbana brasileira desde então, incluindo a Barra da Tijuca, dificilmente mereceria os elogios que Brasília merece!!!
Excelente, Maurício!! Nós brasileiros deveríamos ter aproveitado o exemplo de Brasília e criado diversas outras cidades, pais afora, com base no projeto desta linda capital, melhorando ainda mais os pontos positivos e minimizando os negativos!! Ao contrário, a expansão urbana brasileira desde então, incluindo a Barra da Tijuca, dificilmente mereceria os elogios que Brasília merece!!!
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