quinta-feira, 8 de setembro de 2022

HIDRATAR, O VERBO DA VEZ

 


 HIDRATAR, O VERBO DA VEZ


O verbo hidratar é usualmente empregado para tratar da saúde do corpo. Hidratar o organismo é uma recomendação médica para evitar a desidratação que, em casos extremos, leva à morte. A pele faz o contato entre ambiente interno e o  externo ao corpo. Ao se ressecar em seu contato com o ambiente externo, pode ser revitalizada com substâncias hidratantes. Um idoso precisa hidratar-se constantemente para manter sua saúde.

A água no passado foi tema de interesse científico de físicos, químicos e de  especialistas - hidrólogos, hidrogeólogos, climatologistas, oceanógrafos. Hoje o tema se infiltra em todos e em cada um dos segmentos da sociedade: nas organizações civis, nas organizações religiosas, no âmbito do patrimônio e da cultura, nas várias engenharias, na arquitetura e no urbanismo, na educação, nas artes, na área tecnológica, na psicologia, na economia.

Todos e cada um dos campos do conhecimento e da atividade humana podem ser hidratados e, desse modo, revitalizados. Seguem-se alguns exemplos dessa hidratação desejável e possível.

Hidratar a cultura - Dar visibilidade e prestar atenção à água nas várias manifestações culturais é um modo de hidratar a cultura.  Ela se encontra presente em manifestações diversas, no mundo e no Brasil. Está nas artes – música, dança, artes cênicas, cinema, vídeo, artes plásticas, poesia, literatura; está nas tradições religiosas e espirituais; está presente na língua, nas palavras e  nos  nomes dos lugares. Hidratar o pensamento, as mentalidades, o sentimento,  os discursos e as ações humanas é uma meta unificadora para se alcançar um novo relacionamento amigável, atento, sensível  e sábio com a água.

Hidratar a educação – Pode-se infiltrar o tema para que  permeie todos e cada um dos campos do aprendizado. A água precisa ser focalizada na educação das crianças, adolescentes, adultos, idosos, nas escolas e fora delas. Da creche ao jardim de infância, no primeiro e segundo graus, nas universidades e cursos de pós graduação de todas e cada uma das disciplinas escolares, em cada departamento e faculdade universitária, no ensino técnico e profissionalizante, em todos os ambientes em que se aprende, não só no campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da sensibilidade, da ética e dos valores.

Hidratar a sociedade  - significa que cada segmento  social, cada ator nas organizações da sociedade civil e militar, internaliza o tema, dissolve sua hidroalienação, torna-se hidroconsciente e aplica essa consciência nas suas ações cotidianas.

Hidratar a economia - Isso implica em colocar a água como componente central das decisões econômicas e considerá-la estratégica para aproveitar as potencialidades econômicas que oferece. Quando falta, ela traz uma limitação séria à economia. Ela também traz riscos à vida econômica quando falta ou quando transborda.
Hidratar a política - implica em tomar as decisões políticas colocando-a explicitamente como um fator central e prioritário. Escreve Apolo Heringer Lisboa[1] que “
A proposta é reconhecer e assumir na política o papel metodológico da água, dos rios, bacias hidrográficas, ecossistemas e biomas, que demarcam o território da Terra, na dimensão geoecossistêmica de transformação da mentalidade. Reconhecer que o espelho d’água mostra a nossa cara, que as águas trazem informações e as fazem fluir. Reconhecer e ter nas águas os eixos de mobilização, de demarcação do território político e econômico, de monitoramento da mentalidade, de eixo de transformação política na visão geoecossistêmica com base na plataforma geológica.” Não apenas a sua presença atual como a sua disponibilidade futura, para as próximas gerações, precisa ser levada em conta nas decisões políticas, por meio da hidro política.

Hidratar os governos - significa priorizar nas decisões governamentais em todos os níveis -  do local ao regional, ao nacional e ao internacional - os cuidados com a água, evitando seu uso predatório e promovendo o cuidado e a proteção dela,  como um bem de interesse coletivo  e individual.

Hidratar as políticas públicas - significa colocá-la entre os principais elementos considerados em toda a qualquer política pública, de saúde, educação, segurança, habitação, desenvolvimento urbano e regional. Hidratar os sistemas de gestão do território, de desenvolvimento regional, energia e os sistemas de gestão  ambiental e do saneamento. Hidratar a agricultura, como se pratica na Austrália em projetos do Instituto Mulloon, que conectam o meio ambiente, a agricultura e a sociedade e trazem vida nova às paisagens.

Hidratar a segurança - significa valorizar a dimensão hídrica da segurança, os riscos à segurança trazidos por rompimentos de barragens ou pela escassez de água para abastecimento humano. Nas políticas de segurança pública, devem-se priorizar os perigos associados a eventos críticos de enchentes, secas e deslizamentos de encostas, e fortalecer ações preventivas.

Hidratar as iniciativas locais – as vizinhanças, os bairros, as cidades, os municípios precisam colocar como primeira prioridade a garantia de sua segurança hídrica. Suas leis de uso e ocupação do solo, planos diretores, códigos de obras e de edificações, suas licenças ambientais e alvarás de localização e de funcionamento precisam priorizar explicitamente proteção e a conservação da água.



[1] LISBOA, Apolo    A visão geoecossistêmica da política e da vida; que tipo de política queremos e podemos levar avante no contexto mundial brasileiro - 2015

https://www.facebook.com/apolohl

 


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