segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

A escala cósmica na obra de Maria Helena Andrés


Maria Helena Andrés é uma  cronista dos seus tempos e cada fase de sua obra artística reflete e expressa as circunstâncias e conjunturas que viveu. Assim foi com sua fase espacial. 

Maria Helena testemunhou a  aventura dos astronautas. Com a chegada do homem à Lua, a era espacial tomou impulso nos anos 1960 e aqueles fatos extraordinários impressionaram a artista.  No quadro intitulado Dom Quixote no espaço, um ser solitário contempla os esplendores do cosmos.

Dom Quixote no espaço, acrílica sobre tela, 1973.

Num dos quadros desta fase espacial, um pequeno casal de terráqueos contempla um cenário  de proporções grandiosas incendiado pelo fogo do sol.

Viagem interplanetária, acrílica sobre tela, 1969.


Ela demonstra aqui a inspiração que teve de seu mestre Guignard, que ao pintar as paisagens imaginárias de Minas Gerais, enfatizava a grandiosidade dos céus e das montanhas e  salpicava nelas as  cidades, igrejas e balões.


Alberto da Veiga Guignard. Paisagem imaginária.1950.

 



Em 1970 ela visitou o Japão durante a Exposição internacional de Osaka e  admirou, no meio do avanço tecnológico, também o amor à natureza, demonstrado através dos jardins de meditação.

Ao observar a força das ondas do mar  e das montanhas, diante do  pequeno barco de pescadores no ambiente, ela escreveu então: “Na filosofia Zen o homem desaparece dentro da paisagem. A montanha resiste, afronta tempestades, ventanias e às vezes terremotos, mas só uma energia muito grande consegue derrubá-la.” 

A grande onda de Kanagawa, mestre Hokusai, xilogravura, 1830.

Ela demonstrava aguda consciência ecológica ao apontar o erro do antropocentrismo e ao  valorizar a natureza. Ela escreveu que “Colocar o homem como dono e não como ponto pequenino na paisagem gera uma série de erros irremediáveis.”

 Maria Helena foi além de Guignard e dos artistas japoneses, que mostraram a grandiosidade da paisagem no planeta Terra. Ela expandiu a escala dos espaços que retratou e ao faze-lo chamou a atenção para o fato de que essa grandiosidade é relativa. Ela torna-se minúscula diante do cosmos.

Ela enfatizou a dimensão cósmica do espaço sideral, no qual um  planeta azul,  gira em torno de uma estrela de quinta grandeza - o Sol - numa periferia da via Láctea, uma das bilhões de galáxias do Universo. 

Visto do cosmos, ressalta a unidade do planeta cheio de pequenas vidas e de consciências, que incluem as de nossa espécie, o homo oecologicus ainda em formação.

Um comentário:

Marcos Sorrentino disse...

Belíssimas pinturas, bonito texto!