quinta-feira, 9 de junho de 2016

Água e cidades: as lições de Fatehpur Sikri para Brasília



 O imponente complexo de edifícios públicos, palácios, monumentos e templos foi planejado e construído, num curto período de tempo, para ser a capital e a sede do governo. Esse conjunto, de onde se aprecia um céu esplendoroso e um belo pôr do sol, tornou-se patrimônio arquitetônico da humanidade, protegido pela UNESCO.
Essa descrição, que poderia se aplicar a Brasília, refere-se a Fatehpur Sikri, no Rajastão. A cidade funcionou como capital durante apenas 10 anos. Foi abandonada  devido a uma mudança climática e seca na região, que fez desaparecer a água para abastecê-la. É uma cidade fantasma, local de visitação turística e pesquisa arqueológica, construída na Índia para ser a capital do império mogul pelo imperador Akbar, entre 1571 e 1585.  


 Fotos de Fatehpur Sikri, Índia. Maurício Andrés, 2013.

O destino de Fatehpur Sikri no século XVI traz lições para o século XXI. A falta de planejamento hídrico pode inviabilizar cidades, regiões ou países. As limitações na disponibilidade e no abastecimento de água se tornaram fator de restrição ao crescimento demográfico e ao desenvolvimento econômico em muitas regiões do planeta. Restrições hídricas impõem  limites máximos de população e de atividades humanas.
Novas cidades, bairros, condomínios ou assentamentos precisam ser hidroconscientes desde o momento da concepção do projeto e durante cada etapa de sua implementação. Dispor de conhecimentos específicos sobre o local em que serão implantados é pré-requisito para se elaborar projetos e normas urbanísticas conscientes e responsáveis, invertendo o processo, ecológica e hidricamente temerário,  pelo qual primeiro se executa um empreendimento  para depois constatar seus problemas e definir como resolvê-los.
Um assentamento  humano que perdure ao longo do tempo precisa ser hidroconsciente; saber qual é  a disponibilidade de água de superfície para abastecê-lo; estimar o volume que os aqüíferos locais podem produzir. Proteger nascentes e cuidar do uso do solo. Definir como será  feita a gestão das águas usadas e seu tratamento, bem como as questões de drenagem, escoamento de águas superficiais e recarga de águas subterrâneas. Avaliar também os fatores macro regionais,  tais como os rios voadores e as perspectivas de pluviosidade e da água em estado meteórico.
Na região do planalto central, o desenvolvimento urbano precisa levar em consideração esses limites. A lição de Fatehpur Sikri pode ser valiosa para Brasília.


Fotos de Brasília. Maurício Andrés 2014.

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