segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Ecologizar a saúde



Maurício Andrés Ribeiro (*)

São muitos os exemplos de como a falta de saúde ambiental impacta na saúde pública e na saúde dos indivíduos:
  • a alimentação contaminada com agrotóxicos faz os cidadãos adoecerem e pressionarem os hospitais e postos de saúde;
os pesticidas usados para combater pragas contaminam os alimentos, podendo provocar o câncer e poluir os lençóis subterrâneos de água usada para abastecimento humano. As crianças são especialmente vulneráveis aos nitritos trazidos aos alimentos pela adubação exagerada;
  • a falta de saneamento básico agrava as doenças de veiculação hídrica. São altos os custos associados às doenças de veiculação hídrica nas regiões urbanas do Brasil com milhares de casos anuais de mortalidade prematura e morbidez adicional.
  • a água potável contaminada por chuvas ácidas pode causar doenças pulmonares, danos ao cérebro, hipertensão, problemas renais.
  • a poluição do ar nas cidades faz adoecer os cidadãos, causa mortes prematuras e onera os custos do sistema de saúde;
  • ambientes construídos que não tenham ventilação ou insolação adequada tornam-se insalubres e levam as pessoas a adoecerem, terem problemas respiratórios e doenças como tuberculose ou pneumonia.
Alimentos e pesticidas estão no radar da percepção pública e das discussões sobre sua regulação, mas há substâncias químicas tais como bromo, cloro e flúor, usadas em produtos de consumo, que apenas recentemente tem despertado alertas sobre seus impactos na saúde. O professor José Eli da Veiga, da USP, (ver o artigo A pior das poluições) tem chamado a atenção para esses poluentes sintéticos que causam diabetes e obesidade, perturbam o funcionamento das glândulas do corpo, atingem os fetos e lhes causam lesões cerebrais e cognitivas.
Saúde não é assistência médica, pois os médicos, farmacêuticos e enfermeiras em geral lidam com a falta de saúde, tornando-se agentes da indústria da doença.
Uma concepção integral da saúde engloba a saúde mental, psíquica, física, individual e social, bem como a saúde ambiental.
Nesse enfoque, um agricultor orgânico e um lixeiro são trabalhadores da saúde ao evitarem que as pessoas adoeçam. O ecologista e o gestor ambiental e das águas, bem como o pesquisador, o cientista e o cidadão ecologicamente consciente, são agentes de saúde. Promovem a saúde preventiva, diminuindo os riscos de acidentes e todos os custos associados ao tratamento de doenças depois que já se instalaram.
As respostas para os problemas de saúde não são apenas curativas e exigem crescente atenção aos aspectos de ecologia humana e social. A prevenção e controle da poluição sonora, visual, atmosférica, das águas e dos solos e da degradação ambiental pode trazer resultados positivos para a saúde. Isso também é mais barato, pois investir na melhoria do meio ambiente local pode reduzir significativamente a demanda por tratamento corretivo nos hospitais e postos médicos, pois parcela substancial das doenças não existiria caso a qualidade do meio ambiente fosse melhor e ações preventivas fossem adotadas.
É oportuno tratar das questões de saúde no mesmo contexto da questão ambiental.  Os ganhos econômicos, os ganhos em termos de melhoria da saúde das populações e os ganhos em termos de qualidade ambiental justificam a articulação dessas políticas.
A saúde ambiental é um pré-requisito para a saúde pública, coletiva e individual. Articular meio ambiente e saúde é um modo inteligente de abordar as questões da saúde que traz ganhos econômicos. A saúde ambiental é o ramo da saúde publica que trata dos aspectos do ambiente natural ou construído que podem afetar a saúde humana. 
Meio Ambiente e saúde têm grande potencial para desenvolver ações de parceria federal, nos estados e nos municípios, além da escala regional, por meio de consórcios intermunicipais de saúde e de meio ambiente, resíduos sólidos, gestão das águas.
Quando isso acontecer, poderá haver ganhos expressivos para a saúde integral, do ambiente e das pessoas.





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