quinta-feira, 6 de junho de 2019

Ego ação, eco-ação e seva ação.


Maurício Andrés Ribeiro



Cada tipo de ação implica em modos distintos de relação do ser humano com os demais seres vivos.
A lei do karma é a lei da ação. Karma yoga é a yoga da ação. Aquele que pratica uma ação recebe de volta uma reação; nesta ou em outras vidas, para aqueles que creem na reencarnação. A intensidade e qualidade da reação são função do tipo de ação praticada.
As motivações para a ação variam desde aquelas centradas no auto interesse imediato – as ego ações – até aquelas voltadas para motivações generosas, pela consciência ecológica – as eco ações – ou  aquelas de prestar um serviço abnegado  e altruísta a outros: a seva.
Seva é uma palavra sânscrita para o ato do serviço altruísta ou abnegado. Tal ato leva ao benefício  coletivo,  sem almejar resultados para o indivíduo que o pratica. Seva é um ato de compaixão pelos outros e um modo de se desenvolver pessoal e espiritualmente.  Diz a Yogapedia que “ Realizar o seva pode ser uma tarefa desafiadora, pois pode gerar dificuldades pessoais para as pessoas que o fazem. Elas podem descobrir suas próprias aversões a certos aspectos do trabalho. No entanto, por meio da conscientização desses desafios, a seva pode ser uma ferramenta poderosa para as pessoas aprenderem mais sobre si mesmas, suas personalidades e os padrões de comportamento ou pensamento que já não os servem.” Trata-se da ação desinteressada, sem expectativas quanto a seus resultados, de quem age para cumprir o seu dharma ou, usando conceitos ocidentais, seu direito/dever.
Fritjof Capra in Uma ciência para o desenvolvimento sustentável escreve que  “No decorrer deste novo século, dois fenômenos específicos terão um efeito decisivo sobre o bem-estar e o modo de vida da humanidade. Ambos se desenvolvem em rede e ambos estão ligados a uma tecnologia radicalmente nova. O primeiro é a ascensão do capitalismo global; o outro é a criação de comunidades sustentáveis baseadas na prática do projeto ecológico. Ao passo que o capitalismo global é composto de redes eletrônicas de fluxos de finanças e de informação, o projeto ecológico mexe com redes ecológicas de fluxos de energia e matéria. A meta da economia global, em sua forma atual, é a de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites; a do projeto ecológico, a de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida. “ Um desses caminhos tende a ser egocentrado no seu interesse imediato, com consequências destrutivas sobre o que é de interesse comum; o outro, o projeto ecológico, amplia a noção de autointeresse. Enquanto a eco-ação focaliza o interesse da vida e de um planeta em condições de abrigá-la, a ego-ação enfatiza o interesse particularista, privado, pessoal. Quando a consciência focada no ego pessoal se amplia para a consciência ecológica, percebe-se que somos parte do ambiente e o que ocorrer com ele ocorrerá conosco.
A consciência ecológica ajuda a avançar de um egoísmo ignorante para uma forma mais esclarecida de egoísmo. Com a consciência ecológica, a noção de auto interesse se expande. Ecologizar o interesse é uma atitude sábia para enfrentar a atual megacrise da evolução.
 Há no planeta bilhões de indivíduos humanos, sintonizados em distintas faixas da consciência, que  é condicionada por influências culturais, familiares, religiosas, do ambiente humano, social, natural. À medida que se amplia a consciência, passa-se a incluir outros aspectos no campo do interesse próprio. Percebe-se ou enxerga-se mais longe.
Na egoação, a ganância e as motivações egoístas estão no foco e o restante torna-se um pano de fundo fora de foco.

 À medida que se evolui do estágio egocêntrico para o etnocêntrico (o interesse do grupo racial ou social) para o mundicêntrico (o interesse planetário) ou o ecocêntrico, o campo do auto interesse se expande e torna-se mais inclusivo.
Sri Aurobindo, em seu livro  A Vida Divina, realça que o humano é um ser em transição na evolução e que pode aspirar a se tornar algo mais.  Ele propõe que se renuncie ao egoísmo que está na raiz da ação individual ou coletiva,  pessoal, nacional ou internacional e ao ego que só pode pensar colocando-se como centro. Dissolver o ego que está na raiz dos  sofrimentos é para ele um caminho pois “Quando o ego busca liberdade, ele chega ao individualismo competitivo. Quando ele objetiva a igualdade, chega antes à disputa, e então a uma tentativa de ignorar as variações da Natureza; como a única maneira de fazê-lo com sucesso, constrói uma sociedade artificial e mecânica. Uma sociedade que persiga a liberdade como seu ideal é incapaz de alcançar a igualdade; uma sociedade que mire na igualdade será obrigada a sacrificar a liberdade. Para o ego, falar de fraternidade é falar de algo contrário à sua natureza.”  
Dissolver o  ego, renunciar ao egoísmo, evoluir para a ação ecológica e para o ato de seva, podem oferecer pistas para distanciar a humanidade da megaencrenca em que se meteu em suas relações com o planeta em que vive e que a sustenta . Esse caminho de evolução pessoal e individual, que não dispensa as mudanças sociais e coletivas, cada vez mais se encontra às vistas de todos.








3 comentários:

Silvana Gontijo disse...

Muito bom, Mauricio! Posso compartilhar?
Bj

Mauricio disse...

Bom que você gostou! Compartilhe à vontade!
Abraços

Cláudio disse...

Muito bom. ...Alcançar a igualdade não é uma procura contrária à natureza? A liberdade não é alcançada com a diversidade?