Maurício Andrés
Ribeiro
A epidemia acelera a aprendizagem
humana. Com isso, impulsiona transformações no mundo e no rumo da história. Todos
estão aprendendo velozmente como se adaptar às novas rotinas das quarentenas,
dos distanciamentos e dos lockdowns.
A aprendizagem mais imediata é voltada
para viver, reduzir riscos e manter a saúde.
Para isso aprendem-se conhecimentos práticos de higiene: como lavar as mãos,
como mudar posturas corporais e cumprimentos tradicionais; usar acessórios tais
como máscaras; exercitar o distanciamento físico de outras pessoas, possíveis transmissoras
de vírus.
Nessa nova rotina foi preciso aprender
a como usar o tempo, escalonar e priorizar tarefas e temas. É necessário aprender com leveza, evitando gastar esforço e recursos com ideias que não conduzem ao bem estar e
que enfatizem a competição sem colaboração; focar no essencial, na aprendizagem daquilo que importa e descartar o que é supérfluo.
As quarentenas estimulam um
estado de alerta, vigilância e atenção diante dos riscos da doença e
proporcionam tempo para estudos e reflexão. Ao ficar em casa, aprende-se como
estudar remotamente, como operar com os sistemas informatizados, como acessar conteúdos
em vídeo e texto no celular e nos computadores, como participar de lives e
webinars. Tal habilitação se tornou
essencial.
Cada profissional adapta suas atividades:
comerciantes aprendem a vender por delivery e a anunciar seus produtos on
line; artistas aprendem a fazer lives; pesquisadores aprendem a
atuar em webinars.
As
formas de educar passam
por transformação durante a
pandemia e as quarentenas. Com o
isolamento físico, suspenderam-se aulas
em escolas e muitas crianças e adultos aprendem em casa. Um efeito colateral da
pandemia foi acelerar a modernização na educação. O vírus deu uma chacoalhada
na inércia e no comodismo nesse campo.
Os
professores e alunos se adaptam. Acelerou-se a alfabetização digital usando
o zoom, meeting, YouTube, Skype e outras mídias; acelerou-se o intercâmbio e
aprendizagem mútua, com o compartilhamento de boas práticas de educação remota
que uns já dominam e outros professores ainda não. Lidar com as tecnologias é habilidade
que os professores precisam ter para dar
aulas remotamente. Isso demanda infraestrutura, equipamento, assistência
técnica, softwares e acesso à rede como instrumentos de trabalho. Professores
aprendem a lidar com celulares, tablets e computadores, como adaptar suas aulas
para que sejam instrutivas e atraentes e não afastem seus estudantes. Nessa educação mediada pela
tecnologia ressalta a importância dos professores em carne e osso.
Estudantes aprendem a usar as
novas tecnologias nos celulares e computadores e a prestar atenção aos conteúdos
transmitidos. Alunos em casa recebem aulas de música, pilates,
ginastica, yoga.
Esse impulso
na aprendizagem, dado de fora para dentro pelo vírus, pode induzir a uma
modernização permanente dos sistemas de educação. Esse avanço precisa impulsionar
os governos para proverem a infraestrutura necessária, com computadores e
acesso à internet e para que não seja revertido quando passar a fase crítica da
pandemia. Que seja internalizado, com
todos os seus ganhos de democratização da educação e ganhos ecológicos
associados.
Aula ao ar livre em Kenchankuppe, India. |
Isso envolve mudanças no modo
de aprender
nas escolas e fora delas. A educação ao ar livre saudável, com
ventilação e insolação natural, dispersa os vírus. Há riscos de contaminação na volta às
aulas presenciais, elas próprias precisam ser redesenhadas para manter o distanciamento
físico. Minhas netas na fazenda aprendem
a conviver com a natureza, nomes de plantas e arvores, convivem com bichos,
tomam leite de vaca no curral. Aprendem também a educação sanitária, como lavar
as mãos, como se proteger. Convivem com primas e se sujam
na terra, são felizes. Não têm a escolinha bilingue que tinham na metrópole, o
que é compensado pelo tipo de aprendizado que desfrutam no ambiente rural.
Os profissionais da saúde têm o desafio
de atender os doentes, não se contaminar e não se deixar levar por cansaço ou desespero diante
da tragédia sanitária e das mortes que presenciam diariamente. A proximidade da morte ensina as pessoas a serem mais cientes de sua fragilidade e
vulnerabilidade, a serem mais humildes, mais solidarias, com maior sentido da
unidade humana e da ajuda mútua. A serem menos arrogantes, menos egoístas. Há exceções,
aqueles espertinhos que tentam se aproveitar e tirar vantagem da situação em
proveito próprio, a usar seu poder econômico para se apropriar de recursos
deixando os demais para trás. Mas esses tipos de atitudes são crescentemente
reprovados e denunciados, gerando constrangimentos a quem os pratica. A percepção da fragilidade da vida e
sua vulnerabilidade podem levar a mudanças de atitudes, especialmente na educação e na saúde.
Coletivamente, em aproximações sucessivas e por
tentativa e erro, a sociedade aprende quando abrir e fechar as atividades econômicas, avaliar o
risco de um lockdown continuado para a economia
e qual o risco da circulação para a saúde das pessoas. Os governos,
empresas e pessoas aprendem a lidar com essa nova situação. Todos aprendem
sobre o vírus, os modos de combatê-lo e de prevenir futuras pandemias. Acontece
um grande processo pedagógico, a pedagogia do susto, do choque, do inesperado
que ensina rapidamente.
Aula de Yoga em escola no Sri Aurobindo Ashram, New Delhi, India. |
Uma transformação da consciência por
meio da educação é necessária para lidar com as mudanças no
ambiente externo e criar condições para nos adaptarmos a elas.
A
epidemia evidencia desigualdades, injustiças, a unidade humana e sua interdependência,
a necessidade da solidariedade, de empatia, a presença do trágico. Esse aprendizado é valioso na atual circunstância
e pode ser valioso para as futuras pandemias, mudanças do clima e outras encrencas
que virão. No limite, é aprender ou morrer!
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