terça-feira, 22 de novembro de 2022

ÁGUA E TRANSDISCIPLINARIDADE

Maurício Andrés Ribeiro

 


A palavra Transdisciplinar foi usada pela primeira vez pelo educador Jean Piaget e depois por Basarab Nicolescu no seu Manifesto da Transdisciplinaridade. No Brasil,  foi adotada  nos anos 1980 pelo psicólogo e educador  Pierre Weil que criou a Universidade Holística Internacional de Brasília- UNIPAZ.

Os especialistas – hidrólogos, hidrogeólogos, oceanógrafos, climatologistas – têm papel crucial para compreender a fundo os temas relacionados com a água. Entretanto essa visão necessária não é suficiente.  Para superar a visão fragmentada acadêmica não basta somente uma visão interdisciplinar, que mantem as disciplinas. É necessária uma visão abrangente, transversal, que articule e integre os diversos olhares fragmentados e setoriais. Ser transdisciplinar significa ir além das disciplinas fragmentadas  e especializadas com as quais usualmente se classifica e se opera na educação escolar e nas profissões. Um clínico geral vê o organismo como um todo e pode identificar os pontos que merecem a atenção de especialistas.

Uma visão panorâmica sobre as águas enxerga a sua presença tanto no macro como no microambiente. Ela está no cosmos, na cauda dos cometas e nos outros corpos celestes onde se busca a existência de vida; está presente no planeta Terra, nos corpos dos seres vivos; está, ainda, na consciência das pessoas.

No campo cultural, ela está nos nomes de lugares, em palavras, músicas, poesias, manifestações religiosas e sagradas.

A visão transdisciplinar não se limita à abordagem racional, científica. O pensamento intelectual sobre a água é uma das muitas maneiras de abordá-la. Pode ser pragmático e facilitar seu uso, mas não é o modo mais abrangente para se relacionar com ela.

O transdisciplinar vai além da superação das disciplinas acadêmicas formais que fazem uso da razão e se expande para o campo das emoções, dos sentimentos e da intuição, mobilizando não apenas as ciências.  A transdisciplinaridade  articula os conhecimentos das ciências, das artes, das tradições espirituais e da filosofia.

Ela  inclui toda a percepção que as artes trazem, com a música,  literatura, a poesia, as artes plásticas, o teatro, o cinema, que mobilizam emoções e sentimentos. Os artistas têm grande poder de comunicação, de atuar sobre as emoções e mobilizar para causas hídricas e ambientais. Os artistas que colocam suas habilidades e talentos a serviço das águas prestam um relevante serviço ao sensibilizar a sociedade. Textos técnicos são importantes, mas é insubstituível o poder do cinema, da linguagem não verbal da música, da poesia, da literatura, da dança. A água está diretamente relacionada com as emoções. A emoção move, a razão organiza. Não por acaso os humores do corpo e os humores psíquicos têm a mesma palavra para designá-los.

A transdisciplinaridade e a visão holística também incluem o senso do sagrado, a ressacralização da natureza e das águas, para tratá-las com reverência e respeito e não apenas como um recurso a ser utilizado pragmaticamente para atender a necessidades, demandas e caprichos humanos.

 Pensar sobre a água, refletir sobre a água, estudar a água, sentir e se emocionar com a água se expressam numa abordagem transdisciplinar.

Em 2018, durante o 8. fórum mundial da água em Brasília criou-se o Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade- CIRAT- que defende uma visão holística e transdisciplinar sobre a água. O CIRAT atua em rede nos campos da arte e cultura, ciência e academia, educação, produção de conhecimento e inovação. Tem projetos de agricultura regenerativa, estrutura molecular da água, desenvolvimento territorial. Desde então, explorou diversos caminhos originais e alcançou resultados em seus estudos e pesquisas, articulando-se com entidades em outras partes do mundo que compartilham o mesmo espirito de  olhar a água de um jeito novo.

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