sábado, 26 de novembro de 2022

OCEANOS

 Maurício Andrés Ribeiro



 

Os cinco grandes oceanos são um só, interligado por correntes marítimas que no passado foram usadas pelos navegadores ao viajarem pelos mares. 96,5% de toda a água existente na Terra é salgada e se encontra no oceano. O sal existente nos oceanos resulta de milhões de anos em que os rios transportaram para  os mares os sais existentes nas rochas.

A água tem a capacidade de reter calor e de liberá-lo para a atmosfera, e o clima é afetado pelo comportamento dos oceanos. Os oceanos são crescentemente compreendidos como reguladores térmicos do planeta.

A água evaporada dos oceanos forma as nuvens que, trazidas pelos ventos, chovem nos continentes - as monções na Índia, os rios voadores na Amazônia. Com  o aquecimento  ela se evapora em maior quantidade e formam-se os furacões e tempestades. Ao evaporar, as águas se dessalinizam e o sol é portanto, um grande dessalinizador natural de água do mar. 

Com o degelo nos polos, a quantidade de água liquida aumenta e eleva-se o nível dos mares. Se as correntes marítimas se alteram existe a possibilidade de se cortar a corrente do Golfo, o que poderá levar à Europa uma nova era do gelo. 

Como grande parte da população humana se localiza em zonas costeiras, são expressivos os impactos sociais e econômicos da elevação do nível dos mares. As cidades costeiras tornam-se vulneráveis e exigem medidas de adaptação. Aumenta a intrusão da cunha salina,  ou seja, águas salgadas e salobras se misturam nas águas doces, e isso afeta os sistemas de abastecimento em cidades costeiras.

O fenômeno do El Nino, com a elevação da temperatura do Pacífico,  provoca alterações climáticas em várias partes do mundo e especialmente na América do Sul. No Brasil, aumentam chuvas no Sul, reduzem-se chuvas no nordeste, nos anos de El Nino. Inversamente, o fenômeno La Nina resfria o Pacífico e influencia o clima na América do Sul e no Brasil, onde aumentam as  chuvas no norte e nordeste e aumentam as secas no sul.

Os mares e oceanos recebem das águas doces superficiais dos rios. Quando não são devida e previamente saneadas, elas carreiam para os mares resíduos em grandes quantidades gerando ilhas de lixo como aquelas que se formaram no oceano Pacífico. Os oceanos tem sido crescentemente poluídos com plásticos e com o derramamento de óleo no mar em acidentes e desastres, bem como com o despejo de esgoto que afeta a balneabilidade das praias.  Em fevereiro de 2023 a Marinha brasileira afundou no oceano Atlântico o porta-aviões São Paulo, contendo toneladas de amianto, material  cancerígeno, outros poluentes químicos e eventualmente até resíduos radioativos, já que ele tinha operado no oceano Pacífico quando dos testes nucleares realizados alí pela França. Trata-se de mais um evento que demonstra a atitude do homo lixius de tratar o oceano como lata de lixo onde despejam seus resíduos, atitude que precisa ser superada. A ecologização da Marinha pode ser um caminho para evitar ações similares no futuro.

Os oceanos também são atingidos por desastres ecológicos, como o rompimento de uma barragem em  Mariana em 2018, que poluiu todo o rio Doce e chegou ao Oceano Atlântico. A construção de represas ao longo dos rios retém sedimentos e altera a vida a jusante e nos mares.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, das Nações Unidas, trata da vida aquática e propõe conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21, produto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992 dedica seu capitulo 17 à proteção dos oceanos, de todos os tipos de mares -- inclusive mares fechados e semifechados -- e das zonas costeiras, e proteção, uso racional e desenvolvimento de seus recursos vivos. 

James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, observa que “durante bilhões de anos, os oceanos forneceram (e continuam a fornecer) um meio muito mais estável para o desenvolvimento da vida do que as superfícies terrestres. Os oceanos não estão sujeitos a amplas flutuações de temperatura: os nutrientes tendem a ficar mais uniformemente dispersos (embora as concentrações variem com a mistura física e a atividade dos plânctons); além disso, como é um meio mais denso do que o ar, fornece flutuabilidade e apoio para organismos simples, que carecem de estrutura rígida.” (Gaia - Pág. 104.)

Para restaurar oceanos limpos e saudáveis há uma pauta prioritária que inclui combater as fontes de degradação marinha, desde aquelas distantes - como por exemplo barragens de minério nas montanhas - lixo, esgoto urbano, até o derramamento por navios, do óleo que polui as praias. Filtrar, gradear, coletar os resíduos  com redes antes que cheguem ao mar e de preferência em sua origem são modos de gerenciar a questão do lixo e de limpar os oceanos. Para proteger as áreas costeiras e estuarinas dos efeitos das mudanças climáticas  são necessárias  ações para conter a progradação das praias, e a intrusão de cunhas salinas nas  águas que  abastecem cidades costeiras.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, realizada em Lisboa em 2022 propõe salvar os oceanos e proteger o futuro. Oceanários como o de Lisboa ou o de Monterrey na California são locais de divulgação de conhecimentos sobre os oceanos e sobre a necessidade de sua proteção.

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