terça-feira, 12 de março de 2024

Maria Helena Andrés e as montanhas

As montanhas, com sua grandiosidade impressionante, foram mostradas na pintura, no desenho, na fotografia e nas artes plásticas.

Na arte oriental, os seres humanos e suas realizações são minúsculos diante das montanhas e da paisagem natural. No Japão,  o Monte Fuji está sempre presente nas pinturas tradicionais; na China são conhecidas as pinturas e desenhos com paisagens montanhosas. 

Henri Cartier Bresson  fotografou os Himalaias no Kashmir indiano e em seu livro Gênesis, o fotógrafo Sebastião Salgado focalizou grandes montanhas. Pintores europeus e norte americanos mostraram paisagens majestosas de cordilheiras e montanhas

No Brasil, destaca-se nesse tema  Alberto da Veiga Guignard. Ele viveu grande parte de sua vida em Minas Gerais. Guignard admirava e retratava a grandiosidade das montanhas e se sentia bem nesse ambiente.  Sua aluna Maria Helena Andrés escreveu que “Em carta a Portinari, Guignard dizia: "Sabes que sou montanhês e por isso, forte de saúde". As montanhas lhe ofereciam cenário para paisagens líricas, transparentes, igrejas surgindo da bruma, balões coloridos subindo aos céus.”

Alberto da Veiga Guignard - Paisagem imaginária - 1947

A destruição das montanhas no entorno de Belo Horizonte foi objeto de atenção dos artistas e poetas. “Olhe bem as montanhas”, foi um adesivo que circulou nos anos de 1970, criado por Manfredo de Souzanetto. Em 1976, Carlos Drummond de Andrade publicou o conhecido poema Triste Horizonte, que denunciava a destruição da Serra do Curral, em Belo Horizonte. Naquele mesmo ano Maria Helena Andrés pintou o quadro intitulado O Guardião das Montanhas.  Sobre essa obra, ela escreveu que: “O quadro foi pintado movido por uma necessidade interior de preservar, defender e guardar a natureza. Ele está no  limite entre o figurativo e o abstrato, entre a terra e o céu. Embaixo,  as montanhas, bem figurativas e, riscando o céu,  incisivamente, o gestual direto  e firme do guardião.”

Maria Helena Andrés, cidadã do mundo pelas viagens e estudos que realizou em diversos países, sempre retornou a sua terra natal, Belo Horizonte, no montanhoso quadrilátero ferrífero de Minas Gerais. As grandes montanhas são objeto de sua atenção, na pintura, na escultura, na fotografia e em seus textos.  "Arte e vida são companheiras inseparáveis, e a minha vida foi mudando da urgência das grandes viagens ao cotidiano, a me fixar no meu dia a dia, no meu entorno. Agora vejo as montanhas se estendendo à frente da minha janela; o raio de sol que penetra dentro de casa e desenha formas geométricas sobre a mesa. " "Vou olhando a paisagem e fotografando a incidência da luz solar sobre as curvas sensuais dos montes nas diferentes horas do dia."


Em 2021, instalou uma escultura em aço,  intitulada “A guardiã das montanhas”, ao lado de sua casa no Retiro das Pedras, diante do vale do Paraopeba e a região do córrego do Feijão onde  ocorreu o grave episódio conhecido como o desastre de Brumadinho, com muitos mortos e  desaparecidos, além de grandes prejuízos econômicos, danos sociais e psicológicos.



Maria Helena Andrés e a escultura   A Guardiã das Montanhas.


 . Ela testemunha a ação de seres humanos, pequenos diante da grandeza da natureza, que corroem, escavam, poluem, criam feridas na paisagem natural, um prejuízo estético irreversível. Ela fotografou as rochas, observou o avanço humano sobre as montanhas, deu  entrevistas para jornais e fez depoimentos em vídeo, tendo expressado por diversos meios sua consciência ecológica.

 





Nenhum comentário: