sexta-feira, 1 de março de 2024

Maria Helena Andrés escreve sobre Guignard educador


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O mestre Guignard entre seus alunos e alunas

Maria Helena Andrés escreveu que “Em 1944, quando Alberto da Veiga Guignard foi convidado pelo então prefeito Juscelino Kubitscheck para liderar a Escola do Parque Municipal em Belo Horizonte, fui uma das primeiras a me inscrever no curso.”

“Éramos 40 alunos, jovens cheios de vida, pertencíamos à primeira geração de artistas que estudou com Guignard em Minas: Amílcar de Castro, Mário Silésio, Marilia Giannetti, Mary Vieira, Nelly Frade, Gavino Mudado, Leda Selmi Dei Gontijo, Heitor Coutinho, Arlinda Corrêa Lima, Farnese Andrade, Letitia Renault, Jeferson Lodi, Petrônio Bax, Vicente Abreu e Wilde Lacerda. Fomos direcionados por um mestre que viera do Rio para nos conduzir. Guignard viera cheio de ideias novas, trazendo panoramas abertos para o aprendizado de arte em Minas. Deixara o Rio de Janeiro, onde já era considerado um dos maiores professores de arte do Brasil e também um dos maiores artistas brasileiros.”

“Guignard foi antes de tudo um grande educador.

O encontro com Guignard possibilitou-nos um descondicionamento das fórmulas acadêmicas. Todos os alunos receberam da mesma fonte, mas cada um seguiu uma direção diferente.

Guignard abriu as janelas da criatividade em Minas

e deixou entrar luz.

A ele se achegaram aqueles que estavam preparados

para a grande viagem.”

“Guignard promoveu a ruptura do academicismo que se instalara em Minas Gerais. Fomos pioneiros de novas ideias e de uma nova arte. Ali, debaixo de árvores frondosas, à sombra de bambuzais, nós nos dispúnhamos a buscar dentro de nós mesmos uma recriação da natureza. O mestre estava ali para nos incentivar. Jogava uma pedra no lago para observarmos os círculos que ali se formavam, mandava os alunos observarem as nuvens no céu, as árvores e as raízes retorcidas. Os alunos observavam a natureza e desenhavam com lápis 6H. O lápis duro não possibilitava o uso da borracha e os alunos ficavam atentos aos detalhes da natureza. No silêncio, eles também descobriam a própria natureza interna. ““Paralelamente ao desenho de observação, ensinado debaixo das árvores, Guignard nos orientava também, dentro do ateliê. Fazíamos retratos e figuras do natural, como nas academias de Belas Artes. 

Muitas vezes acompanhávamos Guignard a Ouro Preto, para desenharmos aquela cidade histórica, e ao Rio de Janeiro para expormos nossos trabalhos.“

“Guignard reviveu de maneira quase única o antigo mestre, figura desaparecida nos tempos modernos. Atualmente, o ensino se distribui em diversas cátedras, com horários marcados e contato reduzido do professor com os alunos. Anteriormente às academias de Belas Artes, o mestre - fosse ele filósofo ou artesão - trabalhava lado a lado com seus aprendizes e a eles se misturava, sem preocupação de superioridade, desejando apenas transmitir experiências. Assim foi Guignard, o mestre moderno, que ensinava uma arte de vanguarda, não ditava leis, mas fazia o aluno descobrir o equilíbrio e a proporção no próprio trabalho, sem demonstrações dogmáticas (...) Mais do que ninguém, Guignard conseguia vislumbrar a coisa nova, a individualidade que se revela na variedade de temperamentos humanos, agora estudados com grande interesse à luz da psicologia moderna. Observações feitas à margem de um catálogo, referindo-se às tendências de cada aluno em particular, revelam esse senso profundo para descobrir vocações e conhecer temperamentos.” (Trecho do meu livro “Os Caminhos da Arte”, Editora COM/ ARTE, 2015)

“Seu método de ensino, baseado no despertar pessoal de cada aluno, assemelhava-se aos ensinamentos de Johannes Itten na Bauhaus de Weimar, na Alemanha.

Guignard significou para mim a abertura para o novo, o despertar da minha energia de criatividade. Precisava largar a iniciação acadêmica e partir em busca de maior liberdade dentro da arte. Encontrei-a no convívio com os colegas, no ambiente do Parque Municipal, na poesia da natureza. Guignard abria a percepção e a sensibilidade dos alunos mostrando anjos e guerreiros nos muros velhos, mandalas nas águas do lago, e as formas abstratas que se formavam nas nuvens.”


“Reparem os céus de Minas Gerais, são de um azul metálico, brilhante...” Assim íamos seguindo o mestre e nós desenvolvemos à luz do seu entusiasmo. Abrir a percepção, descobrir a peculiaridade de cada aluno era seu lema constante.”


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