quarta-feira, 6 de março de 2024

Alberto da Veiga Guignard e Maria Helena Andrés em duas exposições

              Guignard foi o primeiro grande mestre de Maria Helena, marcando a sua trajetória durante mais de 80 anos de arte.


Guignard e as alunas da primeira turma: Amarilis Coelho, Maria Helena Andrés e Edith Bhering, 1944

 

Na exposição Conversas entre coleções, na Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, uma paisagem com balões de Guignard está colocada ao lado de um quadro construtivo de balões flutuando no ar, de sua ex-aluna Maria Helena, mostrando o diálogo entre as coleções de Roberto Marinho e de Márcia e Luiz Chrysostomo. 

Os dois artistas expressam uma visão lírica de festas e balões presentes na infância,  Guignard relembra as festas de São João e Maria Helena as brincadeiras de crianças.

“Quando eu era menina, gostava de soltar papagaios na rua. Era um prazer vê-los subir, ganharem os céus, seguirem o vento, sustentarem-se no ar. Fazíamos nós mesmos os papagaios de papel de seda e a disputa entre os amigos era de ver quem chegava mais longe, mais perto do céu.”

Alberto da Veiga Guignard, Noite de São João, óleo s/madeira, 1961 e Maria Helena Andrés, Pipas, óleo s/tela, 1955.

               

Na exposição A paixão segundo Guignard, realizada no Palácio das Artes em Belo Horizonte, com curadoria de Paulo Schmidt e Claudia Renault, Maria Helena está presente com algumas obras de suas diversas fases, destacando-se as obras de sua coleção e das coleções de seus familiares.

 Da fase figurativa está sendo apresentado um desenho de grafite sobre papel e duas pinturas  em óleo sobre madeira e óleo sobre cartão.  

Maria Helena desenha com a precisão do lápis duro o seu autorretrato, seguindo os ensinamentos de Guignard que exigia a observação cuidadosa da figura humana, assim como faziam os artistas renascentistas.

                                                       Autorretrato, grafite  s/papel, 1945

  

Uma das pinturas figurativas é a paisagem urbana de Belo Horizonte sobre a qual ela escreveu:

 É uma lembrança do meu quarto de solteira. Da minha janela eu registrei nesse quadro a paisagem que eu via em minha frente, a cidade de Belo Horizonte. Naquela época não existiam prédios altos em Belo Horizonte. Vejo no quadro uma parte do Colégio Sagrado Coração de Jesus, telhados e mais telhados, o Colégio Padre Machado, muitas árvores e o céu de Minas se estendendo sobre as casas.”

                               Paisagem de Belo Horizonte, óleo s/madeira, 1944

 

 A outra pintura retrata, de forma expressionista, o ateliê da Escola Guignard, com os materiais de pintura no primeiro plano e as alunas pintando, entre pincéis e tintas, ao fundo.

                                            Ateliê da Escola Guignard, óleo sobre cartão, 1947

  

 Da fase construtiva, Maria Helena expõe uma pintura que tem como referência a mãe e o filho, um tema recorrente em sua obra com forte viés espiritual, lembrando a Madona acolhendo o seu filho.  Nesta pintura as figuras são geométricas, as linhas são contínuas e as formas, em laranja e amarelo,  contrastam com o fundo verde.

                                                             Mãe e filho, óleo  sobre tela, 1953.

  

Também está apresentada, nesta exposição, a pintura  O Guardião das Montanhas, de sua fase abstrata, no qual a presença humana é pequena diante da grandiosidade das montanhas e dos céus.  Este quadro foi pintado em 1976, no mesmo ano em que Carlos Drummond de Andrade escreveu o seu famoso poema Triste Horizonte, em que denunciava a destruição das montanhas de Minas. O recurso de colocar os seres humanos e as pequenas cidades minúsculas diante dos grandes espaços naturais foi usado na pintura chinesa e também por Guignard nas suas paisagens imaginárias pintadas em Minas Gerais, como aquela que está exposta na Casa Roberto Marinho. 

 O guardião das montanhas, acríl. s. tela, 1976

 

O diálogo de Maria Helena Andrés com seu mestre Alberto da Veiga Guignard, que começou na década de 1940, continua até hoje presente nas paisagens imaginárias dos dois artistas que são apaixonados por Minas Gerais.

 

Marília e Maurício Andrés Ribeiro

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