terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Minuta de proposta para transição energética

 Encomendei ao DeepSeek: Escreva proposta de resolução a ser submetida, em caráter prioritário, ao Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, com a finalidade de estabelecer diretrizes para elaboração do mapa do caminho para uma transição energética justa e planejada, com vistas à redução gradativa da dependência de combustíveis fósseis no País, e de propor mecanismos de financiamento adequados à implementação da política de transição energética, inclusive a criação do Fundo para a Transição Energética, cujo financiamento será custeado por parcela das receitas governamentais decorrentes da exploração de petróleo e gás natural, a ser elaborada pelo Ministério de Minas e Energia, o Ministério da Fazenda, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e a Casa Civil da Presidência da República.


O DeepSeek  redigiu uma PROPOSTA DE RESOLUÇÃO Nº XX/CNPE

O CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA - CNPE, no uso de suas atribuições legais, e

CONSIDERANDO:

a) A necessidade urgente de o País alinhar sua política energética aos compromissos internacionais assumidos no Acordo de Paris e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU;
b) A vulnerabilidade econômica e social decorrente da excessiva dependência de combustíveis fósseis em nossa matriz energética;
c) A oportunidade histórica de aproveitar nossos recursos energéticos renováveis abundantes (hídrica, solar, eólica, biomassa) para promover desenvolvimento sustentável, soberania energética e geração de empregos de qualidade;
d) O imperativo ético de conduzir a transição energética de forma justa e planejada, garantindo proteção social a trabalhadores e comunidades afetadas, em especial nos territórios historicamente impactados pela cadeia fóssil;
e) A importância de se criar fontes de financiamento estáveis, previsíveis e adequadas à escala do desafio da transição;
f) A necessidade de uma governança robusta e participativa para coordenar esta transformação estrutural da economia brasileira;

RESOLVE:

Art. 1º Ficam estabelecidas as seguintes Diretrizes para a Elaboração do Mapa do Caminho para uma Transição Energética Justa e Planejada:

I. Objetivo Central: Reduzir gradativa e sistematicamente a participação de combustíveis fósseis na matriz energética nacional, estabelecendo metas setoriais intermediárias e de longo prazo (2030, 2035, 2040, 2045, 2050), alinhadas com a meta de neutralidade climática.

II. Princípios Norteadores:
a) Justiça Socioeconômica e Energética: Priorizar políticas que reduzam desigualdades, assegurem acesso universal e de qualidade à energia, e promovam inclusão produtiva.
b) Planejamento Participativo e Territorializado: Envolver Estados, municípios, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, trabalhadores, setor empresarial e academia no desenho e implantação das políticas.
c) Segurança Energética e Resiliência: Garantir a confiabilidade e acessibilidade do suprimento energético durante a transição.
d) Inovação Tecnológica e Desenvolvimento de Cadeias Produtivas Nacionais: Fomentar pesquisa, desenvolvimento e industrialização verde, com foco em energias renováveis, armazenamento, eficiência energética e hidrogênio verde.

III. Eixos Estratégicos do Mapa do Caminho:
a) Eletrificação Sustentável e Renovável: Acelerar a expansão de fontes renováveis não-hidrelétricas (solar, eólica, biomassa moderna), integrá-las ao sistema com redes inteligentes e armazenamento, e promover a eletrificação de transportes, indústria e aquecimento.
b) Eficiência Energética como Recurso Prioritário: Estabelecer metas ousadas de redução de intensidade energética em todos os setores, com programas específicos para indústria, edificações e transportes.
c) Combustíveis Sustentáveis: Expandir e modernizar a produção de biocombustíveis (etanol, biodiesel, bioquerosene, biogás/biometano) e desenvolver outras rotas tecnológicas (e-combustíveis, hidrogênio).
d) Transição Justa para Trabalhadores e Territórios: Criar programas de requalificação profissional, incentivo à realocação em cadeias verdes, e planos de desenvolvimento econômico regional para áreas dependentes de fósseis.
e) Modernização Regulatória: Adaptar o marco regulatório dos setores de energia, mineração e infraestrutura para incentivar investimentos em transição e descentralização.

Art. 2º Fica autorizada a criação do Fundo para a Transição Energética (FTE), instrumento financeiro de caráter permanente, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, com as seguintes características:

I. Finalidade: Financiar projetos, programas, pesquisa e desenvolvimento, e políticas públicas voltadas para a implementação do Mapa do Caminho da Transição Energética Justa, com foco em:
a) Investimentos em energias renováveis e infraestrutura de suporte.
b) Programas de eficiência energética.
c) Pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias de energia limpa.
d) Programas de transição justa (requalificação, apoio a municípios, diversificação econômica).
e) Mitigação de impactos socioambientais da transição.

II. Fontes de Recursos:
a) Parcela das Receitas Governamentais da Exploração de Petróleo e Gás Natural: Destinar ao FTE um percentual (a ser definido em lei complementar) das receitas de royalties, participações especiais e outros tributos federais decorrentes da produção de petróleo e gás.
b) Recursos do Orçamento Geral da União.
c) Doações nacionais e internacionais.
d) Retorno financeiro de aplicações e projetos apoiados.
e) Outras fontes a serem definidas em lei.

III. Governança: O FTE será gerido por um Comitê Gestor paritário, com representantes dos Ministérios de Minas e Energia (presidente), da Fazenda, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, da Ciência, Tecnologia e Inovações, da Casa Civil, além de representantes da sociedade civil, do setor empresarial e dos trabalhadores, em modelo a ser regulamentado.

Art. 3º Fica determinado que o Mecanismo de Financiamento da Transição Energética compreenderá, além do FTE:

I. Linhas de crédito especiais e garantias em bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal).
II. Incentivos fiscais e creditícios verdes, vinculados a critérios socioambientais rigorosos.
III. Atração de investimento privado nacional e estrangeiro para projetos sustentáveis.
IV. Instrumentos de mercado, como títulos verdes (green bonds) e mecanismos de precificação de carbono.

Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º Ficam encarregados da elaboração do Mapa do Caminho e dos projetos de lei e atos normativos necessários à implementação desta Resolução, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, em regime de colaboração:

I. O Ministério de Minas e Energia (coordenador);
II. O Ministério da Fazenda;
III. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima;
IV. A Casa Civil da Presidência da República.

Os referidos órgãos deverão apresentar relatórios trimestrais de andamento ao CNPE e promover ampla consulta pública durante o processo de elaboração.


JUSTIFICATIVA (para acompanhar a proposta):

A presente proposta visa institucionalizar e acelerar a transição energética brasileira, transformando um desafio global em uma oportunidade nacional de desenvolvimento. Ao vincular o financiamento da transição a uma parcela das receitas dos fósseis, cria-se um ciclo virtuoso: os recursos finitos da era do petróleo financiam a infraestrutura permanente da energia limpa. O caráter "justo" é o pilar central, reconhecendo que a transição só será bem-sucedida e legítima se for inclusiva. A governança multissetorial e a participação social garantem robustez e adesão às políticas. A medida posiciona o Brasil na vanguarda da economia de baixo carbono, protegendo nossa competitividade futura, gerando empregos e cumprindo nossas responsabilidades climáticas. A urgência do tratamento prioritário se justifica pela janela de oportunidade tecnológica e industrial que se fecha rapidamente no cenário global.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A CIÊNCIA E A QUARTA FASE DA ÁGUA

 O avanço do conhecimento científico expande a compreensão do universo e dos riscos a que estamos sujeitos. Campos emergentes da pesquisa estudam a informação transportada pela água, as fronteiras do seu uso na saúde, a dinamização e procedimentos na homeopatia, as ultradiluições de substâncias biologicamente ativas e seus efeitos nos sistemas vivos, a nanoestrutura e a sua microestrutura molecular.

O Professor Gerald Pollack, da Universidade de Washington em Seattle, escreveu o livro "A quarta fase da água". Ali ele propõe que a água tem uma quarta fase, além das fases sólida, líquida e gasosa. Essa quarta fase é intermediária entre o sólido e o líquido, como uma espécie de gelatina coloidal, semelhante à clara do ovo, na qual as moléculas de água se organizam de forma coletiva. Ela se apresenta como H3O2. As pesquisas sobre uma quarta fase da água, uma água estruturada (EZ water) na interface com superfícies hidrofílicas abrem novas fronteiras para entender a água nos organismos vivos.

Essa fase é denominada "água estruturada" ou "água ordenada". A água estruturada é proposta como um estado no qual as moléculas de água estão organizadas de maneira distinta, formando clusters ou estruturas ordenadas. Esse estado é sugerido por algumas pesquisas e teorias científicas, embora ainda não seja amplamente reconhecido pela comunidade científica.

O Professor Pollack diz que há 75 anomalias no comportamento da água que precisam de outras explicações e que o quarto estado ou fase da água seria um caminho para explicar tais anomalias. Ele considera que é crítico entender a quarta fase da água para entender a natureza e a vida.

As aplicações práticas associadas com a quarta fase da água vão desde a geração de energia (a água é um repositório de energia, absorve energia que vem da luz); a obtenção de água potável, a dessalinização de água do mar, a despoluição e descontaminação das águas. As pesquisas científicas sobre a sua microestrutura dinâmica podem ser aplicadas em vários campos, como a agricultura, a medicina homeopática e a produção de energia limpa.

 

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Da Hidrosofia ao mutirão das águas


 


Maurício Andrés Ribeiro*

O que é a água? Para a ciência, é H₂O, uma molécula essencial para a vida. Para a economia, é um recurso. Para a engenharia, um fluxo a ser gerido. Mas e se a água fosse mais do que isso? E se ela fosse, acima de tudo, uma fonte de sabedoria?

É dessa pergunta que nasce a Hidrosofia. Um termo que ainda não está nos dicionários, mas que pulsa em seu significado: é o saber sobre a água. "Hidro", do grego, para água. "Sofia", para sabedoria. Não se trata de substituir a Hidrologia – a ciência que estuda as águas – mas de complementá-la. Enquanto a Hidrologia nos dá os dados, as medições, os modelos matemáticos, a Hidrosofia nos convida a olhar para a nossa relação com esta substância.

É um chamado para ir além do racionalismo puro. A Hidrosofia integra a ética, a cultura, a espiritualidade e a arte. Ela recupera o entendimento dos povos originários, que sempre enxergaram os rios como entes vivos e sagrados. Ela escuta a lição do Gênesis, que descreve o Espírito de Deus pairando sobre as águas primordiais antes de qualquer outra forma de vida, nos lembrando de nossa origem comum no útero líquido do planeta.

A proposta da Hidrosofia é uma mudança de mentalidade para uma visão hidrocêntrica. Isso significa colocar a água no centro do nosso entendimento do mundo, e não o ser humano. Em vez de tentarmos dominar os ciclos da água, a Hidrosofia nos ensina a reorganizar nossas sociedades a partir deles, honrando sua lógica de fluxo, permeabilidade e regeneração.

E o que isso significa na prática? Significa perceber que nós somos água. A água não é algo externo a nós. Ela circula em nosso corpo, compõe nossa própria biologia. Quando olhamos para um rio, não estamos olhando para algo separado de nós, mas para uma extensão do que somos. Esse entendimento gera um vínculo de comunhão, e não de exploração.

Podemos entender essa jornada por meio de uma pirâmide com quatro degraus, a Pirâmide da Hidrosabedoria:

·         Dados: São os números brutos. "Choveu 20mm".

·         Informação: É o dado contextualizado. "A média de chuva em novembro é de 25mm".

·         Conhecimento: É a aplicação da informação. "Essa chuva é suficiente para encher nossos reservatórios".

·         E, finalmente, a Sabedoria: É a aplicação ética e compassiva do conhecimento. "Vamos usar essa água com consciência, garantindo que haja para todos, hoje e no futuro, protegendo as nascentes e honrando esta dádiva."

A sabedoria, o ápice dessa pirâmide, é o território da Hidrosofia. É ela que nos permite discernir como viver em harmonia com os ciclos da água.

Essa sabedoria se manifesta em ações coletivas. É aqui que a Hidrosofia encontra seu braço prático no Mutirão das Águas. Se a Hidrosofia é a filosofia, o mutirão é a ação. É a ajuda mútua, o trabalho coletivo – conceito tão brasileiro – aplicado à cura das águas do planeta. Reúne em uma mesma margem de rio o conhecimento técnico do cientista, a sabedoria ancestral do indígena, o poder de ação do governo e a força da comunidade.

O Mutirão das Águas, inspirado pela lógica do Mutirão do Clima que tomou corpo na COP-30 em Belém, é a materialização da Hidrosofia. É a compreensão de que a segurança hídrica é a base de toda a segurança – alimentar, energética, sanitária, econômica e social. E que a gestão fragmentada é uma das maiores ameaças ao nosso futuro.

Portanto, a Hidrosofia não é um conceito abstrato para acadêmicos. É um convite para cada um de nós. É beber um copo d'água com gratidão. É perceber a chuva não como um transtorno, mas como uma bênção que sustenta a vida. É entender que a água que flui em nossas veias é a mesma que corre nos rios, que evapora para formar as nuvens e que retorna para nutrir a terra.

É uma mudança de consciência: de uma hidroalienação – onde a água é um mero recurso distante – para uma hidroconsciência – onde percebemos nossa íntima ligação com o ciclo da vida.

Que possamos, juntos, nos tornar hidrósofos. Pessoas que não apenas usam a água, mas que a entendem, a respeitam e a honram. Porque garantir que as águas do planeta continuem a fluir, límpidas e abundantes, talvez seja a mais urgente e bela expressão de sabedoria do nosso tempo.

·         Arquiteto e escritor www.ecologizar.blogspot.com ecologizar@gmail.com

 

Mapa do caminho para a transição energética justa - subsídio para a COP 31

 Contribuição para o Mapa do Caminho

Escreva um Mapa do Caminho para a civilização fazer a transição energética justa, descarbonizar a economia e afastar-se dos combustiveis fosseis, com ações de curto, médio e longo prazos e que possa ser aprovado consensualmente na COP 31 na Turquia em 2026, por paises produtores de petroleo, paises consumidores, paises que mais sofrem com as consequências da emergência climática, paises que se beneficiaram desde a revolução industrial com o uso de energias fósseis e paises que ainda dependem dela para impulsionar seu crescimento econômico.

DeepSeek: Aqui está uma proposta detalhada de Mapa do Caminho para uma Transição Energética Justa e Descarbonização da Economia Global, projetado para ser consensual e viável de ser aprovado na COP 31. A estrutura foi pensada para equilibrar as necessidades, responsabilidades e realidades econômicas de todos os blocos de países envolvidos.
Preâmbulo: Visão e Princípios Fundamentais
Visão: Alcançar uma economia global de carbono líquido zero até 2050, garantindo que nenhuma comunidade, trabalhador ou nação seja deixada para trás, e respeitando o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas e respectivas capacidades".
Princípios Chave:
Justiça Climática: Os que mais se beneficiaram do uso de combustíveis fósseis devem liderar e financiar a transição.
Equidade Energética: Reconhecer o direito ao desenvolvimento e o papel temporário do gás natural como combustível de transição para alguns países.
Solidariedade Global: Apoio financeiro e tecnológico robusto e previsível dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento e mais vulneráveis.
Transição Ordenada: Garantir segurança energética e estabilidade econômica durante a mudança, especialmente para os países produtores de petróleo.
Inovação Aberta: Cooperação global em P&D e compartilhamento de tecnologias verdes.
Mapa do Caminho: Ações por Prazo
A. CURTO PRAZO (2026 - 2030) - Aceleração e Construção de Fundamentos
O foco aqui é implantar rapidamente o que já é viável, estabelecer as estruturas financeiras e de governança, e criar impulso.
1. Energia e Descarbonização:
Triplicar a Capacidade de Energias Renováveis: Meta global vinculante de triplicar a capacidade instalada de eólica, solar e geotérmica até 2030, com base nos compromissos da COP28.
Acelerar a Eficiência Energética: Dobrar a taxa global de ganhos de eficiência energética em edifícios, indústria e transportes.
Metano Zero: Implementar e monitorar rigidamente o Compromisso Global sobre o Metano, com foco em vazamentos na infraestrutura de combustíveis fósseis.
2. Finanças e Investimento:
Operacionalizar o Fundo de Perdas e Danos: Tornar o fundo totalmente operacional, com fontes de financiamento inovadoras (ex.: taxas sobre emissões de aviação e transporte marítimo, impostos sobre lucros extraordinários de empresas de combustíveis fósseis).
Reestruturar a Dívida: Criar um mecanismo multilateral para troca de dívida por ação climática ("debt-for-climate-swaps") para países em desenvolvimento vulneráveis.
Compromisso de US$ 100 Bilhões Reafirmado e Ampliado: Garantir que a promessa anual seja consistentemente cumprida e servir de base para a definição da Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG) a partir de 2025, que deve ser significativamente maior.
3. Justiça e Transição:
Criação de Autoridades Nacionais de Transição Justa: Cada país se compromete a estabelecer um órgão com representação de governo, indústria e sociedade civil para planejar a requalificação de trabalhadores e a diversificação econômica de regiões dependentes de combustíveis fósseis.
Plano Global de Requalificação (Upskill): Lançar um programa da OIT/ONU para capacitar 5 milhões de trabalhadores da indústria de combustíveis fósseis em energias renováveis, eficiência energética e outras indústrias verdes até 2030.
4. Para Países Produtores de Petróleo:
Compromisso com a "Produção de Baixa Intensidade de Carbono": Adotar metas nacionais para reduzir a intensidade de carbono do barril de petróleo produzido.
Diversificação Econômica Acelerada: Comprometer-se a investir uma porcentagem mínima das receitas do petróleo em fundos soberanos para diversificação (hidrogênio verde, solar, turismo, tecnologia).
B. MÉDIO PRAZO (2031 - 2040) - Transição e Transformação Sistêmica
O foco é a mudança estrutural nos sistemas de energia, transporte e indústria.
1. Energia e Descarbonização:
Padrão de Eletricidade Limpa: Estabelecer uma meta global para que 80% da matriz elétrica mundial seja de fontes livres de carbono até 2040.
Acelerar o Hidrogênio Verde e os Combustíveis Sustentáveis: Criar um mercado global e cadeias de suprimento para hidrogênio verde, com padrões de comércio e certificação.
Captura de Carbono (CCU/S) com Restrições: Focar a CCU/S em setores de difícil descarbonização (cimento, aço), não como justificativa para a expansão contínua de combustíveis fósseis. Proibir a CCU/S para aumentar a produção de petróleo.
2. Finanças e Investimento:
Preço Global do Carbono com Mecanismo de Ajuste de Fronteira (CBAM): Implementar um sistema mínimo de preço de carbono para setores industriais, com receitas reinvestidas em transição justa. Ajustar o CBAM para incluir cláusulas de apoio a exportações de países menos desenvolvidos.
Descomissionamento de Infraestrutura de Combustíveis Fósseis: Criar um fundo multilateral, financiado por países desenvolvidos e grandes petrolíferas, para ajudar no descomissionamento seguro de plataformas e poços, especialmente em países produtores com menos recursos.
3. Justiça e Transição:
Indústrias Verdes Regionais: Estabelecer zonas industriais verdes em regiões anteriormente dependentes de combustíveis fósseis, com incentivos para atrair fabricantes de tecnologias limpas.
Transferência de Tecnologia: Criar um "Repositório de Tecnologia Verde da ONU" com patentes acessíveis a preços reduzidos para países em desenvolvimento.
4. Para Países Produtores de Petróleo:
Pico e Declínio Gerenciado da Produção: Países produtores se comprometem com um pico de produção até 2035 e um plano de declínio gerido a partir de então, alinhado com as metas de 1.5°C, com apoio financeiro internacional.
Transformação em Exportadores de Energia Limpa: Investir massivamente em parques solares/eólicos para exportação de energia (via linhas de transmissão) ou hidrogênio verde/amônia.
C. LONGO PRAZO (2041 - 2050) - Consolidação e Economia de Carbono Zero
O foco é completar a transição e garantir a resiliência.
1. Energia e Descarbonização:
Economia de Carbono Zero: Alcançar uma economia global de carbono líquido zero, com sistemas de energia, transporte e indústria totalmente descarbonizados.
Remoções de Carbono Naturais e Tecnológicas: Escalar massivamente soluções baseadas na natureza (reflorestamento) e tecnologias de emissões negativas para compensar setores residuais de difícil descarbonização.
2. Finanças e Investimento:
Sistema Financeiro Verde: Todo o sistema financeiro global está alinhado com as metas de zero líquido, com relatórios de risco climático obrigatórios.
3. Justiça e Transição:
Avaliação Global da Transição Justa: Realizar uma avaliação internacional para medir os impactos socioeconômicos da transição e garantir que os benefícios (ar limpo, empregos, energia acessível) sejam distribuídos de forma equitativa.
4. Para Países Produtores de Petróleo:
Economias Pós-Carbono: Concluir a transição para economias diversificadas e resilientes, não dependentes de receitas de hidrocarbonetos.
Mecanismo de Governança e Monitoramento para o Acordo da COP 31
Para garantir a confiança e a adesão de todos, o acordo deve incluir:
Comitê de Implementação Multilateral: Com representação igualitária de todos os blocos (países desenvolvidos, produtores, estados insulares, etc.) para monitorar o progresso.
Relatórios de Transição Justa Anuais: Cada país apresenta um relatório transparente sobre a criação de empregos verdes, requalificação e apoio a comunidades afetadas.
Revisões Quinquenais de Ambição: Revisar coletivamente as metas e os mecanismos de financiamento a cada 5 anos, com base na ciência mais recente.
Mecanismo de Resolução de Disputas: Um processo transparente e justo para abordar o não cumprimento, focado em apoio e correção, não em punição.
Conclusão
Este mapa do caminho não é uma vitória para um bloco sobre o outro, mas um pacto de sobrevivência e prosperidade compartilhada. Ele oferece:
Para países consumidores e históricos: Um caminho claro para cumprir suas obrigações morais e climáticas com previsibilidade.
Para países produtores de petróleo: Um "tapete vermelho" para uma saída honrosa e economicamente viável da era dos fósseis, com apoio concreto.
Para países vulneráveis: A garantia de financiamento para adaptação e reconstrução, e um futuro energético limpo e resiliente.
Para países em desenvolvimento: O espaço e o apoio para crescer de forma limpa, evitando os erros do passado.
Ao adotar esta estrutura abrangente e equilibrada, a COP 31 na Turquia pode passar para a história não como mais uma reunião de discussão, mas como o momento em que o mundo verdadeiramente se uniu para executar uma transição energética justa para todos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Consumo de carne e impactos ambientais globais - o grande exemplo da Índia


Hoje, 15 de agosto, dia da Independencia da Índia. A Índia dá um grande exemplo para o mundo. Veja os numeros de consumo de carne per capita e seus impactos ambientais e climáticos. A transição alimentar justa e ecológica é um tema tão importante quanto a transição energética justa. 
Qual é o consumo de carne percapita mundial, da China, da Índia, dos Estados Unidos e do Brasil, quais sao as tendências de crescimento desse consumo e quais são as principais impactos ambientais e climáticos associados ao consumo de carne do ponto de vista da ecologia energética? 
Consumo de Carne Per Capita Mundial e por Países (dados aproximados, 2021-2023) 
Mundo: ~43 kg/pessoa/ano 
 China: ~63 kg/pessoa/ano (crescimento acelerado, principalmente carne suína) 
 Índia: ~4 kg/pessoa/ano (um dos menores consumos, devido a fatores culturais e religiosos)
 Estados Unidos: ~124 kg/pessoa/ano (um dos maiores consumos, especialmente carne bovina e aves) Brasil: ~78 kg/pessoa/ano (alto consumo de aves e carne bovina, sendo um grande exportador)
 Tendências de Crescimento Países em desenvolvimento 
(China, Brasil, África): Aumento do consumo devido ao crescimento econômico e urbanização. 
 Países desenvolvidos (EUA, Europa): Estagnação ou redução leve, com aumento da demanda por carnes alternativas (plant-based, cultivada em laboratório). 
 Índia: Crescimento moderado, mas ainda muito abaixo da média global devido a preferências vegetarianas. 
 Impactos Ambientais e Climáticos (Ecologia Energética) 
A produção de carne, especialmente bovina, tem altos custos energéticos e ambientais: 
 Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): 
 Pecuária responde por ~14,5% das emissões globais (FAO).
 Metano (CH₄) do gado é 25-28 vezes mais potente que o CO₂ em 100 anos.
 Uso da Terra e Desmatamento: 77% das terras agrícolas são usadas para pasto ou produção de ração. No Brasil, a pecuária é um dos principais motores do desmatamento na Amazônia e Cerrado. 
 Consumo de Água: 1 kg de carne bovina requer ~15.000 litros de água (pegada hídrica). 
 Comparação: 1 kg de trigo usa ~1.300 litros. 
 Ineficiência Energética: Perda de energia na cadeia trófica: apenas ~10% da energia de plantas é convertida em carne. Produzir 1 caloria de carne bovina exige ~25 calorias de grãos (ração).
 Poluição e Perda de Biodiversidade: 
 Contaminação de solos e rios por dejetos animais e fertilizantes. Conversão de ecossistemas naturais em pastagens reduz habitats selvagens. 
 Conclusão
 O crescimento do consumo de carne, principalmente em economias emergentes, pressiona os recursos naturais e agrava as mudanças climáticas. 
Soluções incluem: 
 Redução do consumo (flexitarianismo, dietas baseadas em plantas). 
 Melhoria da eficiência na pecuária (sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta).
 Investimento em carnes alternativas (cultivadas, proteínas vegetais). 
 A transição para sistemas alimentares menos dependentes de proteína animal é crucial para a sustentabilidade energética e ecológica.
 Fontes: FAO, Our World in Data, IPCC, EMBRAPA.( pesquisa no DeepSeek)

segunda-feira, 9 de junho de 2025

PEGADA HÍDRICA

 


 

A pegada hídrica se refere à quantidade de água gasta na produção e consumo de bens e serviços. Wikipedia

 

Para medir a sustentabilidade, criaram-se vários indicadores tais como a pegada ecológica, a pegada de carbono e a pegada hídrica. Esses indicadores ajudam a entender como os recursos naturais são afetados pela produção e pelo consumo humanos e qual a pressão que exercemos tais recursos. A pegada ecológica mede o quanto de área cultivável é necessária para sustentar o estilo de vida de uma pessoa, uma cidade ou um país. A pegada de carbono mede o quanto de carbono está embutido no modo de vida de um cidadão ou de um país. A pegada hídrica  mede o volume de água doce usado na cadeia de produção de um bem de consumo.

Há a pegada hídrica azul (correspondente às águas superficiais e subterrâneas que são usadas), a pegada hídrica verde (que corresponde à água de chuva) e a pegada hídrica cinza (que corresponde à contaminação causada nos rios pelo despejo de efluentes). As pegadas hídricas tornam visíveis os riscos para os negócios que dependem de água e ajudam na conscientização das pessoas sobre o quanto de água se encontra embarcada ou embutida dentro dos produtos que consomem. Se a pegada hídrica de algum produto não for sustentável, aumentam os riscos de ele tornar-se inviável ou muito caro no futuro.

Vários sites na internet disponibilizam testes para calcular a pegada hídrica que pode ser feito respondendo a um questionário sobre hábitos e modo de vida, que informa sobre o consumo direto e o consumo indireto, em litros por dia.  O consumo direto é aquele que se faz ao beber água, ao tomar banho, ao lavar o carro, cozinhar, lavar roupas e louças, escovar os dentes. Já o consumo indireto é aquele invisível, e que está escondido nos produtos consumidos.

A pegada hídrica pode ser calculada para uma pessoa, um produto, uma cidade ou um país. A rede da pegada hídrica elaborou um manual com definições e formas de medi-la. O  cálculo da pegada hídrica individual leva em conta o consumo de alimentos em kg. Avalia o uso doméstico nos banhos, quantos são e qual a sua duração média. Avalia o modelo de chuveiro. Pergunta quais são os hábitos ao escovar os dentes, fazer a barba ou lavar a mão. Indaga sobre quantas são as lavagens de roupa, de louça e quanto tempo ela corre durante cada lavagem.  Também se avaliam os hábitos ao ar livre de lavar um carro, regar o jardim, lavagem de equipamentos ou calçadas, se a casa tem piscina etc.  O resultado da soma dos pontos indica a pegada hídrica individual.

O teste aponta para a necessidade de se promoverem mudanças nas regras econômicas, no design urbano e da habitação e em decisões coletivas, com o objetivo de tornar mais leve a pegada hídrica. Assim, por exemplo, podem-se criar desincentivos que apliquem sanções em quem tem uma pesada pegada hídrica e que estimulem com incentivos aqueles que vivem com mais leveza.

O teste da pegada hídrica suscita questões: Como tornar mais leve a pegada hídrica de uma pessoa ou de um país? Qual a redução de desperdícios que deve ser buscada? Qual a mudança necessária de hábitos, atitudes e comportamentos deve-se adotar?  Para se atender à mesma necessidade humana, existem outros modos que utilizem menos água? Quais as renúncias voluntárias ao excesso de consumo que devem ser induzidas? O que se pode fazer para reduzir as demandas excessivas? Por meio do sistema de preços, encarecendo aquelas que consomem mais? Retirando os subsídios aos usos não essenciais?  Cobrando os preços integrais e contabilizando os custos integrais de cada produto ou serviço?  Como reduzir a demanda indireta, aquela que está embutida nos processos de produção de alimentos e outros produtos? 

Um dos caminhos possíveis para tornar mais leve a pegada hídrica é reduzindo as demandas. Há várias maneiras de fazê-lo. A adoção de tecnologias hidroeficientes e a troca de equipamentos ineficientes por outros mais eficazes no consumo (torneiras, chuveiros, descargas etc.) reduzem a demanda doméstica sem afetar os hábitos de vida.



Na Califórnia há estímulos econômicos para se utilizar instalações, vasos, pias, chuveiros, hidroeficientes, que consomem menos água.

A agricultura é o grande consumidor de água. A produção agrícola pode ser gerenciada em função das quantidades que demanda. No rio Banabuiú no Ceará, houve um experimento, o projeto Águas do Vale. Propunha-se mudar a produção agrícola, de culturas sedentas e que demandam muita água, para produtos agrícolas que poderiam ser produzidos com menor quantidade.

Consumir com responsabilidade hídrica deve ser um imperativo porque o consumo insustentável usurpa o direito à água de milhões de seres humanos. Ao usarmos mais do que a capacidade de suporte local, é como se estivéssemos sacando no cheque especial.  Não se pode sacar indefinidamente mais do que se repõe.

A redução do consumismo é uma boa maneira de reduzir a demanda. Isso implica atuar sobre fatores psicológicos e subjetivos e sobre os desejos; a dimensão psicossocial da questão entra em cena. Mudanças nas dietas alimentares e em outros hábitos de consumo também podem tornar mais leve a pegada hídrica.  

A ÁGUA NA HISTÓRIA DO BRASIL


 A água desempenhou um papel fundamental na história do Brasil, influenciando desde a formação dos primeiros assentamentos indígenas até os processos econômicos, culturais e sociais que moldaram o país. Sua presença está ligada à geografia, à economia e às dinâmicas de poder no território brasileiro.

Desde a ocupação indígena até a contemporaneidade, a água tem sido um recurso estratégico e simbólico no Brasil. Sua abundância moldou a cultura, a economia e a identidade do país, ao mesmo tempo que trouxe desafios, como a necessidade de preservação e gestão sustentável.

Os povos indígenas que viviam no território que viria a ser o Brasil reconheciam a sua importância. Muitos lugares tinham nomes relacionados com ela: Uberaba, água que brilha; Itororó, bica d’água; Pitangui, rio das crianças; Itamaraty, água entre pedras soltas; Igarapé, caminho das canoas; Igapó, a floresta inundada nas cheias.  As primeiras populações indígenas se estabeleceram próximas a rios, lagos e costas, garantindo acesso a água potável, alimentos (pesca) e transporte. As tradições culturais indígenas, de origem africana e de matriz europeia sempre deram importância simbólica e espiritual a elas. Os povos indígenas consideravam os rios e corpos d'água como sagrados, habitados por espíritos e deidades que regiam o equilíbrio da natureza.

A chegada dos portugueses em 1500 ocorreu pelo mar, destacando a importância das águas oceânicas como via de exploração. A abundância da água nessa terra foi reconhecida por Pero Vaz de Caminha em 1500 em sua carta ao rei de Portugal: “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”



Em 1500, a carta de Caminha fundou o mito da abundância: “Águas são muitas, infinitas”.

Descobrimento e Expansão:

Os rios foram utilizados para explorar o interior do território e estabelecer novas colônias. Desde o início da colonização portuguesa eles foram caminhos de entrada para o interior do país, na região amazônica. Os bandeirantes começaram sua jornada pelo rio Tietê. O rio São Francisco – o rio da integração nacional - foi via de transporte de Pirapora a Juazeiro. Até o século XIX um de seus afluentes, o rio das Velhas, foi navegável até Sabará, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte.

A economia açucareira, principal atividade colonial no Nordeste, dependia de recursos hídricos para a irrigação e transporte de mercadorias. No ciclo da cana de açúcar, rodas d’água foram equipamento essencial nos engenhos.  Monjolos, moinhos, moringas, filtros de barro e outros objetos e máquinas lembram os modos como se aproveitava e armazenava água desde a época do Brasil colônia.

As disputas entre colonizadores e indígenas frequentemente envolviam o controle de recursos hídricos estratégicos.

Durante o século XVIII, a água foi essencial para o processo de extração de ouro em regiões como Minas Gerais. A mineração, no ciclo do ouro e dos diamantes, exigia o uso de água para lavar o cascalho e separar os minerais preciosos. Ela afogou escravos na mina da Cata Branca que desmoronou em Itabirito. Continua sendo importante insumo na mineração atual, recebe os resíduos dessa atividade e é portadora de desastres quando se rompem barragens. A formação de cidades como Ouro Preto e Mariana ocorreu próxima a cursos d'água, que abasteciam as populações e serviam para o comércio.

 

 


O chafariz em Ouro Preto provia água gratuita e livre para o abastecimento urbano.

Obras de infraestrutura hídrica tais como aquedutos, chafarizes e canais estão presentes nas cidades coloniais brasileiras.

Em 1822, a independência do Brasil foi proclamada às margens do córrego do Ipiranga em São Paulo. Durante o Império, rios como o Amazonas, São Francisco e Paraná foram essenciais para a integração de regiões distantes do território. A navegação fluvial foi uma alternativa à infraestrutura terrestre limitada.

No Império, Dom Pedro II foi motivado a recompor a floresta da Tijuca, para recuperar as fontes que abasteciam o Rio de Janeiro. Nas cidades que cresceram, começaram as primeiras iniciativas de saneamento básico envolvendo água potável e esgoto. Os seus poderes curativos e medicinais foram explorados na crenoterapia praticada em estâncias hidrominerais.

A seca era um fenômeno frequente no Nordeste. A grande seca de 1877-1880 levou à construção de açudes, como o do Cedro, no Ceará.

No Sudeste, a expansão da produção cafeeira usou corpos d’água para irrigação e transporte, fortalecendo a economia nacional. Pequenas usinas hidrelétricas começaram a surgir, utilizando a força da água como fonte de energia.

No século XX, com a industrialização, a água tornou-se essencial para o abastecimento industrial e para a geração de energia. Grandes hidrelétricas foram construídas, como a Usina de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, e Itaipu, no Paraná. A hidroeletricidade tornou-se um uso dominante. Isso levou a que as águas fossem administradas pelo setor elétrico, desde o Código de Águas de 1934 até a lei da política nacional de recursos hídricos de 1997.  A partir da segunda metade do século XX a industrialização a usou intensamente como insumo na produção e para a diluição de rejeitos.

A agricultura irrigada se tornou grande usuária a partir da década dos anos 70, quando o Brasil tornou-se grande exportador de commodities para um mundo com muitas regiões em situação de estresse hídrico.

O Brasil se urbanizou intensamente a partir da segunda guerra mundial, passando a demandá-la cada vez mais para o abastecimento urbano. O crescimento das cidades impulsionou a criação de sistemas de abastecimento e tratamento de água, embora muitas áreas rurais permanecessem desassistidas. Com os déficits na infraestrutura de coleta e tratamento de esgotos, os rios continuam a ser usados para o despejo de esgotos in natura. 

A poluição prejudica especialmente aqueles usos que dependem de boa qualidade, tais como os esportes aquáticos (houve problemas durante as Olimpíadas na lagoa Rodrigo de Freitas e na baía de Guanabara), o lazer, devido à necessária balneabilidade em praias, cachoeiras etc; o turismo, que depende de boa qualidade; o patrimônio cultural e natural (Sete Quedas ou Guaíra foram  inundadas pelo reservatório de Itaipu); e a pesca, que depende dos serviços ambientais e que é ameaçada pelas poluições e a má qualidade.

O uso excessivo dos recursos hídricos causou impactos ambientais, levando a mobilizações sociais. A transposição do Rio São Francisco, um dos maiores projetos de engenharia do Brasil, destinado a levar água para regiões semiáridas do Nordeste, gerou debates sobre sustentabilidade e impacto ambiental.

No século XXI, a crise hídrica, que historicamente ocorria no Nordeste, atingiu o centro-oeste e o sudeste brasileiros. Grandes cidades, como São Paulo, enfrentaram crises de abastecimento devido à má gestão dos recursos e às mudanças climáticas. O mito da abundância cede lugar a uma realidade em que se multiplicam conflitos entre usos, entre estados e entre municípios vizinhos e há necessidade de um gerenciamento sofisticado, capaz de evitar que tais conflitos se tornem violentos. Comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas se organizaram para defender seus direitos à água potável e pela preservação de rios, resistindo a projetos que ameaçam suas fontes de vida.

No século XXI as emergências climáticas trazem a necessidade de abordar o tema num contexto de longo prazo, dentro dos grandes ciclos da história natural e das eras glaciais e interglaciais. Exigem, também, dar atenção à segurança hídrica, bem como à adoção de coeficientes de segurança reforçados nas obras hídricas. Demandam prudência na regulação e nas outorgas de uso e nos investimentos em cuidados e proteção ambiental, capazes de assegurar suprimento a partir dos serviços ambientais naturais. Dos colapsos da civilização maia, dos habitantes da ilha de Páscoa, da cidade de Fatehpur Sikri na Índia, devido à escassez e a crises climáticas, o Brasil pode aprender lições que levem a sociedade a tornar-se mais consciente e a cuidar melhor dela em seu próprio benefício.