quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Estados de consciência, saúde e drogas


Maurício Andrés Ribeiro
Durante um ciclo diário uma pessoa saudável experimenta diversos estados de consciência: o sono profundo, a sonolência, a vigília, o sono com sonhos. Nesse particular, somos como os animais, que também dormem, sonham, despertam. Além dos ciclos diários, há ciclos sazonais de variação de estados de consciência: ursos hibernam no inverno e assim economizam energia e calor. Os ciclos podem ser semanal, lunar, anual, sazonal.
A consciência se manifesta em vários estados e em cada um deles a capacidade de atenção e de apreensão da realidade varia: o de torpor, o semi adormecido, o cansado, atento, desperto.  
Os estados de consciência incluem uma diversidade de situações. (Ken Wilber nota que na Vedanta, a sabedoria das escrituras hindus, reconheciam-se cinco estados de consciência, a saber: a Vigília, o Sonho, o estado de sono profundo sem sonhos; o estado de observação dos outros estados e a percepção não dual.) No estado minimamente consciente (EMC/MCS) se sente dor, desconforto, percepção sensorial esporádica. No sono com movimentos randômicos dos olhos, há baixos níveis de despertar comportamental junto com consciência vivida.
A vigília, o estado desperto consciente, é parte do ciclo diário, que num indivíduo saudável, desenvolve-se com 8hs de sono sendo 1 h de sono com sonho, 16hs desperto. Um bebê e um doente convalescente precisam de mais horas de sono para conservar energia, para crescer ou curar-se. É no estado de vigília que se desenvolve a maior parte das atividades humanas com impactos ambientais. Para John Gray, autor de Cachorros de Palha, existe uma confusão entre consciência e vigília, que é apenas um dos estados dela.
O sono profundo é um estado essencial. Se o sono é mal dormido, há sonolência durante o dia. Um doente precisa dormir mais horas por dia; alguém que pratique a meditação reduz a necessidade de horas de sono. Privar do sono é uma das formas de tortura, pois o sono é reparador, desfragmenta e reorganiza informações.
Uma vez desmaiei e tive hemorragia interna no cérebro.   O médico que me atendeu no hospital depois do desmaio foi explícito: metade dos que sofrem isso entra em coma e depois tem morte cerebral. Da metade que sobra, metade fica com seqüelas para o resto da vida. Eu fiquei nos 25% que escapou ileso. Agradeço a sorte de estar vivo e poder escrever sobre isso.
Um desmaio significa a perda dos sentidos, mas não é perda da consciência: é a entrada num outro estado de consciência. O medo da dor pode provocar o desmaio: a pressão arterial baixa, o corpo fraqueja, o estado de consciência muda.
Coma, estado vegetativo permanente e morte cerebral são estados da consciência vivenciados em situações extremas entre a vida e a morte.
Quando fiz um exame médico que exigia sedação, o anestesista aplicou na veia uma droga química que me fez adormecer em poucos segundos. A anestesia é um recurso usual da medicina para promover inconsciência, relaxar e abolir a dor, possibilitando a realização de intervenções cirúrgicas com maior conforto para o paciente.  Entorpecentes, anestesias, drogas e boa parte da farmacologia disponível alteram estados de consciência. Os médicos e profissionais da saúde lidam com essas drogas, manipulando e alterando os estados de consciência dos pacientes de modo controlado (ou quase sempre...) e com finalidades práticas.  Quando cessa o efeito da droga, volta-se ao estado de vigília. Uma anestesia mal dosada ou aplicada pode gerar sequelas permanentes. Ou pode matar. Regular a dor e o prazer são função da droga, seja aquela buscada por um viciado, seja aquela aplicada por um anestesista ou por um médico, pois a droga também é usada na medicina para controlar a dor num doente de câncer.
Nos ataques epilépticos, no sonambulismo, no desmaio, perde-se temporariamente a conexão consciente com o mundo, No coma ocorre a perda de consciência que por vezes leva à perda da vida, com a morte cerebral, que não necessariamente é a perda da consciência integral. No estado de coma, a pessoa perde a consciência e a capacidade de reagir a estímulos externos. No coma há ausência total de consciência; bem como no estado vegetativo persistente – EVP/PVS.  
 Estados de consciência e nível do despertar . Fonte: Modificado de Laureys (2005) em Scholarpedia
Legenda
MCS – estado minimamente consciente EMC/MCS (nesse estado se sente dor, desconforto, percepção sensorial esporádica)
 REM sleep – sono com movimentos randômicos dos olhos – baixos níveis de despertar comportamental junto com consciência vivida.
Níveis crescentes de despertar determinados comportamentalmente
Sonambulismo
Situações de doença alteram o estado de consciência. Em estados de inconsciência, coma, torpor, transe hipnótico, coletividades e sociedades podem perder a sensibilidade, anestesiar-se, criarem defesas para não sentirem aquilo que causa sofrimento ou desprazer, por medo da dor.
   
A meditação alterar estado de consciência. Matrimandir, Auroville
Estados alterados de consciência podem ser obtidos de dentro para fora, pela meditação, a contemplação, pela hiperventilação ou pela respiração holotrópica, técnica desenvolvida por Stanislav Grof; ou de fora para dentro, por meio de estímulos químicos.  
Entre as técnicas para se alterarem estados de consciência estão o sonho lúcido, a privação do sono, tanques de isolamento, privação dos sentidos, sobrecarga sensorial (som alto, por exemplo), sexo, jejum, sincronização de ondas mentais, hipnose, projeção astral.
A droga ou a música alta alteram estados de consciência. A insatisfação com os estados usuais de consciência e com a dor psíquica ou física a eles associada, estimulam a busca por estados alterados de consciência. Um viciado busca o prazer proporcionado pela droga, com efeitos colaterais negativos para o indivíduo e para a sociedade, tais como a dependência e o vício pelo apego ao que dá prazer e à percepção de outras dimensões da realidade. Esse método de alterar estados de consciência alimenta o riquíssimo mercado das drogas.
Estados incomuns de consciência são alcançados na meditação, na contemplação, nas práticas espirituais e na introspecção, na hipnose, no êxtase ou no transe.
Coma, estado vegetativo permanente e morte cerebral são estados da consciência vivenciados em situações extremas entre a vida e a morte. O coma por vezes leva à morte cerebral, que não necessariamente é a perda da consciência integral. A morte cerebral indica o fim de uma vida; para quem crê no espírito, significa a passagem de um plano da existência para outro.
 No estado de coma, a pessoa perde a consciência e a capacidade de reagir a estímulos externos. Para a Vedanta, o coma é a fusão da consciência individual na consciência universal cósmica (na terminologia dos vedas, a fusão do atman – o ponto de consciência presente no indivíduo - no brahman – o oceano cósmico da consciência universal).
Nos ataques epilépticos, no sonambulismo, no desmaio, perde-se temporariamente a conexão consciente com o mundo.
Tanto os indivíduos, como as coletividades e sociedades podem perder a sensibilidade, drogar-se ou anestesiar-se, criarem defesas para não sentirem aquilo que causa sofrimento ou desprazer, por medo da dor.

Um comentário:

Seminário Waldorf Brasília disse...

Gostaria de saber o autor do texto, para referência.
Muito bom.