sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A água na história do Brasil


Maurício Andrés Ribeiro

Muitos estados e municípios brasileiros expressam em seus nomes a importância da água: Rio Grande do Norte e do Sul, Rio de Janeiro, Piauí; Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, Arroio Grande, São Gabriel da Cachoeira.
A abundância da água nessa terra foi reconhecida por Pero Vaz de Caminha em 1500 em sua carta ao rei de Portugal: “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
Os povos indígenas que viviam no território que viria a ser o Brasil reconheciam a importância da água. Muitos lugares tinham nomes relacionados com ela: Uberaba, água que brilha; Itororó, bica d’água; Pitangui, rio das crianças; Itamaraty, água entre pedras soltas; Igarapé, caminho das canoas; Igapó, a floresta inundada nas cheias. 
As tradições culturais indígenas, de origem africana e de matriz europeia sempre deram importância simbólica e espiritual às águas.
Os rios foram, desde o início da colonização portuguesa, caminhos de entrada para o interior do país, na região amazônica. O rio São Francisco – o rio da integração nacional -  foi via de transporte de Pirapora até Juazeiro e até o século XIX um de seus afluentes, o rio das Velhas foi navegável até Sabará, cidade que integra a região metropolitana de Belo Horizonte.
 
Desde o ciclo do ouro, a água foi usada na mineração. Ela afogou escravos na mina da Cata Branca que desmoronou em Itabirito e continua sendo importante insumo na mineração atual.
No ciclo da cana de açúcar, rodas d’água foram equipamento essencial nos engenhos.
Em 1822, a independência do Brasil foi proclamada às margens do córrego do Ipiranga em São Paulo. No Império, Dom Pedro II foi motivado a recompor a floresta da Tijuca, para recuperar as fontes de água que abasteciam o Rio de janeiro.
 



Obras de infraestrutura hídrica tais como aquedutos, chafarizes e canais estão presentes nas cidades coloniais brasileiras.  Monjolos, moinhos de água, moringas, filtros de barro e outros objetos e máquinas lembram os modos como se aproveitava e armazenava água desde a época do Brasil colônia.

A falta d’água e a seca eram fenômenos frequentes no nordeste. A grande seca de 1877-1880 levou à construção de açudes, como o do Cedro, no Ceará. Os poderes curativos e medicinais das águas foram explorados na crenoterapia praticada em estâncias hidrominerais.
No século XX a hidroeletricidade foi um uso dominante das águas, o que levou a que elas fossem administradas pelo setor elétrico, desde o Código de Águas de 1934 até a lei das águas de 1997.  A partir da segunda metade do século XX a industrialização a usou intensamente como insumo na produção e para a diluição de rejeitos.
A agricultura irrigada se tornou grande usuária da água a partir da década dos anos 70, quando o Brasil tornou-se grande exportador de commodities para um mundo com muitas regiões em situação de estresse hídrico.
O Brasil que se urbanizou intensamente a partir da segunda guerra mundial demandou cada vez mais água para o abastecimento urbano. Os rios continuaram a ser usados para o despejo de esgotos in natura.  
A poluição das águas prejudica especialmente aqueles usos que dependem de boa qualidade como os esportes aquáticos ( vide os problemas durante as olimpíadas na lagoa Rodrigo de Freitas e na baia de Guanabara), o lazer, devido à precária balneabilidade em praias, cachoeiras etc; o turismo, que depende de boa qualidade  das águas, o patrimônio cultural e natural ( Sete quedas ou Guaíra, foram  inundadas pelo reservatório de Itaipu) e a pesca, que depende dos serviços ambientais e que é ameaçada pelas poluições e a má qualidade da agua.
No século XXI, a crise hídrica atingiu o centro oeste e o sudeste brasileiro. O mito da abundância das águas cede lugar a uma realidade em se multiplicam que conflitos entre usos, entre estados e entre municípios.
No século XXI as mudanças climáticas trazem a necessidade de estudar o tema da água num contexto de longo prazo, dentro dos grandes ciclos da história natural e das eras glaciais e interglaciais. Do colapso da ci    vilização maia, da cultura da ilha de Páscoa, de Fatehpur Sikri na India devido a escassez de agua o Brasil pode aprender lições que levem a uma sociedade hidricamente mais duradoura.

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