Maurício
Andrés Ribeiro (*)
Ecologizar
as políticas públicas é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a
sabedoria da consciência ecológica a cada uma delas. Numa federação como a
brasileira, tal processo precisa ocorrer na esfera federal, dos estados e dos
municípios. Esferas mais abrangentes induzem o comportamento das demais. Assim,
leis de ICMS ecológico aprovadas em alguns estados impulsionaram a priorização
de pautas ecológicas nos municípios.
No
âmbito do executivo federal, a ecologização das políticas econômicas –
creditícia fiscal e tributária, de investimentos, monetária, de preços – tem
poderoso papel indutor. Algumas formas
de alinhar economia e ecologia são as resoluções do Conselho Monetário Nacional
que limitem crédito para empreendedores antiecológicos; limitações aos bancos
públicos para investirem em empresas ecologicamente destrutivas; reforma
tributária ecológica, que onere o uso de recursos naturais e desonere o
trabalho. Em todas as esferas, os conselhos de desenvolvimento econômico e
social precisam ser ecologizados.
O
poder legislativo tem papel estratégico, ao aprovar legislação com conteúdo
ecológico. A legislação – a constituição, leis, normas, decretos, portarias e
resoluções - tem forte papel indutor.
Ecologizar as políticas públicas de energia,
transportes, turismo, indústria, agricultura, de obras públicas, resulta na
redução dos impactos causados pela implantação de infraestruturas, com a
consciência dos limites ecológicos e da capacidade de suporte dos ecossistemas.
Há
múltiplas possibilidades para se ecologizarem as políticas sociais de
responsabilidade dos governos, nas áreas de segurança, saúde, educação, moradia
e habitação. A ecologização da política de segurança,
por exemplo, confere atenção a novos perigos que ameaçam a vida humana,
tais como os eventos críticos decorrentes de mudanças climáticas. Secas, enchentes, deslizamentos de terras provocam
danos sociais e econômicos e a ocorrência de refugiados ambientais.
A
justiça ambiental é um dos resultados da política ambiental, já que os mais
pobres, menos informados e com menor poder político, os marginalizados e
excluídos são os mais penalizados pelas más condições ambientais.
A
adoção de políticas públicas integradas facilita a sua ecologização. Assim, por
exemplo, o tema da saúde ambiental valoriza seu aspecto preventivo, cuidando
para que o ambiente sadio reduza o risco de as pessoas adoecerem.
Para
que se ecologizem as políticas públicas, é necessário que a autoridade máxima
dê o tom – o presidente, o governador, o prefeito; que o compromisso com esse
alinhamento não fique apenas a cargo da área ambiental dos governos, cujos
órgãos freqüentemente atuam na contramão de pressões e de correntes dominantes
inclusive no próprio governo.
Cada
setor, proativamente e guiado por sua própria consciência ecológica, pode se
antecipar e adotar padrões de atuação que internalizem essa consciência em suas
ações, sem necessidade de fiscalização ou de controle externo, de fora para
dentro ou de cima para baixo. A formação de núcleos ecológicos em cada
organismo governamental, em cada setor, para monitorar e auditar internamente
suas ações, pode ser forma de internalizar a consciência e as práticas
ecologizadas nas instituições que cuidam das várias políticas públicas.
Para
ecologizar as políticas públicas, é fundamental a ecoalfabetização dos gestores
públicos. Merecem forte investimento as escolas de governo e de administração,
pois da ciência e consciência ecológica de gestores públicos emanam decisões
ecologicamente responsáveis (ou irresponsáveis).
É
relevante promover a eco ação, movida por interesse público e coletivo e por
valores humanos mais elevados do que a ego ação, movida por interesses
particularistas.
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