Maurício Andrés
Ribeiro (*)
Ecologizar os
governos é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da
consciência ecológica a todas as suas ações. Essa ação precisa ser integral, em
todas as escalas: horizontal, atravessando todos e cada um dos setores da
administração e da gestão pública: diagonal ou transversal, incorporando a dimensão ambiental em cada área da
administração.
Verticalmente, partindo dos governos locais aos estaduais, nacionais e ao
esboço de governança internacional que já ocorre em algumas áreas, por meio de
pactos e tratados. Em nível global, é
necessária a ecologização do sistema das Nações Unidas e sua maior abertura
para os governos locais.
O
fortalecimento institucional da área ambiental implica ecologizar cada órgão e entidade setorial da administração,
por meio de relações de parceria em projetos comuns e do controle ambiental
integrado.
Um conjunto de órgãos do governo é acionado
para responder a esse desafio. O papel de um Ministério ou secretaria do Meio
Ambiente é tanto de ação direta dentro de seus instrumentos, como de ação
indireta, induzindo a ecologização transversal de outros órgãos do governo.
Os governos são grandes compradores. A ecologização da
contratação pública pode beneficiar o ambiente, poupar recursos públicos e
influenciar o mercado e preferir os produtos que tenham rótulos ecológicos. O
programa da Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P atua nesse sentido.
Em 2004, a União Européia adotou diretrizes para os contratos públicos que
permitem integrar considerações ambientais nos processos de seleção dos
fornecedores de produtos e serviços. Em 2010, o Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão editou a Instrução Normativa (IN) nº 1 pela
qual as obras públicas devem economizar na manutenção, reduzir o consumo de
energia elétrica e água, utilizar materiais e tecnologias que reduzam o impacto
ambiental e evitem desperdícios.
No contexto de crise econômica, o estado passou a
socorrer e a controlar bancos e empresas insolventes. Nesse contexto, há
possibilidades de que tais instituições sejam reformatadas. Um estado
ecologizado pode definir metas de qualidade ambiental, de descarbonização da
economia e induzir mudanças das empresas.
A ecologização da administração pública – da municipal à nacional – e, mais além, a
governança global dos problemas planetários pressupõe a interferência sobre
cada política pública setorial, de forma transversal. A tomada de decisões é
realizada de modo a reduzir ao mínimo os impactos negativos das ações do
governo, dos agentes econômicos e sociais, e a maximizar as complementaridades
e o aproveitamento dos recursos disponíveis.
Método prático para ecologizar uma administração municipal, estadual ou nacional, em cada um de seus setores, é tomar como referência o principal resultado da ECO/92, discutido e negociado exaustivamente entre os países presentes no evento. Trata-se da Agenda 21, documento com quarenta capítulos, voltado para o futuro.
Um problema para a gestão
ambiental descentralizada é a baixa capacidade local de resistir a pressões
econômicas e políticas. Prefeitos e administradores locais, às voltas com
limitações orçamentárias e com a necessidade de gerar receitas e rendas, são
seduzidos pelas promessas de quem acena com empreendimentos de “desenvolvimento
econômico” local. Assim, tornam-se pouco propensos a adotar critérios
ambientais rigorosos, a não ser quando pressionados uma sociedade civil forte e
capaz de se contrapor às pressões dos setores econômicos mais organizados.
Por razões econômicas e
operacionais, culturais e sociais, o fortalecimento do poder local constitui
processo desejável para que os municípios participem de forma efetiva de
decisões que afetam seu futuro. A capacitação, a formação de cultura
ecologizada e o provimento de conhecimento científico facilitam com que o nível
local atue sobre atividades que tenham impacto estritamente local, aliviando a
sobrecarga de demandas sobre Estados ou sobre os órgãos federais.
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