Maurício Andrés Ribeiro (*)
O gestor ambiental público frequentemente
se depara com adversários poderosos dentro dos governos: num momento é a área
da agricultura que adota práticas destrutivas do ambiente natural; ora são os órgãos
públicos de infraestrutura, que pressionam por agir fora dos controles ambientais;
em outra ocasião são bancos de fomento econômico, ao financiarem atividades
predatórias e tornarem inócuos os esforços da fiscalização ambiental. Tais situações se repetem nos governos nacionais,
estaduais ou locais.
Governos não são
monolíticos. Cada uma das áreas setoriais recebe influências e pressões muitas
vezes contraditórias e em direções divergentes. Áreas setoriais nos governos acostumadas a operar com ampla liberdade,
com visão de curto prazo e em busca de ganhos imediatos, resistem à perda de
liberdade imposta por controles e limites ambientais.
O órgão ambiental, caso atue de modo isolado, não tem
força para contrapor-se a tais interesses poderosos. Trava batalha por vezes
quixotesca, nada contra a corrente, na contramão de cultura e práticas
dominantes. Precisa forjar alianças na
sociedade, na mídia, com organizações sociais, com segmentos empresariais
esclarecidos, fora e dentro dos governos; precisa contar com o respaldo mais
amplo do governante – presidente, governador, prefeito – para não ser
enfraquecido e manter sua capacidade de fazer valer os critérios ecológicos.
Motivações para a ecologizar a administração e o
governo podem partir de várias origens. Podem-se fazer a partir de pressões de
fora para dentro, das organizações da sociedade civil, da imprensa, do
Ministério Publico. Podem vir de cima para baixo, a exemplo das pressões
internacionais e sanções para quem não cumpre pactos e tratados; de baixo para
cima, a partir de pressão da sociedade sobre os governantes. Lateralmente,
quando um setor prejudica outro com suas ações, sendo necessário harmonizá-los,
como no caso do uso múltiplo das águas e da necessidade de repartir o acesso dos
diversos usuários a esse recurso natural. De uma esfera de poder para a outra,
a exemplo de quando o poder executivo é levado a cumprir decisões judiciais ou
a celebrar termos de ajuste de conduta com o Ministério Público.
Essa motivação também pode partir de dentro para fora,
com o aprimoramento da consciência ecológica dos governantes, de sua formação,
educação e internalização de valores. Nesse caso, há um pré-requisito: os gestores públicos
e tomadores de decisão precisam ter ciência e consciência ecológica. Mas existe
um déficit nesse campo, pois poucos gestores públicos incorporaram em sua
formação a consciência ecológica. Ainda é fragmentada e deficiente a formação
ecológica em universidades e nas escolas de governo e de administração.
Para ecologizar a gestão pública, precisa existir
capacidade de articulação e de coordenação, autoridade para induzir a
colaboração e para produzir a convergência de finalidades e objetivos. A
articulação intersetorial e o estabelecimento de compromissos, envolvimentos e
mobilização de todas e cada uma das áreas dos governos é forma de exercitar a
ecologização governamental. Nesse campo os conselhos, comitês e órgãos
colegiados têm relevante papel integrador.
A
ecologização da administração pública leva o tema ambiental a ser internalizado
em cada setor de atividades: agricultura, indústria, saneamento, habitação,
obras públicas, transportes, uso do solo, lazer e turismo, ação social,
educação, cultura, saúde, segurança e defesa civil, entre outras.
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