terça-feira, 5 de junho de 2018

Sobre a cosmovisão indiana




A cosmovisão indiana compreende o ser humano integral como composto por corpo, mente, emoções, alma e espírito e não apenas como um homo sapiens ou um homo economicus.

A cosmovisão indiana sacraliza bichos, plantas, rios, numa perspectiva politeísta bem próxima da natureza e não reduz o mundo a um conjunto de recursos naturais a serem transformados, consumidos e descartados.
A cosmovisão indiana inclui várias encarnações e várias vidas sucessivas, karmas de vidas passadas, ações que provocam reações a partir da lei do karma.
A cosmovisão indiana concebe as varias eras ou yugas, da era do ouro à era do ferro, num conceito cíclico do tempo muito vasto. um desses ciclos corresponde ao que a ciência concebe como o do big bang até os nossos dias.
A percepção e as atitudes culturais humanas em relação aos animais e à natureza variam ao longo do tempo.  Algumas civilizações tem uma perspectiva antropocêntrica e outras têm uma cosmovisão bio ou ecocêntrica. Para algumas, os animais são coisas e objetos, mercadorias, propriedades dos humanos; para outras, eles são pessoas, para outras ainda, como na tradição hinduísta, bois, macacos, cobras, elefantes e muitos outros são divindades.  Rios também são sacralizados, a exemplo do Ganges.
A Índia inventou e concebeu conceitos, tais como o da não-violência, o do Yoga e as práticas psicológicas da meditação, valiosas para a autotransformação e a auto superação. Atuou como guardiã de qualidades humanas tais como a resiliência, a tolerância para com diferenças, uma cosmovisão que ressalta a unidade humana, a paciência, a inteligência espiritual. A cosmovisão indiana propõe que cada um de nós nessa vida tem seu dharma, sua missão ou tarefa a cumprir.
Trata-se de uma sociedade e cultura que tem uma cosmovisão holística e integral na qual grandes sábios e pensadores souberam compreender de modo abrangente o mundo.
 Sri Aurobindo é um dos mestres que fez uma ponte entre o pensamento ocidental e a cosmovisão indiana.  Ele afirma que “Sabemos que há uma evolução, mas não o que a evolução é; isso permanece ainda como um dos mistérios iniciais da Natureza”. Ele postulava que vivemos uma crise da evolução e não simplesmente uma crise econômica, política, cultural ou civilizatória. Expressou visão integradora: “A vida evolui a partir da Matéria, a Mente, a partir da Vida, porque elas já estão involuidas lá: a Matéria é uma forma da Vida que está velada, a Vida, uma forma de Mente que está velada.” Ele definiu a pessoa humana como um ser em transição: “O homem ocupa a crista da onda evolucionária. Com ele ocorre a passagem de uma evolução não consciente para uma evolução consciente.” (SRI AUROBINDO, 1974).
A unidade humana, que está no centro do pensamento de Sri Aurobindo estende-se aos domínios militar, econômico e administrativo. Ela respeita e valoriza a diversidade (AUROBINDO, 1970). A visão mundialista insere as propostas para a política numa visão cosmopolita da unidade humana, para além do patriotismo, dos interesses de clãs e tribos, étnicos ou nacionais.  Ela expressa a necessidade de unidade política humana e de uma cosmovisão ampliada para compreender os tempos em que vivemos. Insere a história humana no ciclo muito mais vasto da história natural. 
A cosmovisão indiana expressa uma visão cíclica da evolução. A descrição mitológica contida no Vishnu purana, escritura hindu referente ao deus da preservação, Vishnu, corresponde à descrição científica ocidental do big-bang, da dilatação do Sol e sua transformação, daqui a alguns bilhões de anos, em uma estrela gigante vermelha, quando seu calor envolverá a Terra. A moderna explicação cientifica para a origem do universo guarda alguma similaridade com aquilo que os antigos sábios indianos intuíram há milênios ao formularem essa cosmovisão abrangente.
“No fim de mil períodos de quatro idades, que completam um dia de Brahma, a Terra está quase exausta; então Vishnu assume o caráter de Destruidor (Shiva) e volta a reunir todas as criaturas em si mesmo. Entra nos Sete Raios do Sol e absorve todas as águas do globo, faz evaporar a umidade, secando toda a Terra. Alimentados com esta umidade, os Sete Raios solares se convertem em sete sóis por dilatação e, finalmente, põem fogo no mundo. Hari, o destruidor de todas as coisas, consome por último a Terra.”


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