sexta-feira, 22 de março de 2019

O princípio da cooperação

Maurício Andrés Ribeiro


A cooperação pode ser benéfica para todos.
Cooperar e competir são dois tipos de relações entre pessoas, organizações, empresas,  países.
No meio natural as relações ecológicas variam da parceria e cooperação até o antagonismo e competição. Simbiose e comensalismo são relações em que os organismos atuam em conjunto para proveito mútuo, nos  quais ambos os organismos recebem benefícios. Simbiose implica  adaptação mútua de um organismo a outro, cooperação, convivência, co-evolução do ser em seu ambiente. São desarmônicas interações como a antibiose (princípio usado nos antibióticos, que matam ou inibem certos organismos vivos), a predação, o canibalismo, o vampirismo, o esclavagismo, o parasitismo.
O físico Fritjof Capra (1993), autor de O ponto de mutação, escreveu que "Quanto mais estudamos o mundo vivo, mais nos apercebemos de que a tendência para a associação, para o estabelecimento de vínculos, para viver uns dentro de outros e cooperar é uma característica essencial dos organismos vivos. O estudo detalhado dos ecossistemas nestas últimas décadas mostrou com muita clareza que a maioria das relações entre organismos vivos é essencialmente cooperativa, e elas são caracterizadas pela coexistência e a interdependência, e simbióticas em vários graus. Embora haja competição, esta ocorre usualmente num contexto mais amplo de cooperação, de modo que o sistema maior é mantido em equilíbrio. Até mesmo as relações predador-presa, destrutivas para a presa imediata, são geralmente benéficas para ambas as espécies. Esse insight está em profundo contraste com os pontos de vista dos darwinistas sociais, que viam a vida exclusivamente em termos de competição, luta e destruição. A concepção que eles tinham da natureza ajudou a criar uma filosofia que legitima a exploração e o impacto desastroso de nossa tecnologia sobre o meio ambiente natural. Darwin propôs uma teoria da evolução em que a unidade de sobrevivência era a espécie, a subespécie ou algum outro componente básico da estrutura do mundo biológico. Mas, um século mais tarde, ficou bem claro que a unidade de sobrevivência não é qualquer uma dessas unidades. O que sobrevive é o organismo-em-seu-meio-ambiente." Nessa mesma linha,  Peter Kropotkin também já escrevera sobre a cooperação e a ajuda  mutua na natureza.
O Homo sapiens mantém relações ecológicas e interações com os demais de sua espécie, com outras espécies e com o planeta que o hospeda. As forças ou energias que movem a ação humana podem ser a ambição de poder, de desejo de enriquecimento material, de vaidade e de obtenção do sucesso, de interesses egoístas; ou podem ser interesses altruístas, de luta pelo bem comum, público e coletivo, com sentido de serviço e de solidariedade social e ambiental mais amplo e generoso.
No campo das relações políticas, sociais, econômicas, afetivas as relações negativas podem ser de guerra, de confronto e de conflito violento ou não violento, de dominação, de submissão, de dependência, de manipulação; na interação positiva ou harmônica ressaltam as relações de diálogo, de cooperação e parceria, de enriquecimento mútuo, de aliança. Lester Smith (1975) em Intelligence came first escreveu que “A inteligência humana pode ser sua destruição ou sua salvação. Aliada à sua natureza mais básica, ela leva a comportamento egoísta, antissocial; aliada a suas qualidades espirituais, ela leva ao altruísmo, cooperação e unidade.”
Uma das muitas percepções sobre nossa espécie, o Homo honestus é um primata que coopera e que se comporta com valores éticos.
O Princípio da cooperação ou da solidariedade considera que diante de um problema ou desafio grandioso, a união e a soma de forças e convergência de ações são um modo eficaz de reduzir riscos e danos potenciais para os indivíduos e as comunidades. O princípio da solidariedade é a base para gerenciar os recursos naturais. Solidariedade para com a atual e com as futuras gerações que virão habitar esse planeta e solidariedade para com as demais formas de vida.
Na área da ecologia e do clima, há significativa aplicação do princípio da cooperação  tanto em escala internacional (cooperação técnica e científica, intercâmbio de conhecimentos, trocas culturais etc.) como em escala local quando, por exemplo acontece uma tragédia e as pessoas são induzidas a cooperar. A aplicação do princípio da cooperação implica transformar valores,  e influi nos modos de construir e organizar o espaço e a sociedade. Envolve o cultivo de atitude de  atenção, de abertura ao diálogo, solidariedade,  compaixão,  paciência,  tolerância,  importância da cooperação e das relações ecológicas harmônicas, o respeito à diferença, para criar situações que favoreçam a vida humana e as demais formas de vida.
A água é fio condutor da convivência regional, pois supõe a solidariedade entre cidadãos de uma bacia. A água é um dos elementos da natureza sobre o qual acontecem relaçoes harmônicas e desarmônicas. Numa bacia hidrográfica, ao longo de um  rio e de seus afluentes,  é crucial a cooperação entre as comunidades que precisam usá-lo para finalidades múltiplas.  Em torno da água se desenvolvem vários projetos de cooperação técnica e cientifica internacional que compartilham conhecimentos  necessários para se lidar com a água em bacias hidrográficas transfronteiriças.  Uma abordagem transdisciplinar ajuda a se alcançar a cooperação. Reflexões, experiencias e alianças em favor da vida compõem o conteúdo de publicação sobre Água e cooperação.[1]
Em torno da água se desenvolvem muitas possibilidades de cooperação.
A partir da água dos rios, lagos e áreas úmidas catalisam-se processos de ordenamento territorial cooperativos.
A internet e as  redes de cooperação e de intercâmbio de conhecimentos oferecem ferramentas contemporâneas que permitem aprofundar a cooperação e a participação da sociedade, das organizações públicas e privadas e de indivíduos na tomada de decisões sobre alocação de água e outros temas ambientais.
 


[1] Água e cooperação . Sergio Ribeiro, Vera Catalão e Bené Fonteles (org.) Brasília 2014.

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